Oito dos 13 itens que compõem a cesta tiveram alta no primeiro mês de 2024, sendo arroz, feijão e batata os alimentos cujo valor mais aumentou
Com um comportamento impressionante, o preço da batata subiu 24,69%, disparadamente o item que mais encareceu no mês de janeiro; custo da cesta no mês ficou em R$ 739,38 (Kamá Ribeiro)
As condições climáticas estão afetando as atuais safras de arroz, feijão e batata, que são os grandes vilões da alta de 3,55% na cesta básica de janeiro, que ficou em R$ 739,38, de acordo com pesquisa mensal divulgada pelo Observatório PUCCampinas. Foi o terceiro mês seguido de alta, sendo que no primeiro mês do ano oito dos 13 itens pesquisados registraram aumento. A batata liderou a lista, com elevação de 24,69%, enquanto o feijão subiu 11,5% e o arroz, 7,29%. Entre novembro e janeiro, a cesta acumula uma variação de 7,01%, enquanto a inflação acumulada no período foi de 1,27%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Esse avanço acompanhou o ocorrido nas capitais do país, que, em sua maioria, também apresentaram alta”, explicou o coordenador do levantamento feito pela PUCCampinas, o economista Pedro de Miranda Costa. Em janeiro, a cesta básica subiu em 16 das 17 capitais brasileiras pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que segue a mesma metodologia do Observatório, o que permite a comparação.
De acordo com o levantamento local, o arroz acumula alta de 27,23% nos últimos seis meses, com o quilo sendo vendido ao preço médio de R$ 6,43. Já a batata foi encontrada a R$ 9,46, e o feijão a R$ 8,89. O economista Pedro Costa, que também é professor da PUC-Campinas, ressaltou que o valor apurado em janeiro é o maior dos últimos 12 meses e o terceiro maior desde setembro de 2022, quando o Observatório iniciou o acompanhamento. O valor ficou atrás apenas dos valores de dezembro de 2022 (R$ 754,00) e janeiro de 2023 (R$ 756,00).
EXPLICAÇÕES
Para o especialista no mercado agrícola Felippe Cauê Serigati, do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getútlio Vargas (FGV), o cenário atual já era previsto diante da estiagem no segundo semestre de 2023 que afetou a produção da dupla de alimentos mais presente no prato do brasileiro. A falta de chuva castigou o Rio Grande do Sul, estado responsável por 80% da produção nacional de arroz, o que prejudicou a produtividade e a safra. Segundo o pesquisador, há a expectativa dos preços diminuírem nas próximas semanas, mas nada parecido com o que era praticado antes do aumento.
De acordo com o levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, os preços no mercado interno estão sendo segurados pelas importações de arroz, que atingiram 1,49 milhão de toneladas nos últimos 12 meses, o maior volume em 19 anos. Para a Câmara Setorial do Arroz, ligada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, os problemas na produção continuarão ao longo do ano, pois as intensas chuvas na região Sul na primavera/verão vão afetar a safra 2023/2024, que atualmente está em processo de semeadura.
“Estamos com 77% de área semeada em uma época em que, no ano passado, estávamos com uma taxa acima dos 90%. Tem semeado que está debaixo d’água, então temos que aguardar para ver se apodreceu e se o produtor vai querer ressemear”, afirmou a diretora técnica do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Flávia Tomita. Quanto ao feijão, a estimativa era de que a colheita do feijão fosse de aproximadamente 3 milhões de toneladas, mas a safra deve registrar uma queda de cerca de 2,5%. Com isso, o preço deve subir com maior intensidade até março.
De acordo Cepea, os preços da batata em estão em alta em todos os atacados acompanhados. Segundo o centro de estudos, “as altas são resultado da menor oferta proveniente das praças sulistas devido às chuvas que dificultaram o plantio, resultando em menor oferta neste mês”. Além disso, as precipitações ocorridas no Paraná e em Minas Gerais também atrapalharam a colheita. Na semana passada, a cotação média da saca de 25 quilos de batata tipo especial foi de R$ 155,15 no atacado de São Paulo, aumento de 8,86% em comparação ao período anterior.
A pesquisa do Observatório PUC-Campinas apontou que, entre os itens da cesta básica, também tiveram aumento no mês passado o leite (4,36%), carne (3,94%), óleo de soja (2,78%), açúcar (2,10%) e banana (0,64%). Por outro lado, apresentaram redução de preços a farinha de trigo (-3,8%), manteiga (-2,76%), pão francês (-0,9%), café (-0,2%) e tomate (-0,18%).
MERCADO
A variação dos preços afeta o bolso dos consumidores. “Estou comprando menos”, resumiu a dona de casa Angela Maria Ferreira de Oliveira. “Está tudo caro”, completou. Ela explicou que o marido é diabético, o que dificulta a opção de realizar mudanças de cardápio, com a diminuição do volume de compras sendo a alternativa para equilibrar as contas com a renda.
Já a aposentada Nylcea Tavares recorre à pesquisa de preços para economizar. Para ela, a alta constante dos alimentos corrói o poder de compra, sobrando menos dinheiro a cada mês. “A única coisa que está baixa é minha aposentadoria”, reclamou ela. O comerciante Cláudio Roberto Atílio, que atua há 36 anos no setor de alimentos, disse que os recentes aumentos dos arroz e feijão afetaram até mesmo o lucro. “Eu trabalho com uma margem apenas para cobrir os custos de operação com esses produtos. Se eu fosse ter lucro em cima, ninguém compraria”, afirmou. Ele disse que ontem o feijão estava custando R$ 10 o quilo no atacado, enquanto o arroz saiu por R$ 7. Considerando que a legislação prevê que o salário mínimo deve ser suficiente para a aquisição de três cestas básicas, o valor em Campinas deveria ser de R$ 2.218,14, apontou o estudo do Observatório. Como o valor atual é de R$ 1.412,00, a compra de uma cesta compromete 52,4% desse valor. Em comparação com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Dieese, Campinas foi a 11º cidade do país a apresentar a maior alta em janeiro.
Já as altas mais significativas foram registradas em Belo Horizonte (10,43%), Rio de Janeiro (7,20%), Brasília (6,27%) e Goiânia (6,18%). Em São Paulo, a variação ficou em 4,25%. A única redução de preço foi verificada em Fortaleza (-1,91%). Na comparação do valor final da cesta, Campinas ficou em sexto lugar entre as mais caras. O ranking é liderado por Florianópolis (SC), onde o preço foi de R$ 800,31 em janeiro, 8,24% acima do preço apurado pelo Observatório da PUC. Também aparecem à frente da cidade São Paulo (R$ 793,39), Rio de Janeiro (R$ 791,77), Porto Alegre (R$ 791,16) e Brasília (R$ 742,52).
De acordo com o Dieese, a capital com a cesta básica mais barata no país é Aracaju (SE), onde foi apurado o valor de R$ 528,48. No mês passado, levando em conta o aumento de 6,97% no salário mínimo, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 106 horas e 30 minutos, de acordo com a entidade sindical. Em dezembro de 2023, antes do reajuste, a jornada média ficou em 109 horas e 03 minutos. Já em janeiro de 2023, o tempo necessário era de 116 horas e 22 minutos.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.