ATÉ 2032

Prefeitura de Campinas quer reduzir em 50% as mortes no trânsito

Medidas para atingir a meta, também recomendada pela ONU, serão detalhadas em dezembro no Plano de Segurança Viária

Cibele Buoro/ [email protected]
28/11/2023 às 09:02.
Atualizado em 28/11/2023 às 09:02
Homem atravessa a rua no ponto considerado mais crítico pela Emdec, próximo ao cruzamento entre a Av. John Boyd Dunlop, Av. Professor Mário Scolari e Rua Josepha Julia Doval de Oliveira (Rodrigo Zanotto)

Homem atravessa a rua no ponto considerado mais crítico pela Emdec, próximo ao cruzamento entre a Av. John Boyd Dunlop, Av. Professor Mário Scolari e Rua Josepha Julia Doval de Oliveira (Rodrigo Zanotto)

A Prefeitura de Campinas prevê reduzir em 50% o número de mortes no trânsito até 2032, informou ao Correio Popular o presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), Vinicius Riverete. As políticas públicas que serão adotadas para alcançar a meta de redução de acidentes fatais no viário do município serão detalhadas no Plano de Segurança Viária (PSV), que será lançado no início de dezembro.

Segundo o presidente da Emdec, o PSV é um projeto “estadista”. A intenção é planejar o futuro da cidade para os próximos dez anos, em alinhamento com o decreto Década de Ação para Segurança Global no Trânsito da Organização das Nações Unidas (ONU). A ONU recomenda aos países que adotem medidas para prevenir as mortes e lesões no trânsito até 2030, com o intuito de diminuir em 50% as ocorrências.

A construção do PSV de Campinas é coordenada pela Emdec e pela Secretaria de Transportes (Setransp), tem o apoio da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global (BIGRS) e atende à Lei Federal nº 13.614/2018, que institui o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans).

A sociedade civil e a comunidade universitária também participaram da construção do documento por meio de uma consulta pública aberta no site da Emdec.

Os eixos temáticos que farão parte do PSV, e que propõem ações de mobilidade urbana e segurança para pedestres, condutores e demais usuários das vias urbanas e rodoviárias do município, são: Gestão e Coordenação (criação de políticas públicas de segurança viária); Mobilidade e Vias Seguras (iniciativas relacionadas à infraestrutura viária que buscam minimizar os riscos de acidentes); Fiscalização (iniciativas que fomentam e qualificam as operações de fiscalização, com o objetivo de dissuadir comportamentos de risco); Dados e Evidências (coleta de dados e produção de evidências sobre os sinistros de trânsito, que embasam a construção das políticas públicas). Além destes, são eixos temáticos a Comunicação e Educação (ações educativas e de comunicação para sensibilizar e orientar a sociedade) e o Atendimento às Vítimas (iniciativas para fortalecer os serviços de atendimento às vítimas).

O funcionamento do PSV demandará um convênio entre outros entes público, como a Polícia Militar e Civil, a Guarda Municipal, Hospital Mário Gatti, Corpo de Bombeiros e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

RELATÓRIO ANUAL

A informação do lançamento do Plano de Segurança Viária foi obtida pela reportagem na segunda-feira (27) durante o evento de divulgação dos dados do Relatório Anual de Sinistralidade no Trânsito de 2022, produzido pela Emdec.

Além da apresentação dos dados, houve uma solenidade, no Paço Municipal, em memória dos mortos em acidentes de trânsito na cidade de Campinas. Velas artificiais (acessas por circuito eletrônico) foram ligadas e dispostas no chão representando as vítimas das ocorrências. A homenagem também simbolizou o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Sinistros de Trânsito, um evento global lembrado no terceiro domingo de novembro de cada ano.

O Relatório Anual de Sinistralidade no Trânsito de 2022 aponta que do mês de janeiro ao mês de outubro de 2023, 128 pessoas morreram em acidentes de trânsito, sendo 61 na malha urbana e 67 nas rodovias de Campinas. Somente o mês de outubro de 2023 já registra sete óbitos.

Nos últimos dez anos, Campinas contabilizou 1.522 óbitos no trânsito. Em 2022 e 2021, morreram 151 pessoas e, em 2020, foram 130 vidas perdidas em acidentes nas ruas do município.

Dos cinco pontos mais críticos, quatro envolvem a Avenida John Boyd Dunlop: cruzamento com a Professor Mário Scolari e Rua Josepha Julia Doval de Oliveira, cruzamento com a Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), o trecho próximo à Avenida Brasília e o cruzamento com a Praça Balão do Londres e Rua Domicio Pacheco e Silva. O quinto trecho considerado mais crítico é na Avenida Ruy Rodrigues com a Rua Antonia Ceregatti Albieri e Rua Celeste.

Entre janeiro e outubro de 2023, quatro ciclistas faleceram envolvidos em acidentes de trânsito de Campinas. Em 2022, foram cinco ciclistas, em 2021, 9 e, em 2020, 6 ciclistas morreram em acidentes fatais.

Ainda segundo Relatório Anual de Sinistralidade no Trânsito, na análise de 26 casos de acidentes ocorridos na malha urbana de Campinas em 2023, o consumo de álcool é o principal fator de risco, com 29% dos casos.

O excesso de velocidade aparece na segunda posição, com 26% das ocorrências. Em terceiro lugar está a má infraestrutura das vias urbanas (10%), mesma porcentagem de problemas na habilitação dos condutores. O mau comportamento dos pedestres surge no ranking em quinto lugar, provocando 7% do número total de acidentes e, nas últimas posições (sexto, sétimo e oitavo lugares) estão, respectivamente, as ultrapassagens perigosas, veículos em condições inadequadas e desrespeito à sinalização, com 5% das ocorrências analisadas.

Segundo o Coordenador da Área da Base de Dados da Emdec, Marcelo Antonio, o anuário apresenta informações que permitirão a promoção de políticas públicas voltadas para a redução das mortes no trânsito.

Na solenidade às vítimas de trânsito, Riverete enfatizou que a sociedade deve participar para que as ações de redução de acidentes e mortes no trânsito alcancem êxito. Ele citou como exemplo o respeito às normas de trânsito e aos limites de velocidades. “Uma das ações para conseguirmos reduzir as ocorrências que tiveram como causa as bebidas alcoólicas será convidarmos os restaurantes a serem parceiros neste projeto”, disse o presidente da Emdec no Paço Municipal.

VÍTIMA

Grazielly dos Santos Alves, de 20 anos, é uma sobrevivente de acidente de trânsito. Ela e o marido saíram de moto para um passeio, no dia 22 de julho deste ano. O casal sofreu um acidente, do qual ela não se lembra, na Rodovia Santos Dumont.

Seu marido, Vitor Gabriel Rodrigues do Nascimento, morreu na hora. Grazielly sofreu contração da medula. Ela ainda não conseguiu recuperar os movimentos dos dois braços. Além disso, ela fraturou a tíbia esquerda e sofreu uma lesão no rosto na altura do olho direito. Levada ao Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, Grazielly ficou 23 dias internada, sendo submetida a três cirurgias.

Sem forças para fazer movimentos básicos, como pentear os cabelos, Grazielly se mudou para a casa da mãe, Maria Poliana Barbosa dos Santos.

Para recuperar os movimentos do braço e da perna lesionada, a jovem faz sessões de fisioterapia e, ao contar no que sua vida se transformou, chora. Ela contou que precisa de ajuda o tempo todo, que sua vida parou e que jamais imaginou viver dependendo das pessoas para tudo, já que era uma mulher independente que trabalhava com vendas e já estava casada desde os 18 anos. Pela avaliação dos médicos, ainda há esperança. Segundo Grazielly, eles dizem que há possibilidade de que ela consiga recuperar os movimentos. 

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