Considerando todos os alimentos, o aumento foi de 1,25% no mês de maio, totalizando R$ 745,41; custo do tubérculo subiu 47,76% e atingiu R$ 10,27 o quilo
Pesquisa indicou redução nos preços da banana, tomate, feijão, carne, farinha, pão francês e açúcar; mesmo assim, a cuidadora Ângela Maria Costa considera que os preços ainda estão altos: “o tomate está ‘a preço de ouro’” (Rodrigo Zanotto)
A disparada do preço da batata em maio puxou a alta de 1,25% na cesta básica em Campinas, encerrando um período de dois meses de queda. A pesquisa mensal do Observatório PUC-Campinas apontou alta de 47,76% no valor do tubérculo no mês passado, com o quilo pulando de R$ 6,95 em abril para R$ 10,27 no mês passado. A elevação fez o produto passar da sexta para a quinta posição entre os itens que mais pesaram na composição da cesta, com participação de 8,27% no preço final. No mês anterior, a influência foi de 6,55% no valor.
Dos 13 itens alimentícios integrantes da pesquisa, seis tiveram elevação em maio, quando a cesta ficou em R$ 745,51, o terceiro maior preço em 2024. Foi inferior apenas aos R$ 761,34 de fevereiro e aos R$ 749,67 de março. Também tiveram alta o leite (8,44%), café (3,94%), arroz (1,34%), óleo (1,18%) e manteiga (0,33%). Apesar do resultado de maio, “não temos uma tendência de alta generalizada dos alimentos”, afirmou o economista Pedro de Miranda Costa, responsável pela pesquisa do Observatório.
“Apenas a batata teve aumento de R$ 19,92 em maio, enquanto o aumento do valor final da cesta foi de R$ 9,22, o que demonstra o impacto que ela teve nesse cálculo. Se não fosse a batata, teríamos uma estabilidade ou até mesmo queda”, explicou ele, que também é professor da PUC-Campinas. A composição da cesta básica considera o consumo de 6 quilos de batata por mês. Em abril, esse montante custava R$ 41,70. Em maio, saltou para R$ 61,62.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que faz acompanhamento semanal das cotações dos alimentos no atacado, no caso da batata, “a alta é atribuída às chuvas ocorridas, que atrapalharam a colheita nas regiões produtoras do Paraná e no Sul de Minas (Gerais)”.
A elevação fez os consumidores deixarem o produto de lado, substituindo-o por outros. “Eu procuro trocar a batata, que está muito cara, pela abobrinha”, disse a cozinheira Jacilene Maria Lima, enquanto fazia compras ontem de manhã.
A pesquisa do Observatório PUC-Campinas apontou em maio redução nos preços da banana (-7,5%), tomate (-4,21%), feijão (-2,58%), carne (-1,79%), farinha (-1,09%), pão francês (-0,84%) e açúcar (-0,7%).
Apesar da redução do tomate, a cuidadora Ângela Maria Costa considerou que o preço ainda está alto. “O tomate está 'a preço de ouro'. A batata também, bem salgada”, afirmou. Ela estava com uma lista dos produtos que compraria nas mãos. “É preciso marcar para não se perder”, justificou ao comparar os preços, a qualidade dos hortifrutigranjeiros, e com a relação de itens ajudando ainda a definir as trocas para fugir dos mais caros. “O tomate na salada foi substituído pela acelga”, exemplificou Ângela Costa. A hortaliça estava na bacia ao lado de abobrinha e chuchu, produtos que a cuidadora estava comprando.
ESTRATÉGIA
O casal José e Marly Laureano pesquisa as promoções para economizar. “Tanto faz comprar em atacadista, supermercado ou no Centro. Os preços são os mesmos, está tudo muito caro. São as promoções que ajudam a gastar menos”, afirmou a dona de casa. Com o marido, ela fazia compras no Mercado Municipal, onde a batata era vendida de R$ 9 a R$ 13 o quilo, diferença de 44,44%. “O custo de vida está muito alto”, reclamou o escriturário José Laureano. “Estamos levando apenas o básico”, completou Marly.
De acordo com o Cepea, o saco de 25 quilos de batata padrão agata primeira teve alta de 45,45% em um mês no Sul de Minas, com o valor saltando de R$ 55 em 12 de maio para R$ 80 no mesmo dia deste mês. Um alento para consumidor é que o órgão prevê queda nos preços. “Praças como Curitiba (PR), Ponta Grossa (PR) e Cristalina (GO) estão intensificando a colheita das secas, o que contribuiu para a maior oferta. O patamar de preços ainda está bastante alto, mas deve recuar ao longo dos próximos meses à medida que as temporadas das secas e de inverno se intensificar”, apontou o relatório do centro de pesquisa.
A coleta de preços dos itens da cesta básica do Observatório PUC-Campinas foi feita entre os dias 10 e 23 de maio. Pedro Costa observou que provavelmente a pesquisa foi feita em um período em que o preço da batata estava no seu auge, o que resultou na forte influência desse alimento no valor final. O economista disse ter ficando surpreso com o aumento do produto no mês passado. Os três itens que mais subiram em Campinas acompanharam a evolução que resultou na alta da inflação oficial de 0,46% em maio, também influenciada pelos alimentos.
Quanto à elevação dos preços do leite e do café, a variação está ligada à questão sazonal e à cotação internacional. “O leite está em período de entressafra e houve queda nas importações. Essa combinação resultou em uma menor oferta. Em relação ao café, os preços das duas espécies têm subido no mercado internacional, o que explica o resultado de maio”, destacou André Almeida, gerente de pesquisa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
COMPARAÇÕES
Para o Cepea, a queda no preço da banana está relacionada à alta oferta da nanica e queda da demanda, que afetou também o valor da prata. Quanto ao tomate, a redução foi em função do aumento da oferta devido à evolução gradativa na safra de inverno. Porém, as temperaturas mais amenas deste mês tornaram mais lenta a maturação do fruto nas lavouras, reduzindo a oferta e com o preço voltando a se elevar.
Segundo a pesquisa do Observatório PUC, o salário mínimo deveria ser de R$ 2.236,52 para permitir a compra de três cestas básicas, o suficiente para alimentar uma família de quatro pessoas, formada por dois adultos e duas crianças. O valor de maio comprometeu 52,8% do salário mínimo vigente, R$ 1.412. Em 12 meses, a cesta básica acumula alta de 3,21%. Em julho de 2023, o custo era de R$ 722,30. O aumento está próximo ao da inflação no mesmo período, que foi de 3,93%, de acordo com o IPCA.
No comparativo com 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que segue a mesma metodologia do Observatório, Campinas teve no mês passado a sétima maior elevação. A primeira colocação foi de Porto Alegre, fortemente afetada pelas enchentes registradas em quase todo o Rio Grande do Sul, com alta de 3,33%. Depois seguem Florianópolis (SC – 2,5%), Campo Grande (2,15%), Curitiba (2,04%), Belém (1,4%) e Brasília (1,29%).
O levantamento do Dieese registrou ainda queda no valor da cesta básica em seis capitais. A maior foi em Belo Horizonte (-2,71%). Depois, aparecem Salvador (-2,67%), Fortaleza (-0,67%), Rio de Janeiro (-0,56%), Aracaju (-0,44%) e Vitória (-0,4%). Com o resultado de maio, Campinas permaneceu na sexta posição da cesta básica mais cara do país. O valor mais alto foi verificado em São Paulo (R$ 826,85), aparecendo à frente do valor local de Porto Alegre (R$ 801,45), Florianópolis (R$ 801,03), Rio de Janeiro (R$ 796,97) e Campo Grande (R$ 748,48). Já o menor custo foi detectado em Aracaju (R$ 579,55).
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