JUNHO BRANCO

População em situação de rua é mais vulnerável em uso de drogas

Usuários consomem entorpecentes na região do Viaduto Cury e Terminal Central

Israel Moreira/ [email protected]
27/06/2023 às 09:12.
Atualizado em 27/06/2023 às 09:12
Nas ruas do Centro alguns usuários se locomovem de um lado para o outro e não deixam o consumo para trás (Rodrigo Zanotto)

Nas ruas do Centro alguns usuários se locomovem de um lado para o outro e não deixam o consumo para trás (Rodrigo Zanotto)

A campanha “junho branco” marca uma série de ações em comemoração ao Dia Internacional de Combate às Drogas, celebrado na segunda-feira (26), a Prefeitura de Campinas divulgou por meio da Coordenadoria de Prevenção às Drogas (CPUD), que de janeiro a maio deste ano foram efetuados 1412 atendimentos de pessoas para tratamentos em dependência química, além de ações educativas e preventivas.

No mesmo período, o Projeto Recomeço – uma parceria entre o governo do Estado de São Paulo e a Administração local – atendeu 172 pessoas por meio do programa. O serviço oferece tratamento gratuito e voluntário para dependentes químicos maiores de 18 anos, com 76% do atendimento oferecido à população em situação de rua (130 pessoas). Em termos de gênero, 161 homens e 11 mulheres. 

Nas ruas do Centro, o cenário é desesperador. A reportagem do Correio Popular percorreu o entorno do Viaduto Miguel Vicente Cury e do Terminal Central. Moradores em situação de rua consomem drogas livremente, mesmo com o patrulhamento da Guarda Municipal de Campinas (GMC). Alguns usuários se locomovem de um lado para o outro com a presença da viatura nos arredores, mas não deixam o consumo para trás.

Rodrigo de Brito Paula, de 26 anos, está há quatro anos nas ruas de Campinas. É usuário de crack e maconha desde os 17 anos. Rodrigo trabalha recolhendo material reciclável pelas vias do Centro, já se internou duas vezes para tratamento químico e passou 11 meses detido por tráfico de drogas.

Ele, que trabalhava com instalação de aparelhos de refrigeração, já procurou por serviços da Prefeitura, mas não se sente seguro dentro dos albergues e casas de acolhimento. “O medo não é pelos funcionários da Prefeitura, eles são ótimos. Mas, sim, na maldade dos outros moradores em situação de rua, que estão sempre prontos para causarem o mal”, disse.

“Prefiro o convívio das ruas e alimentação doada pelas igrejas evangélicas, do que arriscar amanhecer ferido ou até morto”, finaliza Rodrigo, que caminha embaixo do Viaduto Cury, com os seus materiais recicláveis, algumas pedras de crack nas mãos e em direção à Rua Cônego Cipião.

O professor Roberto Barbato Jr, especialista em Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Campinas, considera que o efetivo combate às drogas deve se basear em políticas públicas de prevenção, o que não tem sido feito no Brasil adequadamente. “Os efeitos deletérios do uso contínuo de entorpecentes precisam ser difundidos em larga escala, abarcando os mais variados segmentos e classes da sociedade. Vale também enfatizar a importância dos tratamentos respaldados em iniciativas multidisciplinares como terapias e prescrição de medicação adequada, seja em clínicas especializadas ou em unidades públicas de atendimento”.

Em termos legislativos, o Brasil avançou muito ao fazer a distinção entre os usuários e os traficantes de drogas. “Com isso, evidenciou que a dependência química é um problema de saúde pública. Não basta, portanto, acreditar que apenas a repressão policial seja o único instrumento do combate às drogas”, explica o professor.

Para a secretária de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas, Vandecleya Moro, as ações preventivas têm um enorme potencial para educar indivíduos sobre os perigos do uso de álcool e outras drogas, proporcionando o desenvolvimento de habilidades para resistir à pressão e ao aliciamento de pessoas do convívio social e, inclusive, de traficantes. “A Educação promove uma maior consciência e autonomia nas decisões pessoais de cada um”, afirma.

A Câmara de Campinas recebeu na segunda-feira (26) representantes das escolas estaduais Professora Laís Bertoni Pereira, Vila Vitória e Reverendo Eliseu Narciso que apresentaram vídeos sobre prevenção às drogas desenvolvidos pelos próprios alunos, sob a supervisão dos professores.

O evento - promovido em parceria com a Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas; a Coordenadoria de Prevenção ao Uso de Drogas (CPUD); e o Conselho Municipal de Entorpecentes (Comen) - faz parte de uma série de atividades que compõem o Junho Branco, mês de conscientização e prevenção ao uso de drogas.

“A conscientização e a informação sobre os riscos e os danos causados pelo uso de drogas são a principal arma no combate a este problema de saúde pública, com enormes impactos em toda a sociedade. A Câmara, na totalidade, está envolvida nesta luta”, disse o vereador Luiz Rossini, presidente do Legislativo.

“Por meio de iniciativas como esta, a cidade de Campinas está reafirmando o compromisso com a prevenção ao uso de drogas e a promoção da saúde e bem-estar de sua população", reforçou Vandecleya Moro, secretária de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos.

Até 30 de junho, também estão sendo promovidas rodas de conversa e palestras em escolas municipais, apresentações de projetos de prevenção ao uso de drogas, palestras da Empresa Municipal de Desenvolvimento (Emdec) e a presença de uma unidade itinerante da CPUD. Estão previstas ainda rodas de conversas destinadas aos professores da rede estadual. O objetivo das ações de prevenção às drogas é esclarecer, dialogar, estimular a inserção social, conscientizar e destacar a importância destas atividades.

Em 1987 a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 26 de junho como o Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas. Esta data foi criada para conscientizar a população global sobre essa temática, enfatizando a necessidade de combater os problemas sociais criados pelas drogas ilícitas, além de planejar ações de combate à dependência química e o tráfico de drogas.

Atualmente o uso e abuso de álcool e outras drogas constituem um dos mais importantes problemas de saúde pública no mundo, considerandose a magnitude e a diversidade de aspectos envolvidos.

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