Aposentado Lourival Corrêa, de 81 anos, carinhosamente chamado de o "Guardião da Jaqueira", plantou a primeira árvore no local há 41 anos
Lourival Côrrea, de 81 anos cuida de praça com árvores frutíferas em frente à casa dele ( Janaína Ribeiro/ ANN )
Uma pequena praça arborizada no fim da Rua Domingos Borges de Barros, no bairro Santa Genebra, em Campinas, possui um “guardião”. No meio da conversa o aposentado Lourival Corrêa, de 81 anos, até chama de “meu” o pequeno círculo de chão batido. Naturalmente. Afinal, ele é o responsável por manter o local bem cuidado, todos os dias, e de preservar o tempo de maturação das jacas que nascem em uma enorme árvore — a primeira a ser plantada pelo morador, há 41 anos. Por isso, ele é carinhosamente chamado no bairro de o “Guardião da Jaqueira”. Da porta de sua casa, no número 50 da Domingos Borges, Lourival espia todos os dias de manhã se as jacas estão evoluindo no ritmo natural ou se foram levadas antes da hora. Esse procedimento já dura anos. E, caso observa alguém tentando levar o fruto verde, corre cerca de 20 metros e questiona a pessoa. “No começo do ano passado fiquei muito bravo com o rapaz que estava com a esposa e queria levar uma jaca ainda verde. Ele disse que ela estava grávida, com desejos de comer uma jaca, e eu disse para irem ao supermercado comprarem madura, porque a do pé ainda não estava na hora. O rapaz quis brigar e enfrentei ele. No fim foram embora”, lembrou. Apesar de muita simpatia e bom humor, quando mexem com a pracinha e os frutos que lá estão Corrêa esbraveja. “Eu cuido com tanto carinho que espero que os outros também cuidem.” Além da famosa jaca, que já começa a mostrar os primeiros frutos no pé, o círculo arborizado abriga pés de manga, jambo, abacate, castanha, amora e goiaba. Tudo plantado com as mãos de Corrêa, que mesmo com dificuldades para mexer o braço direito se dedica diariamente ao cantinho predileto do bairro. “Tenho esse problema no braço porque fui cravado de balas quando trabalhava como taxista. Estava levando três passageiros para uma cidade perto de Ubiratan (PR) e no meio do caminho anunciaram o assalto. Entrei em luta corporal com os três e no fim levei muitos tiros. Dois homens bêbados me salvaram, mas me levaram R$ 500”. Ele não se lembra quantos disparos foram, mas três o atingiram: no braço, perna e abdômen. Viúvo há três anos, chegou com a mulher em Campinas para fazer tratamento em decorrência dos disparos. E quando se instalou no sobrado do Santa Genebra, a primeira coisa que fez, antes mesmo de levantar o próprio teto, foi plantar uma muda de jaca no seu quintal e, de quebra, na praça. “O senhor come jaca, Lourival?”, perguntou o repórter. “Como, mas só de raiva!”, respondeu. Depois aliviou e disse que estava brincando, para explicar que colhe os frutos maduros antes de muita gente, e armazena em casa. E como muita gente sabe que ele é o guardião daquela área, vão até sua casa pedir jaca. “É uma maneira até de não sair briga na praça. Então me encarrego de pegar e ir distribuindo com o tempo.” O também aposentado Edson Moreno Ribeiro, de 69 anos, afirma que Lourival é muito dedicado ao espaço. “E você pode vir aqui todos os dias às 16h que estamos todos nessa praça conversando, sobre tudo”, disse. Lourival confirmou que os bancos de plástico ficam ocupados com muitos vizinhos proseando, e as partidas de dama correm até altas horas. Mas nem isso distrai o guardião: “um olho na prosa, outro nas jacas.”