Administração informa que reforma do mezanino e dos boxes está em fase final
Ao longo de sua existência, o Mercadão passou por várias reformas e pequenos ajustes, mas essa é a primeira obra de impacto com intervenções na parte elétrica e hidráulica e atualização arquitetônica da edificação com todo o cuidado que um espaço tombado requer (Rodrigo Zanotto)
A reforma do Mercado Municipal de Campinas, amplamente aguardada pelos comerciantes e consumidores, não ficará pronta para as festividades de Natal e Ano Novo. Originalmente prometida para conclusão até o final de 2024, a entrega das obras foi adiada para janeiro de 2025, conforme informou a Prefeitura Municipal de Campinas em outubro. As obras começaram em 24 de julho de 2023, e têm como objetivo modernizar o Mercadão, um edifício histórico e tombado, projetado pelo renomado arquiteto Ramos de Azevedo.
A prefeitura esclareceu que as obras internas no mezanino e nos boxes estão em fase de conclusão, ao mesmo tempo em que são finalizadas as construções de infraestrutura de água, esgoto, hidráulica e elétrica. O atraso na entrega foi atribuído a um imprevisto: a necessidade de realizar a drenagem de um corpo d'água sob o prédio, uma complexidade inesperada, dada a idade e a importância histórica do edifício.
Os permissionários, que operam em 100 boxes dentro do Mercadão, aguardam ansiosamente a conclusão das reformas. No momento, somente 15% dos projetos de alteração dos boxes foram aprovados pela Setec, órgão responsável pela aprovação de obras em bens tombados. Os boxes serão entregues com revestimento de parede e piso, mas os comerciantes que desejarem personalizações devem apresentar seus projetos para avaliação da Setec.
A nova previsão de entrega da reforma, atrelada a quantidade de boxes que ainda precisarão passar por obras, gerou preocupação entre os permissionários. Para Edson Shinabukuru, que já foi líder da Associação dos Permissionários do Mercado Municipal e há 25 anos tem um hortifruti no local, não há como entregar a reforma do Mercadão com as lojas internas já em funcionamento. Edson compreende que algumas obras podem demorar mais de um mês e, "seria estranho inaugurar o prédio com as lojas fechadas". Ele concluiu que faltou uma abertura maior do poder público, com mais transparência entre o avanço da obra com as necessidades em relação a aprovação dos projetos dos permissionários. "Pedimos uma reunião, mas a prefeitura não quis nos receber".
Durante o período das obras internas, os permissionários foram alocados em tendas climatizadas no estacionamento do Mercadão. Segundo a prefeitura, sem prejuízo das atividades comerciais. Porém, a situação vivida pelos comerciantes é diferente. "Em 45 anos de trabalho no Mercadão eu nunca passei uma situação tão difícil como está", exclamou José Antônio Peres, que vende embutidos e produtos voltados à culinária brasileira. Ele explicou que já registrou 49˚C em sua loja e que o forte calor é constante dentro da tenda. José instalou três circuladores de ar com o intuito de amenizar a sensação desconfortável e relatou que os equipamentos de refrigeração são mais exigidos, aumentando os custos de funcionamento. "As despesas com água e energia elétrica dobraram, enquanto as vendas caíram em 50%."
De acordo com Shinabukuro, a queda nas vendas também é causada pela falta de acessibilidade que os clientes encontram. Ele apontou que a falta de um estacionamento, ocupado pelas tendas provisórias, e não ter um local adequado para a parada rápida de veículos, como os que trabalham com transporte de aplicativo, dificulta o acesso do público. José Antônio Peres concordou com o colega de trabalho. "A maioria da minha clientela tem um pouco mais de idade e sente dificuldade de se locomover pelo local", relatou. Para ele, o fim da reforma será um alívio, pois será uma oportunidade de resgatar o público cativo e fidelizar novos clientes. "Tem pessoas que compram comigo a mais de 30 anos e que ainda não voltaram durante essa obra, mas espero que tudo volte ao normal com a conclusão do projeto."
Cláudia Lourenço vende sucos e produtos derivados de milho há 38 anos. Ela contou que o maior problema da tenda provisória é o calor, mas que consegue trabalhar sem demais interferências. Com relação às vendas disse que estão estáveis e pretende vender mais sucos com a chegada do verão. Questionada sobre o atraso da entrega das obras de restauração do Mercadão, ela disse que "vai ficar para o ano que vem mesmo".
Silvana Aparecida Barbosa vende pimentas há 25 anos, mas trabalha no local desde pequena. "Ajudava meus pais em uma banca de legumes, que foi construída em 1958, eu comecei a trabalhar por volta de 1980". Ela destacou dois pontos negativos das instalações provisórias, o excesso de calor, já que "o sistema de ventilação praticamente não funciona", e a queda de 50% nas vendas. "Por causa da divisão dos barracões provisórios, muitos clientes não conseguem me encontrar." Silvana contou que os primeiros seis meses foram muito difíceis para honrar as obrigações financeiras, mas, agora, a situação melhorou. "Estou conseguindo pagar as contas, principalmente a escola da minha filha". Ela se esforça para manter o volume de vendas e agradar os clientes, com simpatia e bom humor, porém, nem sempre as relações de venda saem como o esperado. "Algumas pessoas reclamam que as pimentas a granel estão um pouco meladas, mas eu preciso molhá-las para que não murchem por causa da temperatura." Apesar das dificuldades, ela está otimista e um pouco ansiosa para voltar à parte interna do Mercadão. "Até sonhei com o meu box pronto e funcionando, não vejo a hora", concluiu.
A prefeitura afirmou que com a reforma a área de atendimento ao público será maior, com os boxes padronizados. Além da substituição da parte elétrica, nova canalização de esgoto e revitalização da fachada, as melhorias também contam com a instalação de elevadores, banheiros e um mezanino que abrigará dois restaurantes. O investimento total da revitalização é de cerca de R$ 6,1 milhões.
O MERCADO
O prédio do Mercado Municipal completou 116 anos em abril e é considerado uma das "7 Maravilhas de Campinas". A edificação foi projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo no estilo neomourisco. A reforma, aguardada há décadas, trará um salto de qualidade para a região e, além de contribuir para a requalificação da área central, será mais um atrativo turístico para a cidade.
Ao longo de sua existência, o Mercadão passou por várias reformas e pequenos ajustes, mas essa é a primeira obra de impacto com intervenções na parte elétrica e hidráulica e atualização arquitetônica da edificação com todo o cuidado que um espaço tombado requer. Os comerciantes do local oferecem aos campineiros uma gama extensa de produtos raramente encontrados em outros locais da cidade: queijos, laticínios, grãos de todos os tipos, fumo de corda e itens de tabacaria, sapatos, destilados, equipamentos para pesca, artigos de cutelaria, carnes, peixarias, além de hortifrúti.