AVIAÇÃO

Portugueses estão ressentidos com a venda da TAP

Operação mexeu com os brios de muitos lusitanos; no dia do anúncio, houve até brasileiro que foi hostilizado dentro de um avião da companhia, que seguia de Barcelona, na Espanha, para Lisboa

Eduardo Gregori, de Lisboa
gregori@rac.com.br
28/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:48

Planos do governo português incluem a venda de outros 34% da empresa nos próximos anos, além dos restantes 5% para os funcionários ( Divulgação)

Na última quarta-feira (24), David Neeleman colocou um ponto final ao traumático processo de venda da companhia aérea estatal portuguesa TAP para a iniciativa privada. O dono das companhias aéreas Azul e da norte-americana Jet Blue assinou, no Ministério das Finanças, em Lisboa, o contrato que lhe deu posse, juntamente com o empresário português Humberto Pedrosa -, dono da empresa de transportes rodoviários Barraqueiro -, dos 61% da companhia aérea. Diante da comoção nacional pela perda de uma empresa que representa uma das últimas instituições lusitanas, Neeleman preferiu um discurso apaziguador. “Vamos fazer tudo para usar o nosso capital para comprar novas aeronaves, para tratar as pessoas melhor, tratá-las como nossos melhores ativos, para que o serviço de bordo seja o melhor da Europa. Vamos expandir para os Estados Unidos. Há muitas oportunidades lá, em mais de 10 destinos e mais outro oito ou 10 no Brasil, fortalecendo o hub em Portugal”, disse. O discurso de Humberto Pedrosa, sócio de Neeleman resumiu o que esperam os portugueses: que a TAP, apesar de vendida para sua ex-colônia, continue uma empresa como manda as tradições portuguesas. "A nossa prioridade é o crescimento e investimento da companhia e em Portugal”, afirmou. Para assegurar o status de companhia legitimamente portuguesa, Neeleman teve que se submeter a algumas regras contratuais, entre elas de que a sede e a direção da TAP continuem em Portugal pelos próximos dez anos.Em Lisboa, a operação mexeu com os brios de muitos portugueses. “O governo deveria ter encontrado outra maneira para não se desfazer da TAP. É uma vergonha que uma empresa tão sólida tenha chegado nessa condição”, disse José Matos, comerciante do Chiado, um dos bairros mais tradicionais da cidade. Desde o dia 11, quando o governo português anunciou a escolha do consórcio entre Neeleman e Pedrosa como comprador da companhia aérea, o assunto domina as redes sociais portuguesas e também as ruas, exacerbando o patriotismo e reascendendo um certo rancor com o Brasil. “Não leio as notícias sobre a TAP para não saber de mais desgraças”, disse irritada uma atendente de um café na estação Rato do metrô, no bairro do Campo de Ourique, que preferiu não se identificar. Para ela, a TAP jamais deveria ter sido vendida, muito menos para o Brasil. “Onde já se viu? Lisboa está cheia de brasileiros que vêm para cá procurar emprego que não acham por lá. Se lá não está bom, como o Brasil conseguiu comprar a TAP?”, completou em tom de deboche. No dia do anúncio, houve até brasileiro que foi hostilizado dentro de um avião da companhia, que seguia de Barcelona, na Espanha, para Lisboa. “Um português, sentado ao meu lado, pediu para trocar de assento. Ele deu a desculpa que estava se sentindo apertado, pois sou muito alto. O voo estava lotado e não foi possível mudar de lugar. Ele foi resmungando a viagem inteira e falava com os amigos que nós, brasileiros, compramos a TAP por vingança. Achei o comentário surreal e me irritei, quase parti para cima, mas a comissária me pediu desculpas e os amigos dele também interviram para minimizar o mal-estar”, disse o executivo brasileiro Roberto Oliveira, que está de férias em Lisboa.Bons olhosApesar do orgulho ferido, outros portugueses acreditam que a operação foi melhor para a companhia aérea. “A TAP já estava falida e o governo, pelas regras da união europeia, não podia colocar dinheiro nela. A venda, seja para quem quer que seja, foi positiva. Teremos nossa companhia, ela só não será mais do estado”, afirmou a analista de sistemas Maria João Ribeiro. Entre os funcionários da TAP o clima está mais ameno. Após dez dias de greve no mês passado - por conta da venda da empresa -, os discursos de Neeleman e Pedrosa parecem ter acalmado os ânimos, principalmente por não terem mencionado redução em numero de voos e de pessoal. “Estávamos muito inseguros sobre nosso futuro na companhia. Não queríamos a venda, mas esperamos que os novos donos cumpram o que prometeram”, disse um comissário que preferiu não se identificar. um de seus colegas de voo, disse ainda que o maior medo era perder o emprego e não receber os direitos trabalhistas.A vendaO governo português receberá dez milhões de euros pela compra e outros 354 milhões serão investidos para capitalizar a companhia aérea, que acumula uma dívida de aproximadamente 1 bilhão de euros. Os planos do governo português incluem a venda de outros 34% da empresa nos próximos anos, além dos restantes 5% para os funcionários.

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