Empresa já atrasou o salário dos funcionários duas vezes este ano; caso não pague, será substituída por segunda colocada no edital
Teatro de Bonecos representou crianças com deficiência durante anúncio do programa em 4 de agosto de 2014, no Salão Vermelho da Prefeitura de Campinas (Fernanda Sunega/Prefeitura de Campinas)
A Prefeitura de Campinas abriu um processo administrativo para acompanhar o contrato com empresa Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape), que gerencia 100 cuidadores de crianças com necessidades especiais em escolas municipais, no programa "Cuidar para Incluir", criado pela Administração. A empresa atrasou o salário dos funcionários duas vezes este ano. A Secretaria de Educação informou que a empresa informou que pagará os débitos até sexta-feira, 5º dia útil do mês. Se o pagamento não for feito, a Prefeitura informou que pode rescindir o contrato e a empresa segunda colocada no edital será chamada.O processo tramita nas Secretaria de Negócios Jurídicos e dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. A empresa informou que não foi comunicada oficialmente sobre a possível rescisão. No ano passado, o Correio Popular noticiou o problema de atraso de salário e de vale-transporte, além da empresa não ter fornecido o cartão do plano de saúde a qual têm direito. Na ocasião, a Administração informara que os repasses à Avape estavam dentro da normalidade.A programa atende 60 escolas do município e abrange 139 alunos, que necessitam de cuidados pessoais especiais durante as atividades no período em que estão na escola como locomoção, higiene, alimentação e outras atividades. O serviço foi implantado através das secretarias municipais de Educação e dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida."O programa não será descontinuado, porque ele é de extrema necessidade para o município. Mas vamos acompanhar essa pagamento e, se houver necessidade, o contrato com a Avape será rescindido" , disse a secretária Emmanuelle Alkmin Leão.A Avape admitiu, por nota, que não realizou o pagamento do salário do 5º dia útil de Fevereiro/15 e do benefício de transporte do período de 09/02 a 04/03 aos profissionais que atuam como cuidadores na cidade de Campinas. Os motivos seriam atrasos em pagamentos de outros parceiros da organização e suspensão da linha de crédito com o Banco do Brasil, ocorrida nas últimas semanas, "inviabilizando qualquer movimentação financeira e comprometendo quase que na totalidade o fluxo de caixa da entidade" . A Avape informou ainda que o pagamento está agendado para a sexta-feira. A distribuição dos cuidadores foi definida pela Prefeitura de Campinas, onde casos de menor complexidade podem ter o cuidador compartilhado, enquanto crianças com uma maior demanda de cuidados com higiene e auxílio na alimentação recebem atendimento exclusivo. Prezamos pelo cuidado das crianças e qualidade do atendimento" . ProtestoAo menos 80 pais participaram na manhã desta quarta-feira (4) de uma manifestação em frente à associação. Eles estão preocupados com uma suposta suspensão no atendimento da entidade, já que o local não recebe o repasse de verba pelo Serviço Único de Saúde (SUS) desde janeiro. O Governo Federal, que é responsável pelo repasse da verba, promete fazer o acerto até amanhã.A instituição atende 198 pacientes entre crianças, jovens e adultos. Desse número, 110 são do convênio. O repasse mensal do SUS é de R$ 157.466,40. Por mês, a despesa é de R$ 249 mil, mas a entidade ainda recebe verbas da Secretaria Municipal de Educação, FEAC, doação e de Imposto de Renda (IR) em menor valor. A coordenadora da entidade, Roseli Cruz Guirão, garante que, por enquanto, o atendimento será mantido mas frisou que a situação é preocupante."Os funcionários precisam de incentivo para trabalhar. Eles também têm seus compromissos para serem honrados. Funcionário sem salário trabalha desmotivado", disse a professora Elaine Almeida, que tem um filho de oito anos e há cinco anos na entidade.A Adacamp é a única entidade na região que presta serviço gratuito a pacientes autistas. No local, as pessoas passam por tratamentos psicoterápicos, têm atendimento com fonoaudiólogos, entre outros. Para conseguir um tratamento similar na rede particular o custo não sairia por menos de R$ 4 mil."A Adacamp é o único local que oferece atendimento gratuito e bom. É difícil conseguir vaga e não podemos perder essa entidade" , disse a carteira Joseane Cláudia da Conceição, que tem filho de 5 anos e há dois anos na entidade.Em nota, a direção do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas, ligado a Secretaria Estadual de Saúde, disse que, devido a renovação do convênio realizado com a entidade, houve um atraso pontual nos repasses realizados pelo órgão à unidade. "Porém, os pagamentos serão normalizados até o final desta semana".Em maio de 2013, a entidade chegou a fechar por dois dias por falta de repasse de verba. Na época, os pais ficaram desesperados."Tem pacientes que ficam agressivos quando é quebrado a rotina deles. Eles chegam a bater nos pais. Dependemos da manutenção deste convênio" , disse a dona de casa Maria Betânia Moreira da Silva, mãe de um garoto de sete anos que está há dois anos na entidade. As informações são de Alenita Ramirez/ Notícia Já