VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Prefeitura de Campinas inicia hoje curso de reflexão para agressores

Administração realizou busca ativa de homens citados em boletins de ocorrências; são 15 participantes na primeira turma

Alenita Ramirez/ [email protected]
03/10/2023 às 09:04.
Atualizado em 03/10/2023 às 09:04
As agressões contra as mulheres são um dos problemas mais graves do Brasil; dados nacionais apontam para um feminicídio a cada seis horas (Kamá Ribeiro)

As agressões contra as mulheres são um dos problemas mais graves do Brasil; dados nacionais apontam para um feminicídio a cada seis horas (Kamá Ribeiro)

A Prefeitura de Campinas realizou busca ativa de homens agressores citados em boletins de ocorrências registrados nas delegacias de Defesa da Mulher (DDM) e em outras redes de proteção à mulher e inicia hoje um curso de reflexão ministrado pelo Serviço de Responsabilização e Reeducação do Autor de Violência (Seravi). A iniciativa é mais uma forma da Secretária Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, a combater o ciclo da violência doméstica na cidade.

A primeira turma, com 15 convocados, começa hoje. Eles fazem parte de um grupo de 350 autores identificados em boletins de ocorrências registrados em junho e que foram fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) e também pela Justiça. Ao longo do mês de julho, a equipe de apoio do Seravi contatou os autores e explicou sobre o trabalho. Quem concordou em participar teve o nome incluído no programa.

Eles passarão por um curso semanal de apoio, no qual serão abordados vários temas como violência de gênero, construção social de gênero, cultura machista/sexista, diferentes masculinidades e a formação do homem na sociedade brasileira. O objetivo é conscientizar e reeducar os autores de violência doméstica.

Segundo a secretária da Pasta, Vandecleya Moro, as sessões direcionadas aos agressores já existem em Campinas desde 2020, mas a participação até então era forma voluntária, com o atendimento feito a partir do desejo do autor da violência de modificar o comportamento.

A partir de agora, segundo Vandecleya, além da demanda espontânea, todos os homens denunciados por suas companheiras ou ex serão convidados a se inscrever nas sessões, mas não serão obrigados a participar do serviço preventivo e educativo. “O homem tem que fazer sua parte para melhorar. Não adianta só dizer que a mulher é culpada”, frisou a secretária.

A busca ativa é feita por meio de consultas a boletins de ocorrências, determinações judiciais, referenciamento da rede protetiva da mulher e demandas espontâneas, buscando abordar temas essenciais para reverter a situação de violência que afeta inúmeras mulheres no município. Os novos usuários do serviço são atendidos primeiro individualmente. Depois, seguem para os grupos reflexivos.

O curso, na sede do Seravi, terá duração de três meses. O Seravi está localizado na Avenida Anchieta, 343, 5˚ andar. É possível obter informações por meio do telefone: 19 3376-3742.

O Seravi conta com uma equipe especializada, incluindo um gestor, um psicólogo e um especialista em relações sociais. “Eles (homens) terão um espaço para poder se colocar também, para ver outras experiências de homens que entenderam que a violência é algo errado, não é o caminho, e que conseguiram superar as questões”, explicou Vandecleya.

Ainda conforme a secretária, haverá outras duas turmas com 15 homens cada uma. Nestas, estarão tanto os agressores que foram convidados como os que buscaram o serviço por iniciativa própria.

“Infelizmente ainda existe uma grande resistência por parte dos homens em aceitar que eles estão errados e que precisam de ajuda. Poucos reconhecem isso. A lei não obriga ninguém a fazer o tratamento, mas acho importante ter essa busca ativa por parte da Prefeitura” avaliou a advogada, e fundadora do grupo Mulheres pela Justiça, Thais Cremasco.

"A busca ativa por parte do Seravi é um passo significativo na luta contra a violência doméstica em Campinas. Oferecendo recursos, apoio e educação, o serviço procura fazer uma diferença real na vida das mulheres, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa", disse Vandecleya.

O atendimento é destinado a homens residentes em Campinas que protagonizaram ou ainda protagonizam situações de violência doméstica contra a mulher. Desde sua implantação, ele atendeu 100 homens, número que, segundo a secretária, precisa ser aumentado.

Dados do Monitor da Violência e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgados recentemente mostraram que 1,4 mil mulheres foram mortas, em 2022 no Brasil, apenas pelo fato de serem mulheres. Em média, acontece um feminicídio a cada 6 horas.

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