Secretaria de Serviços Públicos afirma que Condepacc autorizou as remoções
Equipes da Prefeitura de Campinas realizam trabalhos de poda de árvores no Bosque dos Jequitibás (Kamá Ribeiro)
O Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comdema) apresentou um laudo que, de acordo com metodologia utilizada, defende que a queda da árvore no Bosque dos Jequitibás, ocorrida em dezembro, foi causada por danos na sua estrutura e não por conta da umidade do solo, conforme indicou laudo encomendado pela Prefeitura ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Instituto Biológico (IB). A figueira, que caiu na Rua General Marcondes Salgado, atingiu o carro dirigido por Guilheme da Silva, 36 anos, que morreu no local.
Em nota, a Secretaria Municipal de Serviços Públicos afirma que as árvores que caíram não passaram por nenhum procedimento. "Essas árvores não tinham passado por poda ou outro procedimento na copa ou raiz. O Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas) já autorizou a remoção das árvores no Bosque dos Jequitibás e a Secretaria aguarda posicionamento do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico)", finalizou.
A Secretaria de Serviços Públicos afirmou também que os laudos que justificam a extração de árvores do Bosque e do Taquaral foram elaborados e assinados por técnicos responsáveis, engenheiros agrônomos e florestais e biólogos, da Secretaria de Serviços Públicos. "As árvores que caíram no Bosque e na Lagoa passaram por vistoria e, de acordo com laudos do Instituto de Pesquisas Técnicas (IPT), Instituto Biológico (IB) e Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgãos ligados ao governo do Estado, estavam sadias e com raízes íntegras. As quedas foram por causa do encharcamento do solo", declarou.
O documento elaborado pelo Comdema foi apresentado durante a sessão da Câmara de Campinas, realizada na segunda-feira (3) e foi elaborado por três especialistas na área. Um deles, é a professora da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raquel Gonçalves, que fez mestrado e doutorado na área de estruturas, com foco em estruturas de madeira. Raquel desenvolve metodologias e equipamentos de inspeção de árvores e também na área de biomecânica, com ênfase na análise de risco de queda.
Participou também dos estudos para a elaboração do laudo o engenheiro florestal José Hamilton de Aguirre Junior. Ele é mestre em agronomia e coordenador da Comissão de Arborização do Comdema Campinas e também da Comissão Especial de Estudos de Arborização Urbana da Câmara. Por fim, o terceiro membro que realizou as análises foi o engenheiro florestal Rodolpho Schmidt, que também é vice-presidente da Associação dos Proprietários Rurais da Apa de Campinas (Aproapa).
Com relação ao Bosque dos Jequitibás, inicialmente, o engenheiro florestal José Hamilton de Aguirre Junior elaborou um laudo, onde os especialistas constataram que as raízes estavam desenvolvidas apenas na porção que estava dentro do Bosque. Já na parte da calçada, não existiam raízes. Segundo Junior, havia sinais de terem sido podadas em algum momento para a construção ou reforma da calçada e do alambrado, que ocorreu em 2015.
A partir da análise dos resultados apontados por esse laudo, Raquel Gonçalves, doutora em estruturas, fez um estudo estrutural, chamado biomecânico. Esse método permite simular, através de um programa computacional, o comportamento esperado de uma árvore quando ela recebe determinadas cargas, como o próprio peso e ações externas (vento, peso da água de chuva retida, por exemplo).
Neste estudo, são avaliadas as características da árvore, como o formato da copa, as dimensões da árvore, propriedades da madeira, bem como do solo, e a presença de defeitos. "Nas simulações, considerei a condição da árvore em uma situação climática normal e em uma situação climática extrema, levando em conta o aumento de peso da copa pela captação de água da chuva e perda de resistência do solo pelo encharcamento", explicou a representante da Unicamp no Comdema. Essa análise indicou que se a árvore estivesse com as raízes íntegras, ela suportaria as cargas. Mas, como o laudo inicial apontou, essas raízes foram retiradas para, supostamente, a realização das obras na calçada e no alambrado em 2015.
"A conclusão foi que realmente a falta de raízes, associada à condição climática extrema (muitas chuvas), ocasionou a ruptura da raiz do lado que sobrou, porque esse lado ficou sobrecarregado. Apenas o solo encharcado ou o aumento de peso da copa não derrubaria a árvore se ela estivesse equilibrada, com suas raízes completas", concluiu a representante da Unicamp no Comdema, Raquel Gonçalves.