MAIS UMA EDIÇÃO

Prefeitura de Campinas abre inscrições para o concurso ‘Rainha Pérola Negra’

Objetivo do evento é reconhecer e exaltar as contribuições de mulheres negras à comunidade campineira em diversas áreas

Daniel Rocha/ [email protected]
12/04/2024 às 09:24.
Atualizado em 12/04/2024 às 09:24
Algumas das mulheres que foram reconhecidas no concurso, entre elas, ao centro, a empreendedora social Mariana Regina Nunes de Campos: “ao destacar os trabalhos sociais das mulheres negras inspiramos outras a seguirem os seus passos e a acreditarem no potencial para a criação de mudanças positivas em suas próprias comunidades” (Divulgação)

Algumas das mulheres que foram reconhecidas no concurso, entre elas, ao centro, a empreendedora social Mariana Regina Nunes de Campos: “ao destacar os trabalhos sociais das mulheres negras inspiramos outras a seguirem os seus passos e a acreditarem no potencial para a criação de mudanças positivas em suas próprias comunidades” (Divulgação)

Com o objetivo de valorizar a diversidade étnica e sociocultural, bem como, divulgar a cultura afro-brasileira, o empoderamento da mulher negra e a sua contribuição à comunidade, o concurso Rainha Pérola Negra chega este ano a mais uma edição em Campinas. No município, que tem 1,1 milhão de habitantes, 37% da população se autodeclarou negra e parda, segundo o Censo 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O concurso, que nasceu em 2015 para enaltecer a beleza da mulher negra e foi se modificando com o passar dos anos, está com inscrições abertas até o próximo dia 22.

No ano passado, 25 mulheres negras foram reconhecidas por seu trabalho nas áreas de Cultura, Educação pela Promoção da Igualdade Racial, Profissional de Destaque, Trajetórias de Luta e Garantia de Direitos, Desenvolvimento Comunitário, Revelação e Afirmação da Identidade. De acordo com Vandecleya Moro, secretária de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, que organiza a premiação, “o concurso é mais do que um evento de premiação. É uma afirmação de identidade, um chamado ao reconhecimento, à igualdade e ao empoderamento feminino. Ao celebrar as mulheres negras e suas contribuições em diferentes esferas da vida campineira, ele se estabelece como um marco cultural e social”, disse a titular da Pasta.

A vice-presidente do Conselho da Comunidade Negra e coordenadora social da Central Única das Favelas (CUFA) Campinas, Marcela Reis, opinou que a existência de um concurso como o "Rainha Pérola Negra" é importante por diversos motivos, dentre eles a valorização da cultura afrodescendente, o empoderamento feminino, a representatividade e a visibilidade das mulheres negras, que historicamente foram sub-representadas na mídia e na sociedade em geral, a promoção da igualdade racial, a inspiração de outras mulheres negras para perseguirem os seus sonhos, mostrando que elas também podem alcançar o sucesso e a realização pessoal em qualquer área que escolham e, por fim, o oferecimento de oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional para as participantes, capacitando-as a se destacarem em suas carreiras e comunidades.

Para a empreendedora social Mariana Regina Nunes de Campos, que venceu a premiação do ano passado na categoria Desenvolvimento Comunitário, a importância de celebrar os trabalhos sociais das mulheres negras em várias áreas é multifacetada. Ela, que é a idealizadora do Espaço Rosalina, enfatizou que o Concurso reconhece os esforços e conquistas das mulheres negras e sua participação na comunidade. “Ao destacar os trabalhos sociais das mulheres negras inspiramos outras mulheres a seguirem os seus passos e a acreditarem em seu potencial para a criação de mudanças positivas em suas próprias comunidades. Isso promove o empoderamento, incentivando mais mulheres a se envolverem em atividades sociais e a se tornarem agentes de transformação”, explicou Mariana.

O Espaço Rosalina desenvolve um trabalho itinerante em várias comunidades periféricas de Campinas promovendo diversas iniciativas voltadas para capacitar mulheres empreendedoras através de oficinas, workshops, rodas de capacitação e cursos de longa duração. Ela disse ainda que celebrar os trabalhos sociais das mulheres negras também desafia estereótipos prejudiciais e falsas narrativas sobre as suas capacidades e contribuições para a sociedade.

“Mostra que as mulheres negras são líderes, inovadoras e agentes de mudança em seus próprios direitos, e não apenas receptoras de assistência ou vítimas de injustiça. Em resumo, celebrar os trabalhos sociais das mulheres negras é fundamental para promover a igualdade, o empoderamento e o reconhecimento de suas contribuições para a construção de um mundo melhor para todos”, completou a empreendedora social.

Segundo o gestor de Política de Promoção da Igualdade Racial, Sérgio Max Almeida Prado, em um primeiro momento a ideia do concurso era celebrar a beleza estética da mulher negra, mas nos últimos anos o foco passou a ser outro.

“Desde 1957, quando houve o primeiro baile, era essa a ideia (celebração da beleza estética). E até 2015 foi assim, mas a valorização que, de fato, nós precisamos da mulher negra é justamente a de mostrar que elas são mestras, doutoras, muitas delas envolvidas com cultura, na liderança de ações afirmativas etc. Essa é a pérola que nós queremos mostrar, dar visibilidade. Isso é que é dar continuidade e ser fiel ao que Laudelina de Campos Melo queria naquele momento”. Laudelina foi uma grande defensora dos direitos da mulher negra e protagonizou importante luta pelo direito das trabalhadoras domésticas e contra o preconceito racial em Campinas.

O CONCURSO

O “Concurso Rainha Pérola Negra 2024” está com inscrições abertas até o próximo dia 22. Tanto as inscrições, quanto as indicações, podem ser realizadas, presencialmente, na Coordenadoria Setorial de Promoção da Igualdade Racial (Cepir), localizada na Avenida Campos Sales, 427, Centro, ou por meio do endereço eletrônico [email protected]. É necessário anexar, junto à inscrição ou indicação, documentos que comprovem o cumprimento dos requisitos exigidos para a disputa, além de um breve currículo da pessoa inscrita ou indicada.

As categorias são Cultura, Educação pela Promoção da Igualdade Racial, Profissional de Destaque, Trajetórias de Luta e Garantia de Direitos, Desenvolvimento Comunitário, Revelação e Afirmação da Identidade. Para se candidatar é preciso ter mais de dezoito anos, nacionalidade brasileira, ser de etnia negra e residir no município de Campinas. Além disso, é preciso entregar no ato da inscrição ou indicação um breve currículo que demonstre atuação significativa na categoria escolhida. O edital pode ser conferido através do endereço eletrônico bit.ly/4avQoFm.

As candidaturas serão submetidas à análise e seleção do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de Campinas, que adotará critérios de avaliação específicos por categoria. Eles ainda serão definidos e aprovados por seus membros.

O órgão conta com a presença de representantes do Poder Público, de universidades, de sindicatos e de dez entidades do movimento negro que foram eleitas para cumprir dois anos de mandato.

Os nomes das mulheres selecionadas em cada categoria serão divulgados no Diário Oficial do Município de Campinas no dia 6 de maio e a cerimônia de diplomação ocorrerá em um evento cultural dedicado aos 250 anos da cidade, rememorando o baile que originou o Concurso, organizado em 4 de maio de 1957 justamente pela defensora dos direitos das mulheres e das empregadas domésticas, e fundadora de uma das primeiras organizações a exigir igualdade de direitos para os negros, Laudelina de Campos Melo.

Questões não previstas no regulamento serão resolvidas pela Comissão do Concurso, composta pela Cepir e por duas pessoas designadas pelo Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de Campinas.

SOBRE LAUDELINA

Laudelina de Campos Melo nasceu em 12 de outubro de 1904, em Poços de Caldas (MG). Filha de um cortador de madeira e de uma mãe alforriada pela Lei do Ventre Livre, aos 12 anos perdeu o seu pai em um acidente de trabalho. A mais velha de cinco filhos do casal precisou largar os estudos para trabalhar com faxina para ajudar na renda familiar. E

nvolvida desde cedo com o movimento negro e atuante na luta pela causa das empregadas domésticas, mudou-se para Santos. Posteriormente, já em Campinas, fundou uma escola de música e balé. Em 1957, realizou o “Baile Pérola Negra”, o primeiro voltado para debutantes negras, no Teatro Municipal da cidade. Já existiam eventos para as jovens de 15 anos naquela época, mas as meninas negras eram proibidas de participar.

Em 18 de maio de 1961, participou da fundação da Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas a fim de estimular a alfabetização, a solidariedade e a luta contra o preconceito racial que assola a categoria ainda nos dias atuais. Ela foi presa durante a Ditadura Militar (1964-1985) e, em 1988, com a promulgação da nova Constituição, conseguiu no Congresso Nacional o reconhecimento da categoria das empregadas domésticas como trabalhadoras, permitindo que elas tivessem o direito à carteira assinada. Faleceu em Campinas, em 12 de maio de 1991, aos 86 anos.

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