Moradores desconhecem as medidas para prevenir a proliferação do mosquito
Agentes de saúde fazem monitoramento das áreas consideradas de alto risco para a proliferação da dengue em Campinas; desde abril do ano passado, quando a epidemia foi declarada, o número total de casos em Campinas alcançou números alarmantes, resultando em três óbitos (Kamá Ribeiro)
Apesar da ampla divulgação pelos meios de comunicação e das orientações dos profissionais de saúde sobre os perigos da contaminação pelo mosquito Aedes aegypti, ainda existem moradores em Campinas desinformados acerca dos riscos relacionados à água parada, seja em reservatórios ou plantas, e negligentes quanto à manutenção de imóveis desocupados, sejam eles destinados para aluguel ou não. Desde abril do ano passado, quando a epidemia foi declarada, o número total de casos em Campinas alcançou 13.202, resultando em três óbitos.
Na manhã de sábado (3), a equipe do Correio Popular acompanhou duas equipes de Combate à Dengue que percorriam residências no Jardim Paulicéia e Vila Castelo Branco, deparando-se com três situações distintas relacionadas a possíveis criadouros do mosquito. Durante uma das visitas, a aposentada Elza Bahu Bastos, de 76 anos, sempre receptiva à entrada dos agentes em sua casa no Jardim Paulicéia, surpreendeu-se ao ser informada pelo aplicador domiciliar Luiz Adriano Neto de que havia água parada em uma bromélia no seu jardim. O agente utilizou uma pipeta larval para verificar a presença de ovos do mosquito, e o teste resultou negativo. "Eu não sabia que a planta poderia se tornar um criadouro do mosquito, mesmo com a frequente visita dos agentes. Fiquei surpresa e agora vou ficar mais atenta", declarou Elza, acompanhada de sua filha, Sandra Bastos, de 43 anos, e do genro.
No mesmo bairro, em outras duas residências, os agentes identificaram reservatórios de água contendo larvas. Em uma das casas, a moradora Luzia Costa Martins, de 43 anos, compartilhou com a reportagem que tem o hábito de armazenar água da chuva em um tambor coberto por tela, para regar as plantas e limpar o quintal. No entanto, no mês passado, ao ficar ausente por uma semana, a água ficou parada. "Eu reconheço os riscos, mas aconteceu que voltei e não tive tempo de usar a água. Agora, vou retirá-la e higienizar o recipiente", afirmou.
Em uma residência na Vila Castelo Branco, os agentes identificaram diversos focos do mosquito no quintal. De acordo com relatos de vizinhos, a moradora vive de forma solitária e não costuma interagir socialmente. Suspeita-se que ela seja acumuladora, pois, mesmo permitindo a entrada dos agentes, os recipientes que acumulam água persistem no quintal. "Já ergui meu muro do lado da casa dela para evitar a presença de insetos na minha residência. Tenho muitas plantas, mas sou bastante cautelosa", mencionou Maria Gilza da Silva, aposentada de 69 anos.
Elza e Luíza residem em um dos bairros mais afetados pela dengue na região recentemente, além de ser o local com maior incidência de imóveis desocupados, abandonados e fechados. O coordenador do Programa de Arboviroses da Secretaria Municipal de Saúde, o médico veterinário Fausto Marinho, revela que o Jardim Paulicéia e outros cinco bairros totalizam 83 casos de dengue e foram alvo do quarto mutirão. Essa iniciativa foi necessária devido a aproximadamente dois mil imóveis que não receberam visitas das equipes de saúde, mesmo após dois dias de trabalho nesta semana.
Conforme Marinho, nos imóveis desabitados, a Guarda Municipal (GM) e a Defesa Civil utilizaram drones para fotografar quintais e telhados. As imagens serão analisadas pela Vigilância Epidemiológica, concentrando-se em elementos como calhas, pneus, baldes, vasos e piscinas, que podem se tornar potenciais criadouros. Em grande parte das residências monitoradas, foi observada a presença de caixas de água no quintal, sem os cuidados necessários. "O objetivo desse trabalho é resolver pendências. Após a conclusão hoje, faremos uma análise para verificar se persiste um alto número de recusas ou casas fechadas. Se for o caso, realizaremos uma mobilização, envolvendo centros de saúde e grupos de WhatsApp, para conscientização", afirmou Marinho.
Durante a reunião de preparação dos trabalhos, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, destacou a necessidade do engajamento da população no combate ao avanço da dengue. "Temos uma preocupação imensa com a escalada dos números. Sabemos da dificuldade de entrar nas casas, mas é um esforço que temos que fazer para sensibilizar as pessoas porque sem a ajuda da população será muito difícil controlar a situação", afirmou o prefeito.
Andrea Von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde (Devisa), ressaltou o potencial de transmissão de um único criadouro. "Cada fêmea deposita 1.500 ovos ao longo de sua vida. Assim, mesmo um simples recipiente com água já representa um considerável potencial de transmissão. Portanto, é fundamental verificar todos os possíveis criadouros em casa pelo menos uma vez por semana e eliminar a água parada. A única maneira eficaz de combater a dengue é evitar o nascimento do mosquito", enfatizou a diretora.
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