ENTREVISTA

Precursora do bebê reborn colhe os frutos da moda, mas enfrenta reações

Loja em Campinas virou referência na produção dos brinquedos realistas que se tornaram um dos assuntos mais comentados no País

Manoel Alves Filho; Bruno Luporini/bruno.luporini@rac.com.br
08/06/2025 às 11:33.
Atualizado em 08/06/2025 às 12:36

A Alana Babys se destacou no cenário nacional como a principal referência na fabricação e venda de bebês reborn (Rodrigo Zanotto)

Uma loja de Campinas se tornou o centro da recente polêmica com relação aos bebês reborns no Brasil. As bonecas hiper-realistas ganharam destaque nas redes sociais, viralizando em mídias como TikTok, Instagram e Youtube. Muitas polêmicas ganharam força, como pessoas que estariam levando as bonecas para serem atendidas em hospitais, a consultas médicas e até mesmo pedindo auxílio assistencial ao Governo. Outra questão levantada foi a interação dos adultos com as bonecas, que estariam causando problemas psicológicos. 

Nesse cenário, uma loja de Campinas se destacou no cenário nacional como a principal referência na fabricação e venda de bebês reborn. Daniela Baccan, sócia da irmã Alana desde a fundação da Alana Babys, concedeu ao jornal Correio Popular uma entrevista onde contou sobre o trabalho de fabricação dos bebês reborns, como se tornaram a principal loja de referência no assunto no País e refletiu sobre as repercussões recentes acerca do assunto.

Tamanha repercussão levou o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP) a emitir uma nota, onde pontuou que os profissionais de Psicologia devem considerar o papel desses objetos na construção da subjetividade nos casos em que os bebês reborn são tratados como substitutos simbólicos ou reais de afeto, pois eles podem funcionar como suporte emocional em situações de luto, trauma ou solidão. A Psicologia deve observar quando essa prática representa rigidez ou sofrimento e intervir com escuta, acolhimento e ética, conforme o código da profissão. A nota ainda apontou que é preciso reconhecer o papel de gênero, uma vez que as mulheres podem ser ridicularizadas por essa prática, enquanto hobbies similares entre homens, como colecionar miniaturas ou camisas de futebol, são normalizados.

Como vocês começaram com a fabricação e venda dos bebês reborns?

Tudo começou há quase vinte anos, com minha irmã Alana. Ela sempre gostou de bebês e de arte como um hobby. Quando ela descobriu as bonecas mais realistas, decidiu que era aquilo que ela queria fazer. Imagina o desespero da minha mãe, pois a Alana estava no último semestre da faculdade de enfermagem na PUC-Campinas. Trabalhava como babá na época e abandonou o curso, mesmo no fim. Comprou algumas bonecas no Centro, ainda nada relacionado à arte reborn, mas foi quando começou a pintar as primeiras bonecas. Ela conseguiu um espaço no shopping Unimart para expor as peças e conseguiu vender as 15 bonecas que levou.

Você começou junto com a Alana nesse projeto?

Eu era assistente social na época, que é a minha formação profissional. Eu trabalhava na Apae de Campinas. Minha irmã começou o trabalho sozinha e eu entrei depois, colocando os cabelos das bonecas, fazendo os implantes fio a fio com uma agulha. É um trabalho artesanal, totalmente feito a mão.

Parece bastante com o procedimento de recapilarização em pessoas. 

Sim, é o mesmo processo fio a fio. Eu fazia os implantes capilares e ela as pinturas. Em 2009, entramos no Shopping Parque Dom Pedro, com um quiosque, já como algo mais profissional, até porque já tinha um número maior de bonecas para vender. Ela sempre gostou muito de bonecas, desde crianças e eu de vendas, dos números. Uma completou a outra. 

De onde vinham as bonecas, enquanto matéria prima para a customização?

Nesse começo a Alana comprava bonecas convencionais mesmo. Desmontava o brinquedo todo e fazia o processo de pintura personalizada, alterando também o peso do corpo e o implante dos cabelos.

Precisa, pelo visto, ter uma técnica muito apurada para a confecção das bonecas. De onde surgiu essa prática de fazer bebês mais realistas?

Sim, a arte reborn veio após a Segunda Guerra Mundial, onde as bonecas estavam em pedaços e as mulheres juntavam essas partes para montar bonecas novas. Por isso que é reborn, que é o renascimento das peças. Desde então as técnicas foram se desenvolvendo e quanto mais realidade tem a boneca maior valor agregado ela possui. No caso, minha irmã fazia e ainda faz cursos até hoje para aprimorar as técnicas, até porque ela tem que entender as inovações que vão surgindo.

Com relação ao material, quais são os mais utilizados?

Hoje existe o boneco todo molinho, que é esse que ficou mais famoso, são feitos de silicone e é uma técnica que surgiu há uns três anos. Na maioria das vezes as bonecas são feitas de vinil. Em ambos os casos a pintura que dá a característica se ela será loira, morena ou negra.

Viralizaram nas redes sociais alguns vídeos que mostram até partos de bebês reborn, com cordão umbilical e placenta. Essas bonecas são da Alana?

A maioria desses bebês bem realistas, que viralizaram na internet e levantaram todas essas polêmicas, são nossos mesmo, que têm os detalhes do umbigo com o cordão umbilical e a placenta, tudo feito à mão. Esse tipo de boneca nós vendemos muito para a área da saúde, servem como material didático pedagógico para os cursos de amamentação, treinamento de doulas, elas têm essa utilidade. 

Em uma reportagem publicada pel

o Correio Popular, percebemos que na loja existem algumas incubadoras, elas são reais? 

Sim, são incubadoras reais, mas elas foram compradas de um hospital que estava desativado e os equipamentos iriam para um ferro velho. A Alana comprou e levou para um pessoal que restaura carros e eles fizeram toda a revitalização dos equipamentos. Claro que elas não funcionam, mas fazem parte da experiência da loja.

É de fato um produto que causa um impacto nas pessoas, sobretudo naquelas que nunca viram um bebê reborn.

Mesmo com muitos anos no mercado, até hoje tem o público que ama e aquele que odeia, mas igual essa repercussão recente nas redes sociais, nunca havia acontecido, estamos com bastante dificuldade na loja.

Por conta da curiosidade das pessoas?

Na verdade, pelo volume de críticas. Nosso público, e isso é importante ressaltar, é o público infantil. Então às vezes entra alguém na loja dizendo que parecem bebês mortos, que não gosta, que esse produto está enlouquecendo as mulheres e ali tem uma criança querendo comprar uma boneca com a família. Não é um presente barato, normalmente os pais vão em datas especiais, como aniversário, Natal, Dia das Crianças e nós, com as meninas da loja vestidas de enfermeiras para termos essa magia para a criança.

Existe toda uma ação de venda na loja, para que as crianças recebam as bonecas de uma forma bem realista também.

Sim, elas entregam o bebê em um carrinho, fazem todo o procedimento de pesagem, de medir o bebê, eles vêm com certidão de nascimento também. O problema é o adulto que viu na internet as polêmicas e está ali criticando, estragando a experiência da criança com o presente dela.

O brinquedo em si não faz mal nem bem, depende do uso que as pessoas fazem, como a própria internet, podemos utilizá-la com interações positivas ou negativas. Você analisa dessa mesma forma o comércio dos bebês reborns?

A loja e seus produtos são para as crianças, para estimular a criatividade delas, é um brinquedo que as tira das telas e as retorna para o brincar. É uma boneca, uma boneca realista. Tanto que dificilmente uma criança sai com a boneca na sacola, elas saem carregando as bonecas no colo. Tem uma questão interessante que é a vacinação, nós temos um cartão que tem uma data para retorno, para a boneca tomar a vacina. Muitas vezes, os pais fazem isso e aproveitam para levar a criança para vacinar de verdade, pois a boneca serve de exemplo de que é importante tomar a vacina.

*Para conferir a entrevista na íntegra, assine o Correio Popular.

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