O presidente do CNE, Luiz Roberto Liza Curi: "A educação brasileira ajuda o atraso e as universidades podem resolver o problema quando acolhem alunos de escola pública" (Alessandro Torres)
O presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE), Luiz Roberto Liza Curi, defendeu a popularização dos cursos de Medicina para que se tornem mais acolhedores com estudantes oriundos de escolas públicas. A afirmação foi dada na quarta-feira (13) durante uma palestra a professores dos cursos de Medicina e Odontologia de uma universidade de Campinas. No encontro, ele também destacou os desafios e perspectivas do ensino médico e o papel da educação básica na formação de novos profissionais.
"A educação brasileira ajuda o atraso e as universidades podem resolver o problema quando acolhem alunos de escola pública", disse. Curi é sociólogo e doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele também já foi secretário de Cultura, Ciência e Tecnologia de Campinas, na década de 90, mas hoje atua junto ao Conselho na construção de políticas públicas que fortaleçam a educação.
Curi apresentou um panorama da conjuntura educacional do país e não se furtou a comentar os péssimos indicadores do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgados na semana passada, que revelaram que menos de 50% dos alunos brasileiros conseguiram atingir o nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências. O presidente do CNE chamou os indicadores de "tragédia" e refletiu sobre essa defasagem a partir de uma ótica de valorização dos primeiros anos da alfabetização.
"A formação da educação básica brasileira é a portadora do futuro desse país. Ninguém nasce no vestibular. Ninguém nasce no doutorado. Ninguém nasce na sala de aula. As pessoas vêm de trás. Hoje, os excelentes médicos que o Brasil tem vieram da escola básica. Então é muito importante que a escola básica receba esse reforço institucional. Desde janeiro as políticas do novo ministro buscam atender isso com prioridade absoluta", destacou.
Entre essas ações adotadas pelo governo federal estão o programa Escola em Tempo Integral, reconstrução da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) e reordenamento do Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb), instrumento utilizado para estimular as mudanças e as transformações do ambiente escolar.
Curi também chamou a atenção para números que apontam que a evasão escolar, na escola básica, chega a 500 mil casos por ano, e geralmente por pessoas de classes mais baixa.
"Mais da metade não continua os estudos. Dos que entram no ensino médio, talvez 25% vão para a educação superior completa, pública, particular ou à distância. Então, são dados arrasadores, ainda mais diante de um país que tem cerca de 90% dos jovens no ensino público", enfatizou.
Esse trabalho com a escola pública e infantil deve garantir, na visão de Curi, uma formação multidisciplinar, que inclua a tolerância, valores emocionais e afetivos, a fim de que a educação possa ser percebida como um processo a longo prazo e da qual o indivíduo se sinta empoderado e pertencente a ele.
Em relação ao curso médico, o presidente do CNE observou que a área é uma das mais caras do país, por isso precisa de um cuidado curricular que perceba as necessidades do indivíduo e seja, sobretudo, humano.
"A Medicina está em expansão e em transformação no país, mas não é possível que essa expansão sirva a poucos. A expansão da escola médica, por exemplo, precisa servir o país, a sociedade brasileira. Para isso, precisa de currículos adequados, que levem em consideração o desenvolvimento humano. Ela pode ser uma atividade pública ou privada, mas precisa ter esses cuidados".