Maior diferença foi encontrada na gasolina comum, que chega a custar R$ 5,79
Motoristas que foram ontem abastecer seus veículos se surpreenderam com os aumentos aplicados nos combustíveis em apenas uma semana e ainda mais com as diferenças de valores encontradas nos postos da cidade (Gustavo Tilio)
Os preços dos combustíveis de Campinas voltaram a registrar grandes variações, que chegam a 35,6%, após novos aumentos repassados por parte dos postos, que vão de R$ 0,10 a R$ 0,20 por litro, dependendo do estabelecimento. A maior diferença é no valor da gasolina comum, comercializada entre R$ 4,27 e R$ 5,79. Para encher o tanque de um carro hatch popular, o motorista pode gastar até R$ 76 a mais em virtude dessa variação. No valor mínimo encontrado, o custo seria de R$ 213,50, enquanto que no máximo, R$ 289,50.
Ou seja, com a diferença, seria possível comprar 17,8 litros de gasolina a mais no posto com o menor valor. A professora Tânia Giraldi foi surpreendida ontem com a diferença de preços, ao pagar R$ 4,69 pela gasolina. “Na segunda-feira passada, paguei R$ 4,49”, disse.
A gerente de um estabelecimento no Parque Industrial, Lucilene Sabbadin, aponta que a gasolina sofreu reajustes fracionados nos últimos dias, somando R$ 0,10. Já o etanol subiu R$ 0,13 de uma vez na sexta-feira passada. “Nós repassamos R$ 0,10 para os consumidores, vendendo o litro a R$ 3,69. Não tem o que fazer, não dá para manter o preço porque a margem é muito pequena”, justifica. De acordo com ela, a distribuidora não explicou o motivo do aumento, apenas atualizando a tabela de preços.
No caso do etanol, a variação chega a 34,25%. O menor preço encontrado nos postos da cidade é R$ 3,27, enquanto o mais alto é R$ 4,39. Considerando o valor mínimo da gasolina e etanol, não é vantajoso usar o derivado da canade-açúcar. Por ter menor rendimento, ele deveria custar, no máximo, 70% do valor do combustível fóssil. Nesse caso, R$ 2,99.
Variações
“Quando começou o protesto dos caminhoneiros na semana passada, os postos aproveitaram e reajustaram os preços”, diz o motoboy André Prates, que gasta em torno de R$ 500 por mês para trabalhar com a motocicleta.
“Os valores estão variando muito, normalmente uns R$ 0,20 de um posto para outro”, afirma o motofretista Gabriel Fernando de Cena, que também percebeu variações na gasolina nos últimos dias.
Ele pagou R$ 4,87 o litro ao abastecer na manhã de ontem. Para economizar, o motociclista procura o menor valor no trajeto que costuma fazer.
O caminhoneiro Ricardo Félix dos Santos abasteceu a R$ 6,19 o litro do óleo diesel comum, mas já pagou R$ 7,20 em outros municípios. “Está tendo muita diferença”, afirma Félix, que carregou em Campinas antes de seguir viagem para Mauá, município da Grande São Paulo.
Apesar de a Petrobras manter os preços dos combustíveis na refinaria há 60 dias, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tem identificado variações nos valores praticados pelos postos em suas pesquisas. De acordo com o órgão federal, a gasolina teve alta de 0,6% em todo o País na semana de 23 a 29 de outubro, último levantamento divulgado.
Porém, os reajustes não chegaram a todos os postos ou os aumentos ocorreram em datas diferentes. “Nós não tivemos reajuste nos últimos 60 dias, mas não sei até quando os preços serão mantidos. Pode ser que amanhã a coisa mude”, diz o gerente de um posto no Jardim Aurélia, Francenildo Siqueira.
Já outros estabelecimentos da mesma rede reajustaram recentemente a tabela. Em um deles, no Guanabara, a gasolina passou de R$ 4,79 par R$ 4,99 na última sextafeira, voltando a se aproximar de R$ 5 o litro.
Em outro, na Vila Nova, a gasolina subiu R$ 0,10 e passou a ser vendida a R$ 4,69 poucos dias antes do segundo turno das eleições, em 30 de outubro. “Os valores estão sendo mantidos depois desse aumento”, afirma o gerente Anderson Almeida. Ele aponta que o bloqueio de estradas pelos caminhoneiros na semana passada não afetou a tabela. “Por causa do protesto, os combustíveis acabaram na noite do dia 1º e ficamos fechados no dia 2. Nós voltamos a receber na madrugada do dia 3”, explica.
Preço defasado
O proprietário de um posto de combustíveis, que pediu para não ser identificado, disse que o último reajuste pode ter sido praticado por algumas distribuidoras para recompor suas margens de lucro, o que explicaria o fato de não ter sido generalizado. Porém, o setor aponta que há possibilidade de novos aumentos por causa da variação do dólar e do aumento do petróleo no mercado internacional.
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o litro da gasolina deveria subir, em média, R$ 0,32, para acompanhar a alta no exterior. No caso do óleo diesel, entidade calcula que a defasagem em relação ao mercado externo é ainda maior, de R$ 0,62. Desde 2016, a Petrobras adota como referência o Preço de Paridade de Importação (PPI), que leva em conta as variações do petróleo no mercado internacional, além da cotação do dólar.
Oficialmente, a estatal divulgou que segue monitorando continuamente o mercado e os movimentos nas cotações do petróleo e derivados. “A companhia reafirma seu compromisso com a prática de preços em equilíbrio com o mercado, sem repassar a volatilidade conjuntural nem movimentos especulativos como os que estão sendo observados recentemente”, informou a empresa em nota.
Para o economista Lúcio Casparini, isso significa que a posição da Petrobras é fazer reajustes mais espaçados, para que a especulação não impacte o preço no Brasil, além de ter segurado os aumentos por causa das eleições. Ele acredita, no entanto, que a Petrobras deverá elevar os preços nas refinarias ainda este mês.
Casparini lembra que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) está sofrendo pressão para manter a produção mundial e segurar os preços internacionais. Porém, a entidade tem reafirmado sua posição para reduzir a oferta. “Se isso se confirmar, haverá um aumento substancial do valor do combustível em 2023”, afirma o economista. No caso do Brasil, explica, teria que haver uma mudança na política de preços da Petrobras para reduzir esse impacto.
Ele lembra que o preço da gasolina chegou a passar dos R$ 7 o litro e caiu a partir de julho por causa do corte dos tributos federais, além da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é estadual. Também contribuiu para segurar os preços a queda do valor do barril do petróleo nos últimos meses.
Esse cenário, no entanto, mudou nas últimas semanas, devido à instabilidade no cenário internacional, e o preço voltou a subir. A última alteração nos preços dos combustíveis nas refinarias foi anunciada pela Petrobras no início de setembro, uma redução de 7%. O preço do barril de petróleo Brent foi comercializado ontem na Bolsa de Valores de Londres a US$ 98,03 (R$ 501,91), o que representa uma alta de 3,29% no prazo de um mês. Em 6 de outubro, o produto era cotado a US$ 94,92 (R$ 485,99).