Projeto piloto foi implantado no Jardim Florence; cultivadas em terreno público ocioso, as hortaliças contribuem para ampliar a segurança alimentar da comunidade
Comunidade tem recebido orientação técnica para saber como lidar com o solo e com o cultivo dos vegetais (Divulgação)
Projeto inédito da Prefeitura de Campinas estimula o aproveitamento de espaços vazios, que podem acumular lixo e mato, para promover a sustentabilidade e a preservação ambiental na cidade. O "Campinas Solidária e Sustentável" consiste na implantação de hortas em áreas ociosas. O projeto piloto foi implantado no Jardim Florence, no Distrito do Campo Grande, em um terreno público. Os canteiros proporcionam alimentos saudáveis e frescos, que são cultivados sem agrotóxicos. As hortaliças cultivadas são direcionadas para consumo dos moradores da região e a produção excedente pode ser vendida. Além de preservar o ambiente e contribuir para ampliar a segurança alimentar, a iniciativa colabora para a geração de renda das pessoas envolvidas com o cultivo. A ação é encabeçada pela Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos e conta com a colaboração técnica da Fundação Federação das Entidades Assistenc
A Feac desempenha os papéis de mapeamento, diagnóstico local e mobilização da comunidade. O superintendente socioeducativo da fundação, Jair Resende, explicou a importância do projeto. "O projeto da horta está focado na produção de alimentos saudáveis, na ocupação de espaços ociosos e na convivência entre as pessoas que participam dessa experiência. Além disso, tem a questão de geração de renda, uma vez que o excedente pode ser comercializado. A horta proporciona o consumo de alimentos saudáveis e a produção deles em áreas urbanas", elencou. Para a concretização dessas metas, a Feac conta com o apoio técnico Pé de Feijão, que é um negócio de impacto social, fundado em 2014. Na horta do Jardim Florence. Esse parceiro atua na mobilização da comunidade.
Resende detalhou as etapas de implantação da horta. "A primeira fase foi a mobilização dos participantes e também os ajustes com parceiros. Em seguida, foram trabalhadas as instalações, que consiste nos cuidados com o terreno, como adubação. Depois vem a fase de capacitação e plantios iniciais. Depois, segue para os plantio continuado de diversas espécies", pormenoriza o representante da Feac.
Quando as hortaliças e herbáceas (cenoura, couve, alface e beterraba etc) estão prontas para consumo, os moradores podem colher. Dessa forma, o projeto assegura uma alimentação saudável e com qualidade para a comunidade. Caso haja excedente, os moradores podem vender. As equipes de trabalho também investem na plantação de Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs), que possuem alto valor nutricional. Ora-pro-nóbis, muricato e maracujá-domato são exemplos de Pancs.
A organização Pé de Feijão lidera os encontros educacionais. Thaiza Cristina do Carmo Pedroso, educadora ambiental e agrícola urbana, detalhou a dinâmica. "Toda semana, às terças-feiras, temos o encontro na horta com a realização de oficinas sobre a prática agrícola, segurança alimentar, formação comunitária, compostagem, estudos de terreno, mutirões, entre outros temas, para que o grupo se fortaleça, se aproprie de técnicas de cultivo, de compostagem, do cuidado do espaço e tenha autonomia para gerir a horta comunitária e se organizar futuramente em um grupo socioprodutivo", explicou. Ela revelou que esses momentos de reunião são ricos em trocas, formação de vínculos, cuidado das pessoas e do espaço. Segundo a educadora ambiental, a horta transforma um espaço ocioso em um local de produção de alimentos, de educação, regeneração ambiental, união entre a comunidade e promoção de saúde e bem-estar.
Thaiza disse que a proximidade da produção do alimento com o local em que é consumido encurta distâncias, o que também contribui para a preservação ambiental, pois não há poluição do ambiente por parte do transporte. "Situações como desastres naturais ou crises econômicas podem causar interrupções no fornecimento de alimentos. A proximidade, nesses casos, é importante. Além disso, a horta também reduz o desperdício de alimentos que ocorre ao longo de toda cadeia de transporte e fornecimento dos produtos".
Com relação ao envolvimento da comunidade local, a educadora ambiental disse que o retorno está sendo positivo. "A comunidade está muito engajada e envolvida com as atividades no local. Além de participarem dos encontros que acontecem toda terça-feira de manhã, os moradores estão se organizando para estarem presentes na horta em outros dias da semana, para executarem cuidados diários de manejo da horta e do terreno, com o acompanhamento técnico da Prefeitura e da equipe do Pé de Feijão".
Essa impressão é compartilhada por Gilberto Aparecido Sereno, um dos funcionários da Prefeitura que presta suporte na horta. Ele vai diariamente ao local para receber materiais, mudas, adubos e terra. "Os moradores estão animados. Prova disso é que alguns comparecem todos os dias para regar, cuidar e fazer algum serviço que precisa", revelou.
Um desses moradores é José dos Reis Maia. O aposentado vai todos os dias na horta, exceto quando recebe visitas e tem compromissos. "Eu estou participando porque eu me aposentei e fiquei sem ter o que fazer. A horta comunitária é uma atividade que eu gosto de fazer. Surgiu a oportunidade e estou lá ajudando o pessoal". Maia sempre teve uma horta no quintal de sua residência e vai até o plantio comunitário para ajudar. Na primeira colheita, ele optou por não levar nada para casa e deixar para quem precisava. "Meu interesse é ajudar. Porque eu gosto de cuidar de horta e de planta. Além de ajudar, eu estou aprendendo mais coisas", disse o aposentado, expondo o lado social da horta, que é justamente a troca de experiências entre a comunidade. Os moradores da região desempenham dois papéis. O de beneficiários e também de participantes.
A secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, Vandecleya Moro, destacou a importância dessa modalidade de plantio. "A agricultura urbana é uma solução sustentável e eficiente para os crescentes desafios ambientais e alimentares enfrentados pelas cidades. Ela contribui para a superação dos pântanos alimentares em áreas urbanas, onde o acesso a alimentos saudáveis e frescos é limitado", argumentou.
Vandecleya disse que a intenção da Prefeitura é espalhar mais hortas pela cidade. "O objetivo é dar oportunidade para as pessoas e ocupar espaços ociosos, para que a comunidade no entorno faça a produção", explicou. Além de ceder o local, a Prefeitura colabora com a organização, limpeza, manutenção e fornecimento de insumos. Por fim, a secretária de Assistência Social disse que essa horta piloto representa um avanço. "É um marco na política pública de segurança alimentar e no combate à insegurança. Ela estabelece parcerias entre o poder público e a sociedade civil. E também reforça o compromisso de sustentabilidade", encerrou.
A coordenadora do programa agricultura urbana de Campinas, Mariana Maia, enfatizou que a horta, além dos atributos já citados, atua como redutor dos impactos climáticos, justamente por ocupar espaços ociosos com vegetação. "Os resultados vêm mostrando uma articulação muito potente, com muitos atores comprometidos com a pauta e, no caso do terreno, a ressignificação do uso do solo e impacto na paisagem", analisou.