MEMÓRIA

Praias, destinos turísticos nos anos 80

Orla lotava nos finais de semana, com turistas ávidos por lazer; locais tinham boa infraestrutura

Rogério Verzignasse
05/08/2018 às 14:28.
Atualizado em 23/04/2022 às 06:11
Oscar Fabiano Bueno, um apaixonado pela represa, mostra a quantidade de aguapés que tomou conta do reservatório (Divulgação)

Oscar Fabiano Bueno, um apaixonado pela represa, mostra a quantidade de aguapés que tomou conta do reservatório (Divulgação)

Até o começo dos anos 80, as duas praias fluviais da Represa de Salto Grande, em Americana, eram concorridos pontos turísticos. Havia restaurantes, estrutura hoteleira, esportes náuticos. Ônibus chegavam de todo Interior, lotados com pessoas que passavam o final de semana na orla. Mas a Praia Azul e a Praia dos Namorados foram igualmente condenadas pela falta de investimentos públicos no controle da emissão de esgoto nas águas do Rio Atibaia, nas cidades a montante. Hoje, mesmo com muitas prefeituras investindo no tratamento de detritos domésticos, a represa recebe diversos despejos clandestinos, residenciais ou industriais. O visual é revoltante. O fato é que os bairros das margens da represa perderam o turismo como fonte de renda. Ao longo dos anos, na Praia Azul — acessada a partir do km 120 da Via Anhanguera — só se manteve, e continuou crescendo, o turismo sexual. Os motéis tomaram cada esquina, e as casas noturnas, movidas pelo baixo meretrício, movimentavam as madrugadas. As garotas de programa tomavam as calçadas. A rapaziada chegava da região toda para a “farra”. Houve uma época – até os anos 90 – em que a Praia Azul se tornou um bairro maculado pela fama de ser a “zona” da cidade. Houve até a desvalorização dos imóveis. Passear por aquelas ruas era perigoso, e o tráfico de drogas passou a dar as cartas na região. Mudança recente Desde a década passada, no entanto, a Praia Azul vem se transformando. É verdade que a prostituição ainda é praticada nas ruas próximas da orla. Mas aconteceu uma explosão demográfica ao redor do antigo bairro, que passou a concentrar conjuntos habitacionais populares e uma rede forte de comércio e serviços. Os prédios brotaram, os equipamentos públicos cresceram, e na cidade ninguém mais fala da Praia Azul como espaço decadente. Ao contrário. O preço dos imóveis dispara, e se equipara aos dos bairros da região central da cidade. Já a Praia dos Namorados – desde os agitados anos 70 – sempre foi mais sofisticada. E comportada. Crianças faziam castelo na areia, os rapazes jogavam futebol na orla, mocinhas de maiô estendiam a toalha e tomavam sol. Naquela época, já começaram a brotar na região os loteamentos de chácaras, que se transformaram em espaço de lazer de final de semana para famílias tradicionais da cidade. Hoje, para se ter uma ideia, o acesso à Praia dos Namorados — pelo km 124 da Anhanguera — é um corredor de condomínios fechados elegantes. O cinquentenário Iate Clube continua sendo reduto de gente da alta sociedade americanense. Perto da orla, continuam vivendo famílias antigas. E por lá sempre funcionaram quiosques onde a rapaziada se divertia nos finais de semana. O potencial turístico ainda é imenso. E os moradores protestam, todos os dias, com a falta de investimentos públicos nas reformas e adequações do espaço. Atualmente, dá para contar nos dedos o número de visitantes na represa, uma média de apenas 30 jet skis e 10 lanchas percorrendo a orla nos finais de semana ensolarados. Não lembra, nem de longe, o movimentado point da região dos anos 70 e 80.

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