JARDIM GUANABARA

Prefeitura apresenta projeto para recuperação do complexo da Mogiana

Ideia é revitalizar o espaço e transformá-lo em uma área com opções gastronômicas, culturais e de lazer

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
04/07/2025 às 09:47.
Atualizado em 04/07/2025 às 11:17
A revitalização dos prédios inclui o armazém do café, galpões, oficinas e a vila operária, onde residiam os funcionários da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação (Rodrigo Zanotto)

A revitalização dos prédios inclui o armazém do café, galpões, oficinas e a vila operária, onde residiam os funcionários da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação (Rodrigo Zanotto)

A Prefeitura de Campinas apresentou ontem o projeto para restauração da Estação da Mogiana, que tem 132 anos e mudou a história do bairro Guanabara. A transformação desejada da área de cerca de 33 mil metros quadrados (m²) inclui a criação de uma vila gastronômica, espaço de lazer, cultural e hub de inovação. A proposta inclui a recuperação e ocupação de um complexo de 30 prédios históricos, inaugurados a partir de março de 1893, além do paisagismo do entorno e integração de todos os espaços para uso e circulação da população. O desenvolvimento e execução ficarão a cargo de uma incorporadora, que captará os recursos necessários a partir da comercialização do potencial construtivo que passou a ter direito com a entrega da certidão pela Prefeitura.

O documento dá a empresa a possibilidade de utilizar ou vender esse potencial para construir empreendimentos imobiliários além do permitido pelo zoneamento em qualquer ponto da cidade, desde que o projeto atenda aos critérios exigido pela Prefeitura. O prefeito Dário Saadi (Republicanos) ressaltou a importância desse instrumento para o patrimônio histórico. “Isso é fundamental para viabilizar a restauração e preservação dessas áreas”, afirmou.

O valor arrecadado com a comercialização do potencial construtivo deve obrigatoriamente ser destinado ao restauro do bem tombado. Esse instrumento foi criado por uma lei de 2009 como forma de restituição do direito de uso da propriedade afetada pelo tombamento. Isso porque, na prática, quando um imóvel é tombado, seu proprietário deixa de ter direito ao pleno uso do terreno. Ele não pode, por exemplo, construir além dos limites definidos pela preservação histórica.

O complexo histórico da Mogiana está dentro de uma área de aproximadamente 100 mil m², pertencente à incorporadora. A revitalização dos prédios inclui o armazém do café, galpões, oficinas e a vila operária, onde residiam os funcionários da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação, fundada em 1872. Atualmente, apenas o prédio da antiga estação é restaurado e abriga, desde 2008, o Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As outras edificações apresentam as marcas do desgaste do tempo e da ocupação irregular ocorrida no passado, com vidros quebrados, sem janelas e portas, parte das paredes sem reboco, falta de telhado e outros danos.

HISTÓRIA

A Estação Guanabara foi construída em uma época em que Campinas tinha em torno de 18 mil habitantes e a economia era baseada na cafeicultura, tendo um papel importante no escoamento da produção. A estação foi criada para desafogar o tráfego ferroviário da região, sendo um ponto estratégico para a Companhia Mogiana. Ela impulsionou o desenvolvimento do bairro Guanabara, atraindo indústrias e estabelecimentos comerciais.

Ela atendia também outras linhas ferroviárias da região, como a Sorocabana e Funilense. Seu pátio chegou a possuir 13 linhas, tamanha a demanda no seu auge. Para se ter uma dimensão da importância do café na região, a então pequena Campinas chegou a ter duas estações ferroviárias, incluindo a central, inaugurada em 1872 pela Companhia Paulista de Estrada de Ferro. A da Mogiana operou até 1974, quando suas atividades foram encerradas e suas instalações desativadas.

A importância histórica do complexo levou ao seu tombamento em 1998 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Para a secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, a restauração e revitalização serão importantes para garantir o acesso da população. “O desenvolvimento fará com que uma área particular se torne um patrimônio público”, projetou. De acordo com o prefeito, já está em fase de negociação a instalação de um espaço para o polo cervejeiro de Campinas na Mogiana.

A previsão é que o espaço também receba restaurantes e a instalação de empresas de tecnologia e inovação. O projeto é semelhante ao previsto para ser criado em uma área de 44 mil m² da Estação Cultura, no Centro. “A restauração é importante para o resgate da memória e da identidade cultural de Campinas”, avaliou o sóciodiretor da incorporadora responsável pelo projeto, Fábio Bailune. Não há uma previsão para o desenvolvimento do projeto, com a implantação sendo executada de acordo com a comercialização do potencial construtivo.

FUTURO

A empresa, no entanto, planeja um empreendimento imobiliário no entorno da Mogiana, com um mix de edifícios comerciais, residenciais e voltados para consultórios médicos. “A ideia é que os moradores não tenham que se deslocar de carro para trabalhar, fazer compras”, disse Fábio Bailune. A proposta prevê a integração com o espaço histórico e com o CIS-Guanabara.

“Ele é um portal da Unicamp para a cidade”, afirmou a pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura da universidade, Sylvia Helena Furegatti. De acordo com ela, o espaço faz parte da proposta da instituição, localizada no distrito de Barão Geraldo, de estar presente em outros pontos de Campinas, inclusive na periferia. O Centro Cultural atende aproximadamente 35 mil pessoas por ano, promovendo ações nas mais variadas vertentes da arte, educação e cultura.

Após a desativação há 51 anos, a Estação Mogiana, na época pertencente à Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), teve suas edificações abandonadas e sofreu ocupações ilegais, acarretando num processo de depredação patrimonial. A revitalização do prédio ocupado pelo CIS teve início em 2006 através de parceria público-privada. O Centro Cultural foi inaugurado dois anos depois.

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