PATRIMÔNIO CULTURAL

Prefeitura de Campinas e sociedade unem forças contra as pichações

Objetivo é recuperar peças e buscar tecnologias para inibir atos de vandalismo

Da Redação
04/04/2024 às 08:45.
Atualizado em 04/04/2024 às 08:45
Vandalizado apenas 12 horas após a sua inauguração, o novo totem do Guarani, agora sem inscrições, teve que ser limpo e pintado novamente pela Prefeitura de Campinas (Rodrigo Zanotto)

Vandalizado apenas 12 horas após a sua inauguração, o novo totem do Guarani, agora sem inscrições, teve que ser limpo e pintado novamente pela Prefeitura de Campinas (Rodrigo Zanotto)

Diante dos recorrentes furtos e atos de vandalismo que assolam os monumentos históricos de Campinas, órgãos municipais e entidades da sociedade civil organizaram uma força-tarefa com o objetivo de proteger esses ícones culturais. Estima-se que tais crimes resultem em prejuízos anuais na ordem de R$ 1 milhão. O impulso para a criação desse grupo de trabalho foi a recente pichação do novo totem do Guarani, vandalizado apenas 12 horas após sua inauguração, evidenciando a urgência de medidas preventivas diante da crescente degradação de bens públicos pela cidade.

A missão primordial dessa iniciativa é analisar e definir estratégias para a restauração das peças danificadas, além de avaliar tecnologias eficazes no combate ao vandalismo, incluindo possíveis soluções baseadas em inteligência artificial. O monumento-túmulo do maestro Carlos Gomes, figura icônica da história campineira, foi eleito como prioridade pela nova força-tarefa. Entretanto, outras edificações históricas também serão alvo de atenção. "Inicialmente, concentraremos nossos esforços em um projeto-piloto fundamentado no túmulo-monumento de Carlos Gomes. Contudo, este será apenas o ponto de partida para intervenções em outros monumentos que também demandam proteção", esclareceu a secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli.

A reunião inaugural da força-tarefa contou com a presença de representantes da Prefeitura, Guarda Municipal (GM), Departamento de Parques e Jardins (DPJ) e membros de respeitadas entidades como Academia Campineira de Letras e Artes (ACLA), Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA), Academia Campinense de Letras, Instituto Carlos Gomes, Associação Brasileira Carlos Gomes de Artistas Líricos (Abal) e Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Já estão agendadas novas reuniões de trabalho, que contarão com a participação do professor doutor Marcos Tognon, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em História da Arte.

AÇÕES

Uma força-tarefa municipal se reuniu para deliberar sobre ações em duas frentes fundamentais. A primeira etapa visa restaurar os monumentos danificados, enquanto a segunda abordará questões relacionadas à segurança e vigilância desses locais. Esta é a segunda iniciativa da prefeitura em seis meses no que diz respeito à proteção do patrimônio histórico e cultural da cidade.

No final de setembro, em resposta ao crescente número de casos de vandalismo, a Guarda Municipal anunciou a formação de um Grupo Antivandalismo. Este grupo, composto por agentes treinados, utiliza recursos de inteligência, incluindo monitoramento de redes sociais, para identificar e deter os responsáveis por danos ao patrimônio. Além disso, os agentes de segurança operacionais estão alertas durante as rondas, prontos para intervir diante de qualquer situação suspeita.

O surgimento desse grupo se deu em meio a um aumento preocupante de atos de vandalismo. Recentemente, foram registrados incidentes como a destruição de cerca de 40 mudas de árvores recém-plantadas na Avenida Soldado Percílio Neto, no bairro do Taquaral, ocorrida duas vezes em uma semana. Da mesma forma, a pista de skate street da Lagoa do Taquaral foi alvo de pichações em dois eventos distintos dentro de um intervalo de quatro dias. Além disso, foram relatadas depredações nos banheiros da área esportiva local, danos a placas de informação e vandalismo em dois parquinhos infantis nos Jardins Maracanã e Eulina.

O caso mais recente de vandalismo ocorreu na quarta-feira (3), quando o novo totem do clube Guarani amanheceu coberto por inscrições e manchas pretas. Este totem, instalado na Praça Carlos Gomes, no Centro da cidade, foi inaugurado na terça-feira em comemoração aos 113 anos do time, substituindo o anterior que havia sido alvo de vandalismo e furto em novembro passado. Equipes da prefeitura imediatamente começaram os trabalhos de limpeza e restauração do monumento.

O prejuízo estimado leva em consideração não apenas os materiais danificados, mas também as horas de trabalho necessárias para reparar ou repor o patrimônio depredado. O secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella, lamentou o desperdício de recursos que poderiam ser direcionados para outras obras ou projetos de importância para a cidade. Segundo ele, o montante de R$ 1 milhão gasto com a recuperação dos monumentos vandalizados seria suficiente para construir dois campos de futebol completos, equipados com alambrados e iluminação, ou ainda para criar um parque ecológico de 100 mil metros quadrados. Essa quantia também equivaleria à urbanização de três praças de médio porte ou ao recapeamento de 5 quilômetros de vias públicas.

OUTROS CASOS

O vandalismo atinge também outros equipamentos públicos usados pela população. Em fevereiro, a Secretaria de Serviços Públicos iniciou a troca das lixeiras de plástico por outras de concreto. A iniciativa foi tomada após a pasta registrar a depredação e inutilização de 150 recipientes por mês, cada uma com um custo de R$ 150. As lixeiras de concreto custam R$ 600, mas são mais resistentes e foram instaladas em locais como Largo do Rosário, Praça Carlos Gomes, Rua 13 de Maio, Avenida Francisco Glicério e Largo do Pará.

"Por enquanto vamos instalar as novas lixeiras, de concreto, na região central, e avaliar o funcionamento.", disse Ernesto Paulella. O Terminal BRT do Jardim Campos Elíseos foi vandalizado uma semana após ser inaugurado há dois meses. Torneiras e registros dos banheiros públicos masculino e feminino foram furtados. Na madrugada do dia 29 de fevereiro, um homem foi detido por guardas municipais após arrancar duas torneiras da pia do banheiro masculino no Terminal BRT Satélite Íris, enquanto proferia palavrões. 

A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), responsável pela administração desses locais, registrou 73 ocorrências desse tipo no ano passado e gastou mais de R$ 200 mil com a manutenção das estruturas das estações BRT alvos de vandalismo. "Criamos, na Emdec, um grupo de estudos para avaliar a melhor forma de combater esses atos de vandalismo. Esse comportamento tem que acabar. É o usuário do transporte público o maior prejudicado. Precisamos da ajuda da população, condenando e denunciando esses crimes", afirmou o presidente da empresa, Vinicius Riverete.

O crime de vandalismo está previsto no artigo 163 do Código Penal Brasileiro, que estabelece a pena de detenção de seis meses a três anos ou multa por destruição, inutilização de deterioração de bens de terceiros. Em Campinas, a lei municipal nº 143 estabelece regras para a venda de tintas spray. As lojas devem ter alvará específico emitido pela Secretaria de Urbanismo, é proibida a venda para menores de 18 anos e os compradores devem assinar um termo de responsabilidade pela aquisição e comprovar o endereço completo.

A legislação local estabelece multas para o estabelecimento que descumprir as regras. Ela é de 3 mil Unidades Fiscais de Campinas (Ufics), o equivalente a R$ 13.997,70 na primeira autuação. Em, em caso de reincidência, o valor sobre para de 4 mil Ufics (R$ 18.663,60). Após a segunda penalização, o estabelecimento, além de multado, terá o alvará cassado. 

Mas a solução para o vandalismo pode estar na arte urbana. Após ser vandalizada duas vezes, a pista de skate street do Taquaral foi grafitada pelo artista Di Labarca. A obra tem desenhos bem coloridos e vibrantes, com traços precisos. Labarca acredita que o grafite pode coibir as pichações. "Há uma ética, respeitam o grafite, não picham por cima. Ajuda bastante trazer o grafite para um projeto", disse ele na entrega do grafite, no final de setembro.

Há dias, a Emdec entregou três estações do BRT grafitadas no corredor do Campo Grande, que receberam desenhos relacionados à mobilidade urbana. As unidades do Concórdia, Santa Clara e Maracanã receberam trabalhos feitos pelos artistas Cabelin (Hélio Domingues da Luz) e Kranium (Leandro Ferreira dos Santos). "A ocupação das estruturas com o grafite é, também, uma forma de manutenção preventiva. Estamos preservando um equipamento essencial ao usuário do transporte público. E convidamos a população a defender estes espaços, mantendo este cuidado", disse Vinicius Riverete.

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