TRAGÉDIA NA LAGOA DO TAQUARAL

Prefeitura de Campinas pede análise para definir destino dos eucaliptos

Espécie causou a morte da menina Isabela, que foi enterrada ontem em Hortolândia

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
26/01/2023 às 08:53.
Atualizado em 26/01/2023 às 08:53
Raiz do eucalipto que causou a tragédia ficou totalmente exposta: amostras foram colhidas e enviadas para análise no Instituto Biológico e IAC (Rodrigo Zanotto)

Raiz do eucalipto que causou a tragédia ficou totalmente exposta: amostras foram colhidas e enviadas para análise no Instituto Biológico e IAC (Rodrigo Zanotto)

A Prefeitura de Campinas solicitou na quarta-feira (25) ao Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), órgão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, uma análise dos cerca de 2 mil eucaliptos existentes no Parque Portugal (Lagoa do Taquaral). A avaliação do fragmento florestal foi pedida um dia após a queda de uma árvore da espécie que causou a morte da menina Isabela Tibúrcio Firmino, de 7 anos, enterrada na quarta-feira em Hortolândia. 

De acordo com o secretário de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella, a análise do IPA definirá as medidas que serão tomadas em relação ao fragmento florestal, cujo objetivo é o de garantir a segurança no parque. Ele explica que os eucaliptos são remanescentes da Fazenda Taquaral, anterior à instalação da área de lazer, que foi inaugurada em 1972.

Na terça-feira (24), Paulella chegou a dizer que procuraria o Instituto Florestal para saber sobre a possibilidade de extração dos eucaliptos, porém, agora, vai aguardar a avaliação do instituto. Há eucaliptos com até 70 anos e alturas variando de 15 a 40 metros. "As árvores são protegidas por lei e aqui [o parque] é uma APP [Área de Preservação Permanente]. Nem mesmo os eucaliptos, que são árvores exóticas, naturais da Austrália, podem ser extraídos sem autorização.",

Extração

A Administração, explicou ele, realiza mensalmente a remoção de cerca de 300 árvores que apresentam risco de cair, afetadas por doenças ou pragas. O secretário rebate as acusações de falta de cuidado do poder público municipal com as cerca de 800 mil árvores existentes em áreas de lazer e vias da cidade. O levantamento fitossanitário, segundo ele, é feito in loco por engenheiros agrônomos e florestais. 

Paulella reafirmou que a subtração tem de seguir normas federais e ser justificada legalmente. "As árvores são protegidas pela Lei Florestal, não podem simplesmente ser eliminadas", reforça. 

"Elas compõem uma parte viva da cidade, influenciando no clima local, na qualidade do ambiente e bem-estar da população", diz, o biólogo Valdiclei Custódio Jorge, especializado em controle de vetores e pragas urbanas e florestais. 

Segundo ele, os principais problemas nas cidades são o plantio de espécies inadequadas, como raízes que danificam a calçada e meio-fio, podas mal executadas e o aparecimento de cupins ou fungos. Porém, no caso do eucalipto que caiu no Taquaral, o secretário da Pasta explica que, aparentemente, ele estava saudável. Para ele, a causa mais provável foi o encharcamento do solo, devido às fortes chuvas da semana passada em Campinas, associado a uma rajada de vento. Amostras da espécie foram recolhidas pela Prefeitura e enviadas para análise ao Instituto Biológico e Instituto Agronômico de Campinas (IAC). 

O velório da menina Isabela Firmino, de 7 anos, no Cemitério Parque Hortolândia, foi marcado por dor e emoção e acompanhado por cerca de 150 pessoas (Rodrigo Zanotto)

O velório da menina Isabela Firmino, de 7 anos, no Cemitério Parque Hortolândia, foi marcado por dor e emoção e acompanhado por cerca de 150 pessoas (Rodrigo Zanotto)

Velório 

O velório e sepultamento de Isabela Firmino, no Cemitério Parque Hortolândia, foi marcado por dor e emoção, sendo acompanhado por cerca de 150 pessoas. "Ela era um anjo. Uma menina muito ativa, que irradiava amor, alegria, muita luz e todos gostavam de tê-la por perto", disse o empresário Paulo Eid, porta-voz e amigo da família. 

A menina era filha única do pastor evangélico Sérgio Luís Firmino, da Igreja Batista do Pq. Oziel, em Campinas, e de Gislene Silva Tibúrcio Firmino, que entraram em estado de choque ao presenciar o acidente na manhã de terça-feira. Os pais acompanharam o sepultamento sob efeito de medicamentos.

"Isabela nasceu com o nosso projeto e o acompanhava com a gente", lembra Eid, que estava abalado. O pai da menina preside a organização não-governamental Amor é Repartir, que desenvolve um projeto com cerca de 90 crianças e adolescentes no Oziel, entre curso profissionalizante e aulas de jiu-jitsu.

O projeto nasceu há cerca de seis anos e foi legalmente constituído no ano passado. Eid, que é vice-presidente da Ong, defendeu a apuração de possíveis responsabilidades pela queda do eucalipto. Porém, por ora, ele disse não ter informações suficientes para avaliar se cabe alguma responsabilização e processo judicial.

A morte de Isabela foi registrada no 4º Distrito Policial de Campinas, que fica próximo à Lagoa Taquaral, como morte acidental. Ela participava da festa de aniversário de uma prima, na área de lazer. O eucalipto caiu a poucos metros da mesa de piquenique onde acontecia a confraternização. A árvore, que tinha de 15 a 20 metros de altura e pesava cerca de 560 quilos, atingiu também Gabriela Araújo Rodrigues, de 27 anos, que segue internada no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. Ela passou por uma cirurgia na terça-feira, mas não foram divulgados detalhes. O seu quadro é considerado estável. 

Isabela Firmino foi a segunda vítima fatal de queda de árvore em uma área de lazer em Campinas em 27 dias. No dia 28 passado, o técnico em eletrônica Guilherme da Silva de Oliveira Santos, de 36 anos, morreu, quando o carro que dirigia foi atingido por uma árvore do Bosque dos Jequitibás, na Rua General Marcondes Salgado, no bairro do Bosque.

O Conselho de Pastores de Campinas divulgou uma nota de pesar pela morte de Isabela. "Em nome de todos os pastores e irmãos em Cristo, manifestamos nosso profundo pesar e prestamos as nossas condolências a todos os familiares e amigos", diz o comunicado.

Inesperado

Após a morte da menina, a Prefeitura fechou, por tempo indeterminado, as 71 áreas de lazer e esportivas do município - entre parques, bosques e praças de esporte. A medida pegou de surpresa muitas pessoas na quarta-feira. "Não sabia", disse Lucas Baltazar, que, acompanhado pela namorada, Larissa da Silva Oliveira, pretendia passear na Pedreira do Chapadão. Ao depararem com os portões fechados, até pensaram em ir para o Bosque dos Jequitibás, mas se decepcionaram quando informados de que ele também estava fechado. Diante disso, o casal resolveu aproveitar o dia em um shopping center da cidade. 

A enfermeira Naeli Lidiane Medeiros, que reside em Hortolândia, também foi surpreendida ao encontrar a Lagoa do Taquaral fechada. Ela estava acompanhada pela filha Yasmin, de 8 anos, e Nicholas, de 2. "Estragou o nosso passeio. Não sabíamos de nada", disse. 

O comerciante Jorge Tamashiro, que tem um quiosque no parque, lamentou o fechamento, que deverá causar uma queda no movimento de mais de 70%, principalmente nos finais de semana, quando o público chega a 25 mil pessoas. "Com o fechamento, pouca gente vem", diz ele. 

Na quarta-feira (25), as pessoas praticavam caminhada, corrida e ciclismo na parte externa do entorno da Lagoa, apesar do acidente fatal do dia anterior. No Bosque dos Jequitibás, uma equipe contratada pela Prefeitura podava os galhos das árvores que avançavam para a Rua Pedro Álvares Cabral. A medida vem sendo adotada pela Administração desde a morte ocorrida no final de dezembro para aliviar o peso das copas e reduzir os riscos de novas quedas.

Campinas completou na quarta-feira quatro dias sem chuvas significativas, após enfrentar tempestades e chuvas pesadas seguidas entre terça e sexta-feira da semana passada. As precipitações acumuladas no município este mês respondem pelo maior volume dos últimos 6 anos, de acordo com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Cepagri/Unicamp). Entre o dia 1º de quarta-feira, o índice é 344 mm, menor apenas que os 356 mm registrados em todo o mês de janeiro em 2017. A média histórica entre 1990 e 2022 é de 271,2 mm, de acordo com o Cepagri.

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