UNICAMP

Pré-colapso no HC serve de alerta para a rede

Infectologista adverte que próximos dias serão arriscados

Correio Popular
10/03/2021 às 12:05.
Atualizado em 22/03/2022 às 02:48

A pressão no sistema de saúde em Campinas continua crescente devido à crise provocada pela pandemia de coronavírus. Apesar dos anúncios e da abertura de mais leitos para atender pacientes vítimas da covid-19 e aliviar o sistema, o que se observa é o reflexo do caos se estendendo também para os pacientes não covid. Especialistas alertam para o risco da desassistência no período que compreende essa e a próxima semana, até que os impactos da fase vermelha aconteçam e a cidade consiga estabelecer o número de leitos anunciados.

Ontem, quando Campinas enfrentou mais um dia de taxa de ocupação e leitos da rede pública no limite, e registrou 19 novas mortes pela covid-19, totalizando agora 1.963, mais um capítulo da crise do coronavírus foi escrita. O Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), responsável pelo atendimento de casos de maior gravidade (urgência e emergência, atendimento de pacientes oncológicos, cirurgias complexas e transplante de órgãos sólidos) de Campinas e região, atingiu sua capacidade máxima e anunciou a suspensão por 24 horas, a contar da tarde de ontem, de todos os atendimentos, entre eles as cirurgias eletivas realizadas no local. Essa é a segunda vez que o hospital, que atende ao SUS Estadual, anuncia a suspensão de atividades devido à pandemia. A última vez que o atendimento foi suspenso devido a lotação no PS foi no dia 11 de janeiro, quando o HC tinha 17 leitos.

O motivo foi a lotação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da covid-19, que atingiu o 100% de ocupação. Dos 30 leitos disponíveis, todos estão ocupados. Segundo informações do hospital, a decisão da suspensão das atividades foi do Grupo de Trabalho de crise da unidade.

De acordo com o hospital, foram suspensos também os encaminhamentos feitos pelo Samu, Resgate do Corpo de Bombeiros e pela Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), do Estado de São Paulo. A suspensão das cirurgias eletivas é válida até o dia 26 de março e do atendimento, por 24 horas. Além da UTI, a ocupação no PS (Pronto Socorro) está em 350%, segundo a Unicamp. O Pronto Socorro está com 67 pacientes, sendo 41 com indicação de internação em enfermarias e 14 casos de covid confirmados. Ainda segundo o hospital, oito pacientes graves também estão entubados.

"Nos últimos dias houve um aumento expressivo de procura espontânea de casos com síndromes respiratórias que lotaram a Unidade e a medida de suspensão de internações para cirurgias eletivas é para dar vazão aos pacientes do PS", informa o HC, por meio de nota oficial.

Na rede municipal, a situação também é grave. Ao todo a rede possuía ontem 671 pessoas internadas, sendo 367 em enfermaria e 304 em UTI. A taxa de ocupação está praticamente no limite. Dos 119 leitos, somente um estava livre. Na rede particular, dos 177 leitos disponíveis, a ocupação é de 88,14%, com 21 leitos livres.

"A situação é que não tem sobrado leitos desocupados. Ainda não estamos em uma situação de desassistência do paciente, mas o momento é bem crítico, mesmo estando com mais leitos que o período mais crítico da pandemia. A nossa expectativa é que com a abertura dos leitos anunciados consigamos evitar a desassistência, está difícil porque as pessoas estão dando entrada mais doentes ", disse Sérgio Bisogni, presidente da Rede Mário Gatti.

Médico alerta

O médico infectologista André Giglio Bueno, da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puc-Campinas), alerta para o período em que a rede de saúde deverá ficar descoberta, referindo-se à 'janela' que fica entre essa e o final da próxima semana, quando se espera os impactos da atual fase vermelha.

Nesse período, segundo ele, os serviços de saúde deverão se mobilizar da melhor forma possível de modo a evitar a desassistência, já que os pacientes infectados estão dando entrada nos hospitais com sintomas mais graves.

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