EM BRASÍLIA

Presidente do CD-RMC pede o Trem-Bala até Campinas

Gustavo Reis, que preside o Conselho, discute projeto com o ministro Renan Filho

Ronnie Romanini/ [email protected]
03/03/2023 às 08:42.
Atualizado em 03/03/2023 às 08:42
Prefeito e presidente da CD-RMC, Gustavo Reis, entregou o documento com solicitação ao ministro Renan Filho; presidente do MDB, Baleia Rossi, participou do encontro (Divulgação)

Prefeito e presidente da CD-RMC, Gustavo Reis, entregou o documento com solicitação ao ministro Renan Filho; presidente do MDB, Baleia Rossi, participou do encontro (Divulgação)

O prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), também presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (CD-RMC), que reúne os prefeitos da região, se reuniu com o Ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), e entregou um ofício em mãos solicitando a inclusão de Campinas no projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV). No encontro, que teve a presença do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, o ministro reforçou que o governo federal não tem interesse em um projeto dessa magnitude nesse momento, o que torna o projeto mais difícil de ser viabilizado. Entretanto, Renan Filho se comprometeu a incluir Campinas em um eventual projeto que envolva o governo federal, após receber um ofício de solitação e conversar com o prefeito Gustavo Reis.

"Em função das matérias do Correio Popular, o meu pedido foi para que se o tema voltar [a ser debatido] dentro do Governo Federal, que é imprescindível que a cidade de Campinas e a RMC façam parte do trajeto (...) O ministro disse que o Trem-Bala não está na pauta do Governo Federal, mas que se isso voltar à pauta, Campinas estará incluída". 

No ofício, Gustavo lembrou que a RMC é a segunda maior do Estado de São Paulo e tem uma população maior do que a de alguns países, como o Uruguai. A RMC conta com cerca de 3,5 milhões de habitantes divididos em 20 municípios "extremamente conurbados". 

O presidente do CD-RMC também criticou erros que foram cometidos no passado e que dificultam uma reversão da situação no presente. 

"O TAV é um sonho de uma noite de verão. Falo isso com tristeza. O Juscelino Kubitschek na década de 50, infelizmente, fez uma escolha de modal equivocada. Ele escolheu para o Brasil o crescimento por meio de rodovias, pelo transporte rodoviário ao invés do ferroviário. Hoje o Brasil paga um alto custo logístico por essa escolha errada feita no passado. Poderíamos ter trens circulando no País, que tem condições continentais, transportando toda a mercadoria..."

Ao tratar como "Sonho de uma noite de verão" o projeto do TAV, Gustavo Reis apontou dois pontos: o primeiro, as duas grandes oportunidades perdidas na década passada, quando o Brasil sediou dois dos maiores eventos do mundo, a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e as Olimpíadas do Rio em 2016. O momento econômico e político também contribuíam para a expectativa positiva com o Trem-Bala à época. 

"O projeto não se viabilizou pelo custo alto, pela falta de interessados e não houve sequência em função de tudo isso. Então, quando digo isso, é com tristeza. É quase impossível sair [o novo projeto] neste momento se não houver o interesse público, porque ele é fundamental."

Outro ponto apresentado por Gustavo Reis é a proximidade da implementação do Trem Intercidades (TIC) e o receio de que outro projeto, mesmo que previsto para ser finalizado na próxima década, pode prejudicar interessados em investir no TIC. 

"Eu estive com o governador Tarcísio (de Freitas - Republicanos) no mesmo dia em que me encontrei com o Renan, na quarta-feira, e ele me disse: 'Gustavo, vamos focar no Trem Intercidades'. E, de fato, o TIC é uma realidade. São R$ 12 bilhões em investimentos e o poder público vai colocar a maior parte do montante, aí sim o projeto para de pé porque o poder público vai investir. O ótimo é inimigo do bom. Se não dá para ter um Trem de Alta Velocidade, vamos ter um Trem Intercidades." 

Sobre o TIC, o prefeito de Jaguariúna acrescentou que um grande problema que prejudica os moradores da RMC é a falta de uma ligação direta de Campinas para São Paulo além das Rodovias, que frequentemente estão extremamente congestionadas. Para ele, o TIC é a possibilidade de pensar praticamente e resolver um problema existente há décadas. 

Na quinta-feira da semana passada, dia 23, o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos) ressaltou os esforços da Administração Municipal junto ao Governo do Estado de São Paulo para a implantação do Trem Intercidades (TIC), ligando Campinas a São Paulo. O edital de licitação do TIC deve ser publicado ainda neste semestre, de acordo com a previsão do Estado. A avaliação é que no curto e médio prazo, o TIC é o projeto mais viável e que beneficiaria milhares de pessoas que transitam diretamente entre Campinas e São Paulo. "É um projeto que conta com total apoio e entusiasmo do governador Tarcísio de Freitas". 

Trem Intercidades 

Ao participar na quarta-feira do início de construção de uma empresa em Paulínia, o governador Tarcísio de Freitas anunciou que até junho próximo será lançada a licitação pública para a implantação do Trem Intercidades (TIC), ligando Campinas a São Paulo. A obra faz parte de um pacote de 15 projetos que serão desenvolvidos através de Parcerias Público-Privadas (PPPs), através dos quais o governo espera gerar investimentos de R$ 180,17 bilhões em todo o Estado. 

O TIC é uma promessa que existe há vários anos, sem nunca ter saído do papel. Agora, Tarcísio espera que o leilão defina a melhor proposta até novembro e o contrato com a vencedora seja assinado 30 dias depois. 

Tarcísio explicou que uma parte do investimento do TIC será feita pelo governo paulista para garantir que a tarifa cobrada terá "valor equilibrado". Porém, ele não detalhou de quanto será essa participação. "A gente está trabalhando na modelagem. Em breve, a gente vai divulgar isso. Obviamente, se trata de uma Parceria PúblicoPrivada, ou seja, não é aquele negócio que ficaria de pé só com investimento privado. O Estado vai aportar recursos e esse aporte é também para tornar a tarifa algo que seja socialmente aceito, socialmente possível", justificou.

Desde o início da discussão do TIC, o governo justificou que um investimento exclusivamente privado poderia inviabilizar a obra, uma vez que a empresa vencedora seria remunerada apenas pelo valor da passagem, que poderia ser muito alto. A previsão é que sejam transportados 60 mil passageiros por dia, com o valor atualizado do investimento sendo de R$ 12,7 bilhões. 

O TIC terá três modalidades de serviço: um trem expresso ligando São Paulo, Jundiaí e Campinas, que fará o percurso de 100 quilômetros em 60 minutos. Uma segunda opção seria uma composição intermetropolitana com paradas em algumas estações. A terceira opção é o trem chamado parador que contemplará as estações de Valinhos, Vinhedo, Louveira, Franco da Rocha, Várzea Paulista e Francisco Morato, onde será interligada à linha 7 Rubi da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até São Paulo. O trajeto será feito em cerca de duas horas. Uma dessas linhas poderá ser estendida até Americana. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), que já foi governador de São Paulo, defendeu a integração de Campinas ao projeto do Trem de Alta Velocidade, mas disse que o TIC é uma alternativa "mais viável", ligando Campinas e o Aeroporto Internacional de Viracopos a São Paulo. 

O vice-presidente disse que essa opção pode ser mais factível porque o governo federal pode ceder a área lindeira ao trem de carga, evitando o custo de instalação de uma nova linha férrea. "Se a CPTM comprar trem, já imediatamente colocar o trem de passageiro, o trem pode operar na própria linha do trem de carga", justifica. 

De acordo com ele, caso haja interesse em implantar uma nova malha ferroviária, ela poderá ser construída ao lado da linha existente. "Não precisaria, então, de desapropriação. O governo federal cederia essa área. É isso que viabilizaria o projeto, porque é muito cara desapropriação em região metropolitana", disse. Para o ministro, a implantação do trem-bala Campinas-São Paulo exigiria muita desapropriação por conta de uma linha praticamente reta, no máximo com curvas muito leves.

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