Valor apurado no mês de abril foi de R$ 736,29, redução de 1,78% em relação ao mês anterior; batata, carne e feijão puxaram a queda
Lado a lado, o 'herói' e o 'vilão' da cesta em abril: a batata teve queda de 11,12% no mês, enquanto o tomate liderou a lista dos itens que apresentaram maior alta (Rodrigo Zanotto)
A cesta básica em Campinas ficou em R$ 736,29 no mês da abril, queda de 1,78% na comparação com março. Foi o segundo mês consecutivo de redução e a segunda maior no período em todo o país. É o que mostra a pesquisa mensal do Observatório PUC-Campinas em relação ao levantamento em 17 capitais realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Os dois estudos usam a mesma metodologia, o que permite a comparação. A diminuição no preço final local foi inferior apenas aos -2,66%, índice verificado em Brasília-DF.
Em Campinas, o valor apurado é o menor nos quatro primeiros meses de 2024, ligeiramente inferior aos R$739,38 registrados em janeiro. Em março, que encerrou um período de quatro meses seguidos de alta, o valor ficou em R$ 749,67. De acordo com a pesquisa de preços feita em supermercados da cidade, sete dos 13 itens que compõem a cesta básica apresentaram redução de preço no mês passado. Os três produtos que mais contribuíram para o resultado foram a batata, que teve queda de 11,12%, carne (-4,43%) e feijão (-3,76%). O primeiro deles era comercializado a R$ 7,82 o quilo em março, valor que caiu para R$ 6,95, de acordo com o levantamento do Observatório PUC-Campinas. Já o quilo da carne foi de R$ 40,02 para R$ 38,24, enquanto o feijão passou de R$ 9,44/kg para R$ 9,09.
Por outro lado, o tomate liderou a lista dos itens que apresentaram a maior alta, com elevação de 3,53%. O preço saltou de R$ 10,78 o quilo para R$ 11,16. Os outros dois itens da cesta que apresentaram os maiores reajustes foram a manteiga (3,30%), com o valor passando de R$ 66/kg para R$ 68,18, e o açúcar (1,23%), que foi de R$ 4,64 o quilo para R$ 4,70.
VARIAÇÕES
Segundo o levantamento, o valor da cesta básica representou, no mês passado, o equivalente a 52,14% do valor do salário mínimo, que é de R$ 1.412. Com base na lei federal nº 185, de janeiro de 1936, que criou esse piso salarial e estabeleceu que deveria ser suficiente para a compra de três cestas, o mínimo em Campinas deveria ser de R$ 2.208,87 em abril. Esse valor seria o necessário para cobrir os custos com os itens da cesta para alimentar uma família composta por dois adultos e duas crianças.
Para o responsável pela pesquisa do Observatório PUC, o economista Pedro de Miranda Costa, o resultado do mês passado mostrou que a “cesta está voltando para o nível normal”. De acordo com ele, os aumentos ocorridos entre novembro e fevereiro foram provocados por fatores sazonais de produção e condições climáticas, que afetaram os preços de vários produtos agrícolas. Agora, eles estão com a oferta se normalizando.
Apesar do resultado positivo para o bolso, os consumidores de Campinas ainda reclamam que os preços dos alimentos estão altos. “O feijão realmente baixou de preço, mas os outros produtos ainda estão muito caros”, criticou o gerente comercial Marlon Douglas Pereira Menezes, enquanto fazia ontem compras para a semana. Para ele, outros itens que não fazem parte da cesta continuam subindo, anulando qualquer ganho que os itens básicos pesquisados possam ter gerado. “Os legumes estão bem caros, a carne também”, afirmou. Para Marlon Menezes, os consumidores não têm muita alternativa para a elevação do custo dos alimentos, tendo que pagar o preço encontrado no varejo.
A autônoma Elaine Aline da Silva também reclama dos preços, mas busca, na medida do possível, substituir os produtos para reduzir o impacto no bolso. “A batata e o tomate são básicos, não têm como escapar, mas já troquei o pimentão por páprica doce (nas receitas)”, explicou. “Os preços dos alimentos estão subindo muito. Ainda está muito difícil levar muitos itens para casa”, completou.
Para o economista Pedro Costa, que também é professor da PUC-Campinas, essa percepção ocorre por causa do perfil de cada consumidor, com os gastos com alimentos tendo pesos diferentes pesos para cada um, além dos produtos e quantidades compradas. O feijão, por exemplo, apesar da queda de preço em abril, tem alta acumulada de 13,93% nos quatro primeiros meses de 2024. O item com maior reajuste nesse período é o tomate, com 15,45%.
Já os produtos com maior baixa acumulada entre janeiro e abril são a batata (-8,39%), óleo de soja (-5,06%) e farinha de trigo (-4,79%). O coordenador do estudo explicou ainda que os alimentos têm participação diferente na composição final da cesta básica. A carne, por exemplo, representa 31,11% do valor, com uma queda no preço tendo maior peso no cálculo da variação mensal.
PERSPECTIVA
“A redução observada em abril, de R$ 749,67 em março para R$ 736,29, reforça a tendência de superação do ciclo de altas. Porém, alguns itens ainda apresentam altas acumuladas importantes”, afirmou o pesquisador do Observatório PUC-Campinas. De acordo com ele, o momento atual é de cautela para o consumidor diante das notícias de prejuízos para a agricultura em virtude das chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul, Estado responsável por 70% do arroz produzido no país. “Há preocupação com o comportamento especulativo de alguns agentes por causa do que acontece no Rio Grande do Sul”, afirmou.
Para o economista, não há necessidade de estocar arroz em casa, pois associações de produtores gaúchos apontaram que a colheita já havia sido feita, não havendo risco de desabastecimento do mercado. Além disso, o governo federal já anunciou a importação do produto para garantir o fornecimento futuro. Segundo o economista, se o consumidor sair comprando grandes quantidades de arroz, somente vai provocar a falta do produto e a alta dos preços. “Isso é premiar o comportamento oportunista”, disse.
COMPARAÇÕES
No mês passado, Campinas acompanhou a queda no valor da cesta básica registrada em sete das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese. Além de Brasília, também apresentaram redução no preço o Rio de Janeiro-RJ (-1,37%), Florianópolis-SC (-1,22%), Goiânia-GO (-0,36%), Vitória- ES (-0,35%), Porto Alegre-RS (-0,23%) e Curitiba-PR (-0,20%). A maior alta em abril ocorreu em Fortaleza- CE (7,76%). Na sequência, aparecem João Pessoa-PB (5,40%) e Aracaju-SE (4,84%). Foi o segundo mês seguido de aumento significativo no preço da cesta nas capitais do Nordeste brasileiro.
Em São Paulo, a pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos apontou elevação de 1,18%. Mesmo com dois meses seguido de baixa, Campinas teve a quinta cesta básica mais cara do país. O valor mais alto foi apurado em São Paulo (R$ 822,84), seguido do Rio de Janeiro (R$ 801,15), Florianópolis (R$ 781,53) e Porto Alegre (R$ 775,63).
Na capital paulista, por exemplo, o trabalhador teve que trabalhar 128 horas e 12 minutos para conseguir adquirir uma cesta, de acordo com os cálculos do Dieese. Em março, o tempo havia sido de 126 horas e 43 minutos. O levantamento do departamento apontou ainda que o menor valor da cesta no mês passado foi encontrado em Aracaju, R$ 582,11. Na capital de Sergipe, o tempo de trabalho para comprá-la foi de 90 horas e 42 minutos, apontou a pesquisa.
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