Com a possível vinda da Unicamp para o Centro de Campinas, as ações voltadas ao atendimento da população em situação de rua desenvolvidas pela universidade devem ser ampliadas e intensificadas (Kamá Ribeiro)
Com o objetivo de fortalecer os projetos de extensão nas áreas social e cultural desenvolvidos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no município, a Prefeitura negocia com a reitoria uma proposta para instalar um escritório da universidade no Centro da cidade. A iniciativa, denominada "Unicamp na Cidade", integra os esforços da Administração para requalificar a região central, conforme previsto no Plano Diretor. Há décadas, o Centro da cidade sofre com a degradação urbana e social, agravada pelo esvaziamento de instituições e serviços, que durante muito tempo funcionaram na região. Com isso, o Centro perdeu muito do seu potencial residencial e sucumbiu diante do abandono e expansão da criminalidade.
Se a proposta prosperar, a expectativa é a de que as iniciativas da Unicamp no campo da extensão, cultura e direitos humanos na região central da cidade sejam reforçadas e até ampliadas, com a criação de espaços de interação para atividades, como cursos, seminários, palestras, workshops e laboratórios vivos. Na ação, o espaço físico da universidade seria aberto para servir como suporte a atividades de extensão já realizadas pela universidade no Centro, como o atendimento à população em situação de rua, e que precisariam de um ponto de apoio, com espaço para preparação das equipes, banheiros e bebedouros.
O local para a instalação definitiva de um escritório da universidade na região central ainda não foi definido. Mas uma reunião entre acadêmicos ligados à iniciativa e a Prefeitura está prevista para o próximo dia 23, quinta-feira, para discutir detalhes e encaminhamentos sobre a proposta da vinda da Unicamp para o Centro. A Unicamp foi procurada pela reportagem para comentar a iniciativa, mas não deu retorno até o fechamento da edição.
"A proposta que consta na ação 'Unicamp na Cidade' aparece como uma maneira a aprofundar a relação da Unicamp com a cidade de Campinas, especialmente com seu centro histórico e geográfico", disse a arquiteta Monna Taha, ligada ao projeto. Segundo ela, essa proposta de estabelecer um espaço para a universidade no centro soma ao processo de requalificação da área central. "A Secretaria de Planejamento e Urbanismo (Seplurb) tem auxiliado a interlocução entre a Unicamp e outros órgãos municipais buscando viabilizar a disponibilização de um local adequado ao atendimento dessa demanda", explica.
A arquiteta ressalta que a iniciativa aparece como forma de combater o processo de "esvaziamento" de importantes instituições e serviços que vem sofrendo a região central e que trouxe reflexos também na perda de sua função residencial. Entre as instituições importantes que deixaram a região central pode-se destacar os cursos de graduação mantidos pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puc-Campinas), no Pátio dos Leões. "O esforço do poder público, em suas diferentes esferas, aparece para atuar como indutor e promotor da atração de instituições e serviços que contribuam para a dinamização desse território", completa a arquiteta.
A Prefeitura considera que esse fenômeno de "esvaziamento" e fuga de instituições e de serviços de regiões centrais tem sido verificado em todas as cidades grandes no contexto da urbanização modernista. "A requalificação desses espaços tem sido objeto de políticas públicas, em diversas cidades do país e do mundo, que buscam resgatar sua dimensão simbólica, histórico-cultural, econômica e social em áreas centrais", explica Monna.
O esforço da Prefeitura para tentar revitalizar a região central vem sendo travado há alguns anos em diversas frentes. Entre elas aparece a recuperação de vias históricas, como aconteceu na reforma da Avenida Francisco Glicério e como está previsto ocorrer também na Avenida Campos Sales.
Outra frente do esforço da Administração no processo de revitalização tem ocorrido também a partir de anúncios de aquisição e reformas de imóveis por parte do poder público para serem ocupados e utilizados nas mais diversas funções. Entre eles, destaque para a aquisição do Teatro Bento Quirino, na Rua Luzitana, que atualmente está cedido para a Câmara Municipal, e que em breve deve ser ocupado para atividades ligadas à Secretaria de Educação. E a sede do antigo Colégio Baptista, também na rua Luzitana, esquina com Barreto Leme, em que está prevista a instalação de um Centro de Ensino de Jovens e Adultos (EJA) da Prefeitura.
O casarão da Júlio de Mesquita, onde funcionava o antigo Centro Cultural Brasil Estados Unidos, também deve ser transformado em um centro de memória. Um outro espaço também na região central está sendo negociado para ser usado na área da Educação e deve ser anunciado em breve. Segundo informações da Prefeitura, o prédio já foi adquirido e aguarda a regularização da documentação para passar a ser ocupado pela administração pública.
