FIFA

Pressão por Copa 'inchada' teve a adesão de Campinas

Ex-prefeito Hélio de Oliveira Santos apresentou projeto para cidade ser sede e construir arena

Cecília Polycarpo
cecília.cebalho@rac.com.br
28/05/2014 às 21:05.
Atualizado em 24/04/2022 às 11:54

Campinas foi uma das cidades que fizeram campanha junto ao governo brasileiro e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entre 2007 e 2008, para ser incluída entre os municípios sedes da Copa do Mundo. Ao todo, a governo federal chegou a propor a construção de 17 estádios para jogos do Mundial, entre eles um complexo na cidade. A informação de que a União queria uma competição duas vezes maior do que a sugerida pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) foi revelada pelo presidente da Federação, Joseph Blatter, em entrevista ao jornal suíço Le Temps, publicada no último sábado. "No início, eles (brasileiros) queriam construir 17 estádios", disse Blatter. Segundo ele, a Fifa conseguiu convencer o País a reduzir esse número para 12 - já sabendo que a logística para seleções e deslocamento de torcedores seria difícil o suficiente entre uma dúzia de estádios. Mas o presidente não informou quais seriam as cidades. O ex-prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT) confirmou que encabeçou o projeto de trazer a Copa para Campinas, e entregou nas mãos do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, um caderno com a descrição da infraestrutura da cidade e das obras que seriam feitas para abrigar jogos da competição. Arena esportiva A campanha tinha apoio do ex-ministro dos Esportes Orlando Silva (PCdoB). Segundo Hélio, Teixeira teria dito que o município estaria entre os cinco mais aptos para receber jogos do Mundial. O projeto do ex-prefeito incluía uma arena esportiva, com um centro de convenções e outro de compras, que seriam construídos em terreno próximo às rodovias Santos Dumont (SP-75), Anhanguera (SP-330) e D. Pedro I (SP-65). Denominado de Polo Anhanguera, o pré-projeto foi apresentado em reunião com diversas construtoras de grande porte para conseguir patrocínio. O valor estimado do empreendimento, porém, não foi revelado. A ideia de fazer uma parceria público privada (PPP) foi deixada de lado pela Prefeitura quando a Federação anunciou que apenas capitais seriam sedes da Copa, em julho de 2007. Defesa "Foi um critério estranho, porque na Alemanha e na África do Sul, cidades que não são capitais abrigaram jogos", disse. A arena, depois dos jogos, serviria como um grande estádio para a Ponte Preta e Guarani, como o Giuseppe Meazza, em Milão, na Itália, que abriga jogos tanto do Internazionale como do Milan. Ainda de acordo com Hélio, o governo do Estado de São Paulo não adotou uma postura crítica para ter mais uma cidade como sede. O ex-mandatário disse também que seu objetivo em trazer o Mundial era deixar um "legado" para Campinas, com obras de infraestrutura, como a construção do veículo leve sobre trilhos (VLT), de casas populares próximas ao complexo esportivo, estação de tratamento de esgoto para o local, entre outras coisas. "Nós tínhamos todos os critérios necessários. A vinda de Portugal para cá reforça que Campinas tinha infraestrutura para ser sede da Copa", completou. Local O ex-secretário de Assuntos Jurídicos e de Cooperação dos Assuntos de Segurança Pública Carlos Henrique Pinto afirmou que a arena seria às margens do Anel Viário Prefeito Magalhães Teixeira, na área do Swiss Park. "Toda a ação foi mediada pelo Ministério dos Esportes e pelo ex-prefeito. O projeto era complexo e, com a negativa da Fifa, nem chegou a passar pelo Jurídico da Administração" , disse. Ao insistir para distribuir a Copa em 12 sedes, o governo federal a tornou mais cara da história e ainda criou problemas logísticos para seleções e torcedores. O Estado de São Paulo publicou reportagem no último sábado revelando que Jerome Valcke, secretário-geral da Fifa, chegou a alertar que os torcedores seriam os que mais sofreriam com a Copa, diante do desafio de terem de viajar pelo País. A ideia da Federação era de que Brasil tivesse entre oito e dez estádios para sediar o Mundial. Comitiva Em 2007, no momento que a Fifa anunciou o Brasil como sede da Copa, estavam em Zurique os seguintes governadores: Eduardo Braga (AM), Alcides Rodrigues (GO), Ana Júlia Carepa (PA), José Serra (SP), Sérgio Cabral (RJ), Aécio Neves (MG), Binho Marques (AC), José Roberto Arruda (DF), Jacques Wagner (BA), Cid Gomes (CE), Blairo Maggi (MT) e Eduardo Campos (PE). O arranjo político foi usado por Blatter na reportagem do Le Temps para justificar cidades como Manaus (AM) na Copa. Não foi uma decisão da Fifa de jogar em Manaus, mas do governo brasileiro" , insistiu. Mas ele apontou que o prefeito de Manaus o garantiu que, depois da Copa, seu estádio será utilizado para outras atividades. "Ele não será um elefante branco" , completou Blatter na matéria. Candidatura Campinas oficializou em maio de 2007 a sua candidatura para ser uma das sedes da Copa do Mundo, caso o Brasil, candidato único à época, fosse confirmado como organizador da competição. A inscrição aconteceu durante o Seminário Brasil 2014, em um hotel no Rio de Janeiro, que reuniu representantes de municípios de 18 estados e Distrito Federal, todos interessados em receber o evento. As cidades candidatas tiveram um mês para entregar os seus projetos à CBF. Depois de dois meses, a entidade encaminhou o conteúdo para a Fifa, que enviou uma comissão, em setembro, para analisar o potencial das candidatas. Mas a cidade foi descartada em julho. Pressão continuou Na oficialização, o o ex-prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT) acompanhou o ministro do Esporte, Orlando Silva, durante o Seminário e disse que estava otimista com a possibilidade de Campinas ser escolhida como uma das sedes. Mas não quis comentar quando Campinas foi descartada. Porém, mesmo depois de a cidade ter sido ignorada, a pressão para incluí-la no grupo de sedes continuou. Em dezembro de 2007, Silva disse ao Correio que o município continuava na disputa. Segundo ele, se a Fifa decidisse que o Estado teria mais uma cidade para receber os jogos, além da Capital, Campinas era a favorita. "O Estado de São Paulo, pela força que tem, tem as condições para receber dois espaços e Campinas aparece como a cidade favorita porque tem dois clubes e muita tradição no esporte" , disse o ministro à época.

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