CAMPINAS

Praças públicas estão sendo usadas como clubes privados

Murados ou cercados, os espaços de lazer possuem diretoria e "sócios" e as mensalidades variam de R$ 30 a R$ 50

Inaê Miranda
14/06/2015 às 17:36.
Atualizado em 23/04/2022 às 10:42
Praça Jordão Casarini, em Joaquim Egídio, foi uma das adotadas por grupos ( César Rodrigues/ AAN)

Praça Jordão Casarini, em Joaquim Egídio, foi uma das adotadas por grupos ( César Rodrigues/ AAN)

Praças públicas nos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, em Campinas, estão sendo utilizadas como clubes privados. Murados ou cercados, os espaços de lazer possuem diretoria e “sócios” e as mensalidades variam de R$ 30 a R$ 50. Em um deles, um grupo de 40 pessoas paga cerca de R$ 700 ao mês para jogar bola aos fins de semana. Os não associados também pagam aluguel para usar o campo em horários previamente agendados. Os clubes ainda oferecem o serviço de bar. Segundo os diretores, todo o dinheiro arrecadado com o aluguel, mensalidade e com o bar é revertido para melhorias do espaço, manutenção e pagamento de funcionários. Alguns moradores, entretanto, reclamam que os espaços públicos não deveriam ter o uso cobrado ou venda de bebida alcoólica.As praças são ligadas às secretarias de Esportes e de Serviços Públicos e duas delas receberão verba para reforma nos próximos meses. Uma das praças é a José Iório, localizada na Rua Antônio Iório. A segunda Praça é a União Nova Sousas, localizada na Rua João Batista Vinci. Ambas no distrito de Sousas. A verba para reforma é de R$ 350 mil, conforme previsão da Secretaria de Esportes de Campinas divulgada no fim de maio. A primeira vai ganhar cobertura da quadra poliesportiva e a segunda passará por reforma e ampliação do vestiário e campo de futebol. A terceira Praça de Esportes é a Jordão Cesarini, localizada na Rua João Valentin Santos Carvalho, no distrito de Joaquim Egídio. Esta última não está incluída no cronograma de obras da Secretaria de Esportes. A Praça José Iório está sob a responsabilidade do Sousas Futebol Clube e é administrado por uma diretoria. Conforme José Luís Oliveira, um dos diretores, há três times associados e cada integrante paga uma mensalidade de R$ 30. O total não chegaria a 100 pessoas. “A gente usa a verba para manter o campo, a grama, pagar um funcionário, pagar despesas de água e luz, trocar equipamentos quebrados, fazer reparos, comprar bolas, material de limpeza. Se colocar tudo na ponta do lápis dá mais de R$ 3 mil. Fora o que a gente põe do próprio bolso”, afirmou Oliveira. Um grupo de 40 pessoas não associadas, mas que utiliza o campo com frequência, paga R$ 700 por mês. “Quem não paga R$ 30, paga a taxa de R$ 700. É um grupo que joga das 8h às 10h”, explicou. Para melhorarAlém da mensalidade, quando tem campeonato, os times pagam uma taxa para a arbitragem. “Dos adultos cobramos uma taxa para pagar os árbitros”, disse Oliveira. A praça tem um bar, que funciona sem alvará. Segundo Oliveira, o objetivo também é arrecadar verba para investir no local. “As empresas não ajudam mais ninguém. Dinheiro para patrocínio não se consegue mais. Se você não tiver alguma coisa para vender, fica ao deus-dará e vai ter que mandar funcionário embora. Como manter uma praça como esta sem vender uma cerveja? Tudo o que a gente faz aqui é investido aqui dentro da mesmo. Tudo para melhorar”, afirmou. Segundo Oliveira, a Praça foi doada para o Sousas Futebol Clube e existe um documento comprovando a doação. As cobranças são necessárias, segundo Oliveira, em razão da ausência do poder público. “Antigamente, a Prefeitura dava um funcionário. Ela tirou esse funcionário e hoje é a gente quem custeia. A gente vai tocando assim. Se ainda tivesse na mão da Prefeitura não existia mais”, acrescentou. Ele ressaltou ainda que o espaço é aberto a todos. “Nunca fechamos para ninguém.” Ainda em Sousas, a Praça de Esportes União Nova Sousas está fechada para reforma. A verba, segundo Clóvis da Silva Silvino, presidente, vem da mensalidade dos sócios. “Estamos trocando a grama, fazendo a pintura de banheiros e vestiários, troca de telhados.” A taxa mensal é de R$ 200 por time e os três colaboram, segundo Silvino. “Outros times que quiserem podem jogar. Só precisam agendar horário comigo. Os times de fora que vêm jogar a gente cobra R$ 50 para apitar o jogo. Se for só para brincar não tem a taxa do juiz”, explicou. No espaço também funciona um bar cuja verba arrecadada é revertida para o espaço. “A Prefeitura ajuda com o trator para a manutenção”, disse. MagiaA Praça de Esportes Jordão Cesarini, em Joaquim Egídio, foi adotada por Paulo César Caetano. “Adotamos a praça, mas a gente não coloca dinheiro do bolso. Cada um que joga aqui colabora e todo o dinheiro é revertido para a praça. Já fizemos vestiário, trocamos encanamento. O pessoal que vem jogar aqui colabora com R$ 50 por time. Os quatro patrocinadores pagam R$ 250 por mês”, explica. No espaço também funciona uma escolinha de futebol coordenada por Caetano. A colaboração que o pessoal faz também é para a escolinha. “As pessoas vêm aqui, veem o campo bonito e o espaço bem cuidado e acham que é magia, ou que é o poder público quem cuida. Se tem alguém reclamando, deveria vir ajudar”, queixou-se. No espaço também funciona uma lanchonete. “Depois do jogo, o pessoal faz um churrasquinho. Tem cerveja em lata. Estamos levando um lazer”, disse. ReclamaçõesPara alguns moradores dos distritos, as Praças de Esporte se transformaram em clubes privados. “Tá virando o clube do bolinha, onde meia dúzia de pessoas toma conta. Não acho justo cobrar para jogar bola em espaço público e nem vender bebida alcóolica. A Prefeitura agora vai gastar dinheiro público para beneficiar o clube do bolinha, sendo que tem bar lá dentro, vendendo bebida alcoólica e faturando horrores de dinheiro com bebida cara”, reclamou o comerciante Doraci de Almeida Correia. “Eles cobram aluguel para a gente utilizar o campo. Acho que se o espaço é público, não pode ser cobrado”, afirmou um morador do distrito que se identificou apenas como Rodrigo.

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