Os apoiadores defenderam a reforma da Previdência, o pacote anticrime, o porte e posse de armas, além de ministros do governo
Atos em apoio ao governo de Jair Bolsonaro ocorreram no último em pelo menos 156 cidades do País. Os apoiadores defenderam a reforma da Previdência, o pacote anticrime, o porte e posse de armas, além de ministros do governo como o da Justiça, Sergio Moro, e o da Economia, Paulo Guedes. Em Campinas, segundo a Polícia Militar, 3 mil pessoas se reuniram no Largo do Rosário — de acordo com os organizadores foram 5 mil. Os manifestantes campineiros começaram a se reunir no Centro logo às 9h, vestidos de verde e amarelo e com bandeiras e faixas de apoio ao presidente. Um carro de som puxou o ato com discursos e vídeos de apoio. A manifestação foi pacífica. Segundo o ativista e fundador Átila Ribeiro, o Movimento Direita Campinas tem um viés contra qualquer tipo de conchavos. “Nosso objetivo é mostrar para a bancada política que os 57 milhões de brasileiros que votou no Presidente Jair Bolsonaro está cansado da velha política do toma lá dá cá, queremos sim o Regime da Previdência e o pacote Anti-crime do ministro Sérgio Moro”, comentou Ribeiro. “O povo brasileiro votou em Bolsonaro por conta de suas propostas conservadoras e economicamente liberais. O que está acontecendo hoje é que os três poderes, especialmente, neste caso, legislativo e executivo não estão ouvindo os anseios do povo que ele mesmo elegeu.” O movimento acredita que a nova previdência salva a economia do País, atrai bilhões em investimentos e gera milhões de empregos; o pacote anticrime protege a vida das pessoas e ataca a corrupção; a reforma administrativa enxuga a máquina, golpeia a fisiologia e abre caminho para um Estado menor e mais eficiente. Defendem ainda que além das três reformas, existe uma demanda do povo: a limpeza do Poder Judiciário, com a CPI da Lava Toga. País As mobilizações mais significativas foram registradas em São Paulo e no Rio. A pauta dos atos foi marcada também por ataques ao Congresso, personificados no presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao Supremo Tribunal Federal (STF). O atos foram classificados por Bolsonaro como espontâneos e como um "recado àqueles que teimam com velhas práticas, de não deixar que este povo se liberte". Na interpretação do Palácio do Planalto, o saldo foi positivo. Interlocutores do presidente avaliaram que embora não tenham sido grandiosos, os eventos nas ruas não podem ser desconsiderados e mostraram que parte da população apoia a maneira como Bolsonaro tem conduzido sua relação com o Congresso. O apoio a pautas defendidas pelo governo, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, também foi considerado positivo por auxiliares de Bolsonaro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, não quis comentar as manifestações. Mas, em conversa com um interlocutor, ele disse que esse tipo de apoio popular à reforma da Previdência é inédito e um sinal de que "as coisas de fato mudaram" no País. Centrão Representantes do Parlamento, porém, reagiram às cenas nas quais Maia e o Centrão — grupo que tem em seu núcleo duro o DEM, PP, PL (ex-PR), PRB e Solidariedade e reúne aproximadamente 200 deputados - aparecem como alvo. Parlamentares avaliaram que a hostilidade nas ruas acirra e isola ainda mais o governo no Congresso. Um dos principais nomes do Centrão, o líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA), divulgou nota na qual condena o "radicalismo e a beligerância" e afirma que "ninguém governa sozinho". (com Agências) População se mostrou consistente, diz Bolsonaro O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a demonstrar apoio às manifestações ocorridas no domingo, em defesa de pautas de seu governo. Pelo Twitter, o presidente disse que as manifestações foram "expressivas" e favoráveis a reformas consideradas impopulares. "A população mostrou-se extremamente consciente. A peculiaridade deste evento torna injustificável qualquer tentativa de minimizá-lo", escreveu o presidente. Para Bolsonaro, a peculiaridade das manifestações consiste no fato de que "não há no País outro movimento com estrutura tão sólida e organizada quanto a esquerda" e que, apesar disso, os protestos de domingo conseguiram "o mesmo espontaneamente, inspirando-se apenas no bem comum". O presidente ainda ressaltou que as manifestações tiveram "a desinformação e a falta de apoio de diversos setores" como adversárias, o que, na sua opinião, dá caráter "extremamente significativo e histórico" à mobilização. "Não podemos ignorar", encerrou Bolsonaro. O presidente defendeu um pacto entre os Três Poderes para a aprovação das reformas que destravem a economia e promovam o desenvolvimento do país. (Estadão Conteúdo) Filósofo avalia as consequências das manifestações As manifestações do último domingo em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) mostram que ele confessou que não tem a totalidade da opinião pública e abdicou do seu título de presidente de todos os brasileiros, na avaliação do o filósofo Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os atos não conseguiram fortalecê-lo e nem enfraquecê-lo, porque os que foram para as ruas são seus próprios partidários, mas deixaram alguns sinais que se seguiram a uma postagem do presidente, e que não é de sua autoria, de que o País é ingovernável. "Quando um cidadão razoavelmente informado lê que o presidente está endossando que o País é ingovernável, só pode ter uma resposta: um golpe de Estado." Correio Popular - O presidente Bolsonaro saiu fortalecido com as manifestações ocorridas no domingo? Roberto Romano - Não sai mais fortalecido e nem menos fortalecido. Ele conseguiu levar para as ruas uma parcela não muito significativa de seus próprios partidários. Se comparar as manifestações desde 2013 até agora, inclusive as que foram favoráveis a ele, se vê que a de ontem (domingo) definiu uma parcela não insignificante e não totalmente numerosa para lhe dar força junto às instituições e à opinião pública. No meu entender, ele deu um passo muito perigoso, no sentido de que quando ele convoca essas multidões para apoiá-lo, ele de certo modo está confessando que não tem a opinião pública brasileira na sua totalidade. Ele abdica do seu título que é o de presidente de todos os brasileiros. Na sua opinião, por que ele fez essa convocação? Vi um presidente da República que convoca multidões para desestabilizar outras instituições políticas, voltou atrás, mas voltou atrás e ficou evidente que era apenas uma manobra, e ele retirou de si mesmo a prerrogativa de ser presidente de todos os brasileiros. De certo modo ele acentuou aquela separação de quem é a favor do governo e de quem é contra e com substanciais prejuízos porque, por exemplo, o general Mourão voltou a ser atacado. Isso quer dizer que aumentou o saldo negativo junto aos militares. Ele não conseguiu levar para as ruas essa massa que estava esperada. A avaliação de integrantes do governo é que não teve o resultado esperado e com isso aumentou o desgastes com o Congresso Nacional e com o Supremo Tribunal Federal (STF). O senhor acredita que isso acirra ainda mais os embates com o Congresso? Os xingatórios, os insultos que foram dirigidos ao presidente do Senado e da Câmara certamente vão resultar no mínimo em uma tensão que devia ter sido abandonada há algum tempo. Ele está apelando para uma democracia direta, ruas e Presidência, que na verdade não é direta, mas apenas dele com seus seguidores mais incondicionais. Foi um erro estratégico? Quando se convoca multidões, o resultado pode ser o mais inesperado possível. Basta lembrar quando Fernando Collor de Mello convocou as multidões para defendê-lo e as multidões foram às ruas vestidas de preto. Ele está fazendo isso. Agora ele conseguiu que os seus incondicionais fossem às ruas, mas aumentando o desemprego, aumentando a tensão com o Congresso, aumentando essa faixa ideológica, pode alterar o apoio dos incondicionais. Faltou prudência, trato e experiência com multidões e faltou, sobretudo, um respeito pelo coletivo brasileiro. No decreto das armas, boa parte dessa bancada da Bíblia caiu fora e está resistindo. Mas ele não desconhece os meandros da política? Ele deveria encontrar umas pessoas que lhe recomendassem prudência e lhe ensinassem um pouco a arte de negociar. Ele passou 27 anos no Congresso Nacional. Por que ele não tem esse know how de tratar com o Congresso? Porque ele era da bancada do baixo clero, com uma produção pífia. Ele não desenvolveu a arte de ser convencer os colegas sobre projetos de relevância nacional. Ele preferiu a estridência da forma ideológica, que é irresponsável, porque você xinga, mas não propõe coisa nenhuma. Ele se acostumou a não responsabilidade pelo que ele fala e pelo que ele propõe. O que se pode vislumbrar no curto prazo? Nesse decreto das armas, se o STF disser que é inconstitucional, ele vai mandar invadir ou fechar o STF. Não, né. Ai ele se torna cada vez mais dependente dos militares que estão no governo, sendo que esses militares não estão sendo tratados com o respeito devido. Ele está minando esse apoio possível que podia ter dos militares. (Maria Teresa Costa/AAN)