Com o aumento de quase 20% no litro de etanol, fica praticamente inviável ao consumidor encher o tanque de veículos flex com o biocombustível (Kamá Ribeiro)
O preço do etanol disparou nos postos de combustíveis de Campinas, com reajuste de 18,69% nos últimos 40 dias, e puxou também alta na gasolina. Em um estabelecimento na Avenida Moraes Sales, no Centro, o litro do biocombustível passou de R$ 4,279 no dia 11 de março, quando entrou em vigor o último aumento da Petrobras para as distribuidoras, para os atuais R$ 5,079.
Apesar de o preço do produto estar abaixo do praticado na maioria do postos, é o que teve o maior reajuste. A diferença de R$ 0,80 por litro representa aumento de R$ 36 para a encher o tanque de um carro popular com capacidade de 45 litros. Em 11 de março, o valor era de R$ 192,55, enquanto que agora sai por R$ R$ 228,55.
"Está ficando difícil andar de carro. O combustível está muito caro", reclama o vendedor Antonio Carlos Santos, que na sexta-feria (22) colocou R$ 50 de combustível no carro."Com pouco no tanque, é mais fácil controlar e evitar rodar à toa", completa.
De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Campinas (Recap), Emílio Martins, o aumento do etanol hidratado foi motivado pelas usinas de cana-de-açúcar, que estão acompanhando a elevação da gasolina, que é derivada do petróleo. Para ele, o preço do biocombustível deveria estar em baixa, pois o país iniciou este mês o período de safra, com aumento da oferta do produto. Porém, como o preço dos combustíveis é livre, as usinas optaram por manter a paridade do etanol em relação a gasolina.
A previsão para a safra 2022/2023 é de moagem de 562 milhões de toneladas, com aumento de 7,43% em comparação a anterior encerrada em março. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), 523,11 milhões de toneladas foram processadas no período 2021/2022.
O reajuste do etanol fez com que o combustível deixasse de ser vantajoso para os motoristas. Após o mega-aumento de 18,8% praticado pela Petrobras no mês passado, o preço do litro do biocombustível ficou abaixo do teto de 70% em relação ao derivado do petróleo. No caso do posto da Moraes Salles, por exemplo, a gasolina é vendida a R$ 6,599. Multiplicando o valor por 0,7, o etanol deveria custar no máximo R$ 4,619 para compensar para o dono do carro por apresentar menor rendimento. No entanto, o litro é comercializado a R$ R$ 5,079, ou seja, 21,83% acima do considerado ideal. O combustível também apresenta grande variação de preço.
A médica Agnes Marotta usa apenas etanol e ontem (22) abastecia o carro em um posto que vende o produto a R$ 5,277, diferença de 3,9% em relação ao concorrente, ou R$ 0,198 por litro. "Eu prefiro abastecer sempre no mesmo posto, que é de uma bandeira conhecida. Além de me sentir mais segura, sou bem atendida, os frentistas verificam tudo o que é preciso", explica.
O aumento do biocombustível também está causando reajuste da gasolina. Isso por causa da adição obrigatória de 27% de etanol anidro no derivado do petróleo comercializado no país. Em um posto da Vila Industrial, foram dois reajustes nos últimos 15 dias. A gasolina passou primeiro de R$ 6,559 para R$ 6,659 e esta semana chegou a R$ 6,759, o que representa uma elevação de 3,04%.
O reajuste, no entanto, é variável de um estabelecimento para outro. Na Vila Nova, o produto passou de R$ 6,657 para R$ 6,757, diferença de 1,51%. Já em outro no bairro Taquaral, a gasolina subiu de R$ 6,899 para R$ 6,999, alta de 1,45%.
Os reajustes dos combustíveis estão fazendo os consumidores mudarem o comportamento. "Agora, eu ando praticamente só de moto. Ela faz 30 km por litro", afirma o representante de vendas Gustavo Borelli. O tanque do modelo que ele usa tem capacidade para 11 litros, o que significa um custo R$ 75,87 para encher no posto em que abastecia nessa sexta-feira. Para rodar os mesmos 330 km com um carro 1.0, a despesa chegaria R$ 189,67. Portanto, a economia é de R$ 113,80, o equivalente a 60%.
O presidente do Recap, Emílio Martins, alerta que as altas constantes do etanol devem continuar e criam um ambiente propício para o avanço dos golpes envolvendo os combustíveis. Isso porque a grande diferença de preços faz muitos clientes procurarem o valor mais baixo. "Mas se os motoristas acharem um valor muito abaixo da média do mercado, dos preços praticados pelos postos sérios, ele deve fugir", afirma.