Em Campinas o quilo do feijão carioquinha chegou a casa dos R$ 16. De janeiro a maio, a alta foi de 28,1%, segundo pesquisa de auditoria de varejo da GFK. O mesmo levantamento aponta que o arroz ficou 5% mais caro no período.
Pressionados por problemas climáticos, os preços do prato típico do brasileiro, o feijão com arroz, dispararam neste ano (César Rodrigues/AAN)
Prato típico da culinária brasileira, o arroz com feijão está se tornando ‘indigesto’ para o bolso. Em Campinas, o quilo do feijão carioquinha chegou à casa dos R$ 16,00. De janeiro a maio, a alta foi de 28,1%, segundo pesquisa de auditoria de varejo da GFK. O mesmo levantamento aponta que o arroz ficou 5% mais caro no período. O clima é apontado como o maior vilão do aumento de preços. A seca no momento do plantio e chuva excessiva na colheita interferiram na quebra da safra. Os consumidores estão assustados e buscam alternativas para não deixar os produtos faltarem na mesa. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a variação nas capitais, aponta a alta ainda mais acentuada do preço do feijão, que subiu 33,49% no ano até maio, e 41,62% em 12 meses. O arroz fica um pouco atrás, mas não tanto. A cotação do saco de 50 quilos do arroz tipo 1, em casca, atingiu R$ 44,52 na sexta-feira, o maior valor registrado no Rio Grande do Sul — maior produtor brasileiro de arroz — em quase 20 anos, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Este cenário não deve mudar pelos próximos meses. Em Campinas, o arroz branco e o parboilizado pode ser encontrado por R$ 4,49, o quilo. Em uma rede de supermercados, o quilo do feijão carioquinha, o mais usado, custava R$ 15,99. No Mercado Municipal, o quilo do mesmo produto foi encontrado a R$ 12,00. Diretor da Unidade de Auditoria de Varejo da GfK, Marco Aurélio Lima, ressalta que o preço do feijão vem sofrendo pressão desde o final do ano passado, quando já se previa uma quebra de safra. Na época do plantio, em 2015, havia falta de água em regiões importantes como Paraná e Minas Gerais, o que fez o produto não se desenvolver bem. Porém, na hora da colheita em 2016, o excesso de chuvas atrapalhou a lavoura, gerando quebras de 20% a 30% nestas regiões. “Os extremos que aconteceram no momento do plantio e da colheita interferiram na elevação dos preços”, disse Marco Aurélio. No caso do arroz, a chuva excessiva no Rio Grande do Sul há cerca de um mês também atrapalhou a colheita. Um estudo realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) também aponta que, além do clima, a queda na área cultivada com feijão em São Paulo e na produção na safra 2015/2016 reflete a diminuição drástica de área em três das quatro principais regiões produtoras do Estado. “Essa acelerada no aumento dos preços na última semana já reflete a incidência das geadas. Então, já vinha em crescimento acelerado, e com a geada acabou dando um salto”, explicou José Roberto da Silva, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura do Estado. Panorama Os pesquisadores acreditam que os preços devem continuar altos pelos próximos meses, em razão dos períodos da colheita. Segundo Silva, a safra do arroz ocorre uma vez ao ano. Do feijão, são três vezes. “Teremos temporada de preços altos pelo menos até setembro. Pode ser que em setembro tenha uma perspectiva de produção melhor e dá uma aliviada”, disse. Uma alternativa seria a importação, mas levando em consideração a taxa do câmbio e o tempo para importação não resolveriam o problema tão rápido. “Não sei se governo acabou importando ou se vai importar, mas mesmo que isso ocorra o preço é em dólar. A saída seria importar e subsidiar a importação para conseguir trazer o preço um pouco mais para baixo”, acrescentou Lima. Leite longa vida e açúcar estão mais caros Os consumidores também estão sentindo a alta do aumento em outros dois produtos essenciais na mesa: o leite longa vida, que desde o início do ano subiu 19,3%, e o açúcar, que subiu 18,2%. A elevação do preço do leite deve impactar no preço da muçarela e outros derivados. “O açúcar é mais fácil de driblar porque as pessoas estão passando a consumir menos o produto”, afirmou o diretor da Unidade de Auditoria de Varejo da GfK, Marco Aurélio Lima. Campineiro busca opções para substituir produtos Os campineiros buscam alternativas para driblar a alta dos preços. Depois de ver o preço do fardo de feijão subir de R$ 180 para R$ 320 em um intervalo de dez dias, Talita Cristina Ferreira, proprietária do Restaurante Max, passou a intercalar o feijão carioquinha com o feijão preto, que não sofreu com a alta dos preços — a maior parte do produto é importada da Argentina. Ela também passou a buscar promoções nos supermercados e estocar o produto. Em média, ela serve cerca de oito quilos de feijão por dia e as medidas são para evitar repassar o aumento aos clientes. “Não encontrei outras alternativas senão intercalar. Meu almoço é R$ 8. Como vou manter esse preço com o quilo do feijão a R$ 11. Tá que nem ouro. Achei o quilo por R$ 8 numa promoção e decidimos estocar”, acrescentou. Para a aposentada Helena Fernandes da Silva, de 64 anos, o feijão com arroz sustenta o brasileiro. “Não tem como substituir. A mistura até dá para improvisar. Você pode comer carne uma vez por semana, ovo. Agora o feijão com arroz é sagrado. Tem que ter todo dia”, disse ela que até está procurando um “bico” como diarista para ajudar a comprar o feijão. Proprietário de um bufê, Cristiano Ittner achou o preço do feijão um abuso. “Troquei o carioca pelo preto, que está mais barato”, disse. Já Neide Dias disse que dá preferência para outros tipos de feijão — branco e azuki. “Tem que usar a criatividade para fugir do carioquinha”. A dona de casa Elizabete Araújo, de 53 anos, disse estar indignada. “Está difícil sobreviver até para comer. O feijão para mim é prioridade. Se não tem feijão, a comida não tem graça. Mesmo caro, não tiro do cardápio, mas por esse preço, tem gente que não consegue pagar. Proprietário de um box no Mercadão, Tsai Tsung Cheng disse que os consumidores têm reclamado muito do preço. Ele conta que vendia o quilo do carioquinha a R$ 7,50 há um mês. Agora é R$ 12. “O fornecedor diz que está em falta e que não está tendo uma boa colheita”.