OBSERVATÓRIO PUC-CAMPINAS

Preço da batata cai 24% e puxa queda no custo da cesta básica em Campinas

Depois de quatro meses de elevação, novo levantamento revela queda de 1,53% em março; alta acumulada no 1º trimestre foi de 4,99%

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
16/04/2024 às 10:16.
Atualizado em 16/04/2024 às 10:16
Enquanto o preço médio da batata em Campinas caiu, o do tomate e da banana subiu; expectativa é por uma estabilização nos preços após o fim de 2023 e início de 2024, período com mais intempéries climáticas (Alessandro Torres)

Enquanto o preço médio da batata em Campinas caiu, o do tomate e da banana subiu; expectativa é por uma estabilização nos preços após o fim de 2023 e início de 2024, período com mais intempéries climáticas (Alessandro Torres)

O preço da cesta básica em Campinas desacelerou em março e apresentou queda de 1,53%, após quatro meses seguidos de alta, de acordo com pesquisa mensal feita pelo Observatório PUC-Campinas. A compra dos 13 itens que a compõem ficou em R$ 749,67, contra R$ 761,34 em fevereiro, quando atingiu o maior valor da série histórica do levantamento feito há 19 meses. O recuo acompanhou a variação de outros indicadores econômicos, como a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que teve queda de 0,16% no mês passado, e o valor da cesta, que caiu em sete das 16 capitais da pesquisa nacional da cesta básica feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que segue a mesma metodologia do levantamento local.

Para o responsável pela pesquisa do Observatório PUC-Campinas, o economista Pedro de Miranda Costa, o resultado em março “é uma boa notícia no sentido que (a cesta) parou de subir e mostrou uma estabilidade da cadeia produtiva. No entanto, é preciso acompanhar a variação nos próximos meses para ver qual será a tendência”. Apesar da redução, a cesta básica acumula alta de 4,99% nos três primeiros meses deste ano. Isso indica que os alimentos estão subindo mais do que a taxa inflacionária, que leva em conta outras despesas, como passagem de ônibus, material escolar, médico, cinema, entre outros. O IPCA acumula alta de 1,42% entre janeiro e março. 

“Essa oscilação ocorre porque a cesta básica está restrita aos alimentos, que apresenta maiores variações devido a sazonalidades, como clima, período de safra e produção. Já a inflação tem grupos mais amplos e com uma dinâmica própria de preços. Na educação, por exemplo, sobe muito no começo do ano por causa do reajuste das mensalidades, material escolar etc. Depois, os preços tendem a ficar estáveis”, explicou Pedro Costa, que é professor da Faculdade de Economia da PUC-Campinas. 

De acordo com ele, após as altas entre o final de 2023 e início de 2024, principalmente por fatores climáticos, como calor e chuvas excessivos, a expectativa é que os preços dos alimentos apresentem estabilidade ou pequenas variações positivas ou negativas.

NA SACOLA

O item da cesta básica em Campinas que apresentou a maior redução em março foi a batata (-24,32%), com a farinha de trigo (-7,45%) e óleo de soja (-4,28%) aparecendo na sequência. “Eu faço compra diariamente, mas não senti muita diferença. Está tudo muito caro”, afirmou a empresária Ivone Meira. Para ela, um produto ou outro pode até ter tido queda de preço, mas outro sobe e o valor final acaba não apresentando diferença significativa. “A batata pode ter caído, mas o brócolis, que gosto muito, subiu”, acrescentou.

Para o comerciante Mauro Cuba, dono de uma banca no Mercado Municipal, a variação de preço dificulta o negócio. “Fica difícil agradar o cliente, fazer um pacote que o deixe feliz”, disse. Para não elevar o preço final da mercadoria, ele recorreu ao que os economistas chama de reduflação, que é a redução de peso, medida ou unidades para evitar o reajuste do valor. No caso dele, o peso do saco de tomate caiu, por exemplo, de 500 para 350 gramas. Essa prática não se restringe apenas a itens da cesta básica, sendo também utilizada pela indústria em diversos produtos, como papel higiênico, pasta de dente, sucos e outros.

“O tomate e a banana sobem um pouco toda semana”, afirmou Mauro Cuba, citando dois itens da pesquisa do Observatório PUC-Campinas que mais subiram em março. A lista dos campeões de elevação de preço é liderada pelo leite (6,96%), seguido pelo tomate (4,21%) e banana (1,56%). A estudante Emily Lopes tem recorrido as promoções para tentar escapar da alta. “A última compra que fiz foi em um atacadista em dia de promoções, não senti muita diferença nos preços. Paguei R$ 3,69 no litro do leite”, afirmou a consumidora. 

Esse preço é 28,9% inferior ao valor médio de R$ 5,19 encontrado nos 28 supermercados pesquisados pelo Observatório PUC-Campinas. De acordo com o levantamento, sete dos 13 itens que formam a cesta básica apresentaram queda no preço e seis tiveram alta em março. Com isso, a compra desses itens representou 53,1% do salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.412. Considerando que a legislação estabelece que o valor deveria ser suficiente para a aquisição de três cestas, o piso salarial em Campinas deveria ser de R$ 2.249,01. Ou seja, deveria ser 59,29% superior para suprir as necessidades alimentares de uma família composta por dois adultos e duas crianças.

CAUSAS

A batata no atacado apresenta queda no preço desde meados de março em virtude da redução da chuva e aumento da oferta do produto no mercado, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba. “A razão da baixa nos preços no atacado de São Paulo e Rio de Janeiro é atribuída à paralisação da chuva na praça produtora de Guarapuava (PR), o que permitiu uma maior quantidade de tubérculos colhidos. Além disso, em Água Doce (SC) e na Bahia, houve uma elevação na oferta planejada pelos produtores por conta do feriado de Sexta-feira Santa, que normalmente aumenta a demanda pelo produto”, apontou o relatório da instituição.

De acordo com a pesquisa diária realizada pelo Cepea, o saco de 25 quilos da batata era vendido no atacado em 12 de março por R$ 87,50 em Guarapuava, contra R$ 40,00 no mesmo dia deste mês, que foi na última sexta-feira. A redução no valor pago ao produtor foi de 54,29% em 30 dias.

O centro de estudos da Esalq apontou ainda que, em março, o valor médio da tonelada de óleo de soja em São Paulo foi de R$ 5.098, aumento de 6,3% em relação a fevereiro, mas ainda 16,7% abaixo do praticado em igual mês de 2023. Já o trigo permaneceu estável no mês passado, mas a cotação de R$ 1.241,66 da tonelada está 24% inferior à praticada no mesmo período do ano anterior. O Cepea apontou ainda que o leite está em alta desde janeiro passado e essa tendência deve continuar nos próximos meses. 

A pesquisa do órgão indicou ainda alta de 12,7% no preço do tomate em Campinas no final de março, com a caixa de 20 quilos sendo vendido a R$ 125. A tendência este mês é de redução com o início da safra de inverno, embora ainda não se tenha uma avaliação dos danos à cultura pela mosca branca, que voltou a preocupar os produtores. O Cepea divulgou ainda que a tendência do preço da banana-nanica é de queda em função do aumento da oferta no Vale do Ribeira, principal região produtora paulista, o que deve afetar também o da prata, pois os tipos concorrem no mercado.

Para o responsável pela pesquisa do Observatório PUC-Campinas, Pedro de Miranda Costa, a tendência da cesta básica este ano é de alta, com variação de 5% a 7%. Em março, o custo local manteve a quinta colocação na comparação com a pesquisa nacional feita pelo Dieese com as capitais. O preço mais alto foi verificado em São Paulo, R$ 813,26, reajuste de 0,60% em relação a fevereiro. A maior elevação mensal, porém, foi registrada em Recife, 5,81%, onde o valor da cesta no mês passado ficou em R$ 592,19. 

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