INCLUSÃO SOCIAL

Prefeitura de Campinas quer dobrar número de famílias acolhedoras na cidade

Serviço existente desde 1997 tem atualmente 21 famílias cadastradas; iniciativa é direcionada para crianças e adolescentes em situação de violência ou negligência retirados das famílias originais por meio de ordens judiciais

Luiz Felipe Leite/[email protected]
14/10/2024 às 14:56.
Atualizado em 14/10/2024 às 14:56
Vanessa do Nascimento Barbosa está cadastrada no serviço de Família Acolhedora desde 2019: “Cada criança é única na sua individualidade, cada uma traz uma demanda, então a gente aprende a exercer a maternidade de várias formas. E praticar o amor altruísta, que a gente ama, cuida, ajuda a criança a superar alguns traumas” (Denny Cesare)

Vanessa do Nascimento Barbosa está cadastrada no serviço de Família Acolhedora desde 2019: “Cada criança é única na sua individualidade, cada uma traz uma demanda, então a gente aprende a exercer a maternidade de várias formas. E praticar o amor altruísta, que a gente ama, cuida, ajuda a criança a superar alguns traumas” (Denny Cesare)

Atualmente existem 21 famílias cadastradas em Campinas no Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora. A meta da Prefeitura é que esse número chegue a 40, capacidade máxima atualmente da iniciativa. Trata-se de uma modalidade para acolher crianças e adolescentes que precisaram ser afastados, via decisão judicial, do convívio familiar devido a situações de violência ou negligência. Com quase 30 anos de existência na cidade, 478 crianças e adolescentes já foram atendidos.

Das 21 famílias cadastradas no serviço na cidade, criado em 1997, 17 estão ativas. Ou seja, com disponibilidade imediata para receberem esses jovens. E elas estão acolhendo atualmente 15 crianças e adolescentes. Em Campinas, a iniciativa é oferecida pelo Serviço de Acolhimento e Proteção Especial à Criança e ao Adolescente (Sapeca), da Prefeitura, e pelo ConViver, da Associação de Educação do Homem de Amanhã (Guardinha). Pelo Sapeca, atualmente são 13 famílias cadastradas, sendo todas ativas e 8 acolhendo 9 crianças. Já pelo ConViver são 8 famílias cadastradas, 4 ativas e acolhendo 6 crianças.

Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social de Campinas, gestora do serviço, é uma alternativa ao acolhimento institucional (orfanatos, por exemplo), oferecendo um ambiente familiar até que a criança ou adolescente possa retornar à sua família biológica, seja ela a principal ou a estendida, ou ser encaminhado para adoção. Isso vai depender de uma análise de vários fatores, feita em avaliações técnicas, sempre com a validação do Poder Judiciário. O prazo limite que uma família poderá ficar com uma criança e/ou jovem acolhido é de 18 meses, ou seja, de um ano e meio.

De acordo com a secretária Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social de Campinas, Vandecleya Elvira do Carmo Silva Moro, o serviço Família Acolhedora é essencial para garantir um cuidado individualizado e um ambiente familiar para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. No entanto, ele precisa ser mais divulgado para que mais famílias queiram participar. “O serviço proporciona um impacto positivo nas vidas desses jovens e contribui para a proteção e desenvolvimento integral deles. No caso de não termos tantas famílias cadastradas, identifico que o principal motivo disso é o desconhecimento. Não é um serviço tão antigo assim, mas muitas pessoas desconhecem essa modalidade. Em geral elas não sabem que existe a possibilidade desse tipo de acolhimento. Mas entendemos que existem pessoas solidárias que estariam dispostas a participar. Então, é nossa responsabilidade divulgar, conscientizar e tirar todas as dúvidas dos potenciais interessados”, contou.

FUNCIONAMENTO

O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora em Campinas preconiza que as famílias acolhedoras proporcionem cuidados individualizados e personalizados, atendendo às necessidades afetivas, sociais e motoras das crianças e adolescentes acolhidos. Cada uma das famílias inscritas recebe capacitação e suporte técnico contínuo durante o período de acolhimento. O serviço ganhou força legal em 2009 com a Lei Federal n° 12.010, que prevê a obrigatoriedade dele ser aplicado nas cidades de todo o Brasil, que adicionou ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a previsão dessa iniciativa.

A bolsa auxílio para famílias acolhedoras em Campinas é de 90 Unidades Fiscais de Campinas (Ufics), totalizando R$ 1.269,12 por criança ou adolescente, com um teto de 3 bolsas caso ocorra o acolhimento de mais de 3 jovens. Os valores precisam necessariamente ser usados com os investimentos necessários na permanência dos jovens com as famílias acolhedoras.

A secretária Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social de Campinas, Vandecleya Elvira do Carmo Silva Moro, explicou ainda que, entre os diferenciais do serviço, estão a manutenção das crianças e jovens acolhidos em um ambiente familiar e comunitário, a priorização do acolhimento de crianças na primeira infância (0 a 6 anos), conforme a Lei Federal n° 13.257/2016 (Lei da Primeira Infância) e o Plano da Primeira Infância Campineira (PIC). “A família, que se dispõe a ser acolhedora, leva a criança para dentro da sua casa. Aí essa criança participa das rotinas do dia a dia, recebe todos os cuidados possíveis, etc. Isso é o diferencial para a superação dessa situação, seja de negligência ou de violência que essa criança sofreu”, afirmou.

DEDICAÇÃO

Vanessa do Nascimento Barbosa tem 45 anos e vive com os dois filhos, de 23 e 26 anos, no Jardim das Amoreiras, em Campinas. Divorciada, está cadastrada no serviço de Família Acolhedora desde 2019. O interesse dela surgiu alguns anos antes, ao ver crianças e jovens retirados de suas famílias e que estudavam em uma escola onde trabalhava e depois de conhecer uma mulher, em um bairro próximo, que já participava do serviço. Vanessa acolhe atualmente um menino de quatro anos de idade. É o sexto que passa pela casa dela, desde que começou a participar da iniciativa. “Entre a demonstração de interesse e a autorização para sermos uma família que acolhe, foram uns 4 ou 5 meses. É um período necessário para a nossa capacitação e para os psicólogos e assistentes sociais virem aqui casa e identificarem que estamos aptos a participar do serviço. E com tudo isso eu descobri uma forma de amar única. De amar e ser amada. Porque é uma troca, uma experiência única. Eu descobri várias referências da maternidade. Porque cada criança é única na sua individualidade, cada uma traz uma demanda, então a gente aprende a exercer a maternidade de várias formas. E praticar o amor altruísta, que a gente ama, cuida, ajuda a criança a superar alguns traumas, que significa algumas histórias que ela traz”, comentou.

Vanessa contou também que a parte mais difícil de receber uma criança ou um jovem em sua casa, por meio do serviço de Família Acolhedora, é a separação. “Desde a capacitação que nos dizem que precisamos nos atentar para esse período. Claro que fica o sentimento aqui, mas somos uma família que acolhe para ela chegar a um lugar melhor depois daqui. É a nossa principal missão.”

AVALIAÇÃO

O psicólogo Aslan Alves, com pós-graduação em Neuropsicologia, avaliou que o serviço de Família Acolhedora traz muitos benefícios psicológicos para crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade. Ele também disse que esses jovens geralmente passaram por situações muito difíceis, como violência, abandono e negligência. “Ao serem acolhidos por uma família que os recebe com cuidado, eles podem se sentir mais seguros, confiantes e com apoio emocional, o que ajuda no desenvolvimento psicológico. E essas crianças e adolescentes precisam estar em um local que permita a criação de laços afetivos saudáveis. Esses vínculos são importantes para o desenvolvimento da autoestima, e das relações sociais para o futuro. Em muitas vezes essas crianças estavam expostas a risco. Viver em famílias acolhedoras garante a elas um ambiente mais seguro e protetor, necessário para um bem-estar emocional e mental”, explicou.

O especialista detalhou ainda que as famílias acolhedoras também precisam de um suporte psicológico, sendo preparadas e com orientações constantes para entender os traumas e as necessidades que as crianças e adolescentes irão trazer com eles. “Isso vai ajudar a lidar melhor com comportamentos desafiadores e oferece um suporte adequado para todos os envolvidos. A família acolhedora precisa ter um apoio de uma rede. Isso inclui psicólogos, assistentes sociais, educadores, etc. Tudo isso vai garantir o recebimento dessa criança ou adolescente. O acolhimento é temporário, mas é um momento crucial para desenvolver o emocional e psicológico desses jovens e prepará-los para um futuro mais seguro e saudável.”

Os interessados em participar do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora podem entrar em contato com o ConViver pelos números (19) 3772-9699 ou (19) 99368-1440, e com o Sapeca pelo número (19) 3256-6067.

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