LEVANTAMENTO DA ANP

Preço médio de combustíveis sobe nos postos de Campinas

Etanol subiu 7,2%, acima da inflação de 4,62% registrada no ano passado; valor médio da gasolina também aumentou, mas abaixo da inflação

Paulo Medina/ [email protected]
12/03/2024 às 09:02.
Atualizado em 12/03/2024 às 09:02
Etanol subiu R$ 0,24 nas bombas da cidade; agora, o preço comercializado em Campinas oscila entre R$ 3,29 (o mínimo) e R$ 3,79 (o máximo); para a gasolina, que aumentou R$ 0,16, o valor praticado gira em torno de R$ 5,29 e R$ 5,99 (Rodrigo Zanotto)

Etanol subiu R$ 0,24 nas bombas da cidade; agora, o preço comercializado em Campinas oscila entre R$ 3,29 (o mínimo) e R$ 3,79 (o máximo); para a gasolina, que aumentou R$ 0,16, o valor praticado gira em torno de R$ 5,29 e R$ 5,99 (Rodrigo Zanotto)

Após a reoneração dos combustíveis aplicada em fevereiro em todos os estados brasileiros, o preço médio do etanol e da gasolina comum aumentou nos postos de Campinas. É o que mostra levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na primeira semana de março, o valor médio do etanol já custava R$ 0,24 a mais nas bombas da cidade e a gasolina subiu R$ 0,16. Motoristas sentem no bolso o impacto dos preços, falam em prejuízos e relatam desesperança com uma futura queda nos valores.

Os profissionais que dependem de carro para trabalhar e fazer entregas dizem que gastam até R$ 4 mil por mês somente para abastecer. A previsão do setor é de novas altas por causa da escassez nos estoques, o que acontece pela aproximação do início da safra.

De acordo com a ANP, o etanol aumentou de R$ 3,30 na primeira semana de fevereiro para R$ 3,54 agora em março. Alta de 7,2% e que supera a inflação do ano passado, que foi de 4,62%. O preço mínimo do etanol comercializado em Campinas é R$ 3,29 e o máximo, R$ 3,79. A gasolina, por sua vez, saiu de R$ 5,48 o litro em fevereiro para R$ 5,64 em março, registrando elevação de 2,9%. O valor máximo apurado por litro é R$ 5,99, enquanto o mínimo no município é R$ 5,29.

Exemplificando, quem abastece totalmente o tanque com etanol em um carro popular, com capacidade para 51 litros, uma vez por semana, gasta em média R$ 49 a mais por mês para se locomover, considerando o preço médio do combustível em Campinas. Um tanque cheio de etanol em Campinas custa, em média, R$ 180,54. Esse combustível, porém, apresenta rendimento menor na comparação com a gasolina. Com base no valor médio cobrado nas bombas da cidade, é preciso R$ 287,64 para abastecer totalmente um tanque de gasolina.

Os motoristas sentem o peso dos valores de março no bolso. “Percebi esse aumento de um mês pra cá. Estava R$ 2,99 o etanol, depois foi para R$ 3,10. Agora, está em R$ 3,39. Abasteço todo dia no álcool e estou gastando uns R$ 30 a mais por dia (R$ 660 por mês) por causa do meu trabalho”, relatou o entregador de cosméticos, que atua em Campinas e região, Eduardo Rocha, de 42 anos, morador do Jardim Carlos Lourenço. Ele já gasta R$ 4 mil mensais somente para abastecer. “Não acredito em uma redução de preços no futuro”, lamentou.

Morador de Hortolândia, o mecânico Diones Silva, de 41 anos, abastecia na segunda-feira (11) em um posto às margens da Avenida Aquidabã. Para tentar equilibrar as contas, ele contou que procura estabelecimentos em promoção. “Escolho o posto mais barato e paro na hora para abastecer. Mesmo assim, às vezes você vê diferença (no bolso) e vai ser assim o resto da vida.”

O manobrista Elcio de Souza, de 53 anos, do Jardim Monte Cristo, torce para não haver novos aumentos. “Gasto R$ 250 por mês com etanol para trabalhar. Nesses últimos dias subiu R$ 80 o meu custo com combustível”, exemplificou.

Para o zelador Cristiano Marsolli, de 42 anos, esse aumento de preços é sinônimo de prejuízo. “Para nós, é prejuízo. Eu recebo quinzenalmente e tenho que reservar o dinheiro do combustível. Faço zeladoria na região toda e desembolso R$ 200 por dia. Está dando uma diferença de R$ 400 por mês.” 

Quem trabalha de motocicleta também não escapa da alta dos custos, mesmo tendo um veículo mais econômico. É o caso do Luan Gabriel Ferreira Fernandes, de 22 anos, instalador de câmeras e sensores de segurança. “Uso dois tanques por semana, gasto uns R$ 70 em cada. Abastecer está me custando R$ 50 a mais por mês. Sinto o peso, sim. A sorte é que ganho bem, caso contrário seria mais complicado.”

Gerente de um posto com bandeira instalado na Avenida Norte-Sul, Guilherme Roberto de Melo, de 27 anos, afirmou que a rede que administra o estabelecimento é quem define os valores dos combustíveis, mas que o etanol e a gasolina possuem preços entre R$ 0,20 e R$ 0,30 mais caros no local em comparação a comércios sem bandeira. No comércio, o etanol custa R$ 3,75 e a gasolina, R$ 5,85. Os reajustes são realizados de acordo com o que se cobra na cidade, explicou.

“Postos com bandeira cobram mais por causa do processo de qualidade (do combustível e atendimento, por exemplo). Postos sem bandeira cobram até R$ 0,40 mais barato, mas há um risco (de danificar o carro)”, analisou o gerente. Ele também comentou a recuperação do movimento no local diante de uma queda superior a 30% neste início de ano. “As pessoas estavam sem dinheiro e pagando impostos, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).”

O diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados (Recap), Emílio Martins, prevê novos aumentos pela frente com o fim da entressafra e o início da safra, período caracterizado pela baixa nos estoques de combustíveis. “A reoneração acontecida em fevereiro trouxe um reflexo nos preços de combustíveis. Porém, não são só impostos, Pis/Cofins, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), que influenciam nas variações de preço. A cotação, principalmente dos biocombustíveis, tem um peso muito grande. No caso do anidro, influencia sobremaneira na gasolina, que acaba tendo seus preços elevados nesse período por conta das fortes altas desse biocombustível, já que a gasolina tem 27% da sua composição de etanol anidro. No caso do (etanol) hidratado, ele também sofreu uma alteração de preço para cima muito grande por conta da entressafra. Nós estamos no período de entressafra e à medida que nós vamos nos aproximando do início da safra, os estoques vão acabando e o preço vai aumentando. Existe esse movimento. No caso do diesel, o biodiesel acaba tendo também uma forte influência no preço. Esses são os motivos pelos quais o mercado se acomoda e os preços se ajustam”, analisou Martins.

Desde fevereiro, os combustíveis vêm subindo devido ao aumento de 12,5% do ICMS sobre o diesel, gás de cozinha e a gasolina. A medida impactou todos os estados da federação. O percentual entrou em vigor em 1º de fevereiro. A reoneração foi confirmada pelo Comitê Nacional de Secretários de Estado da Fazenda (Comsefaz) em outubro do ano passado, colocando um ponto final em um período de isenções de tributos sobre os combustíveis que se mantinha desde 2021.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por