MARCO HISTÓRICO

População do planeta somará 8 bilhões no dia 15 de novembro

Segundo a ONU, Brasil caiu de quinto para sétimo país mais populoso do mundo

Ronnie Romanini/ [email protected]
18/10/2022 às 10:08.
Atualizado em 18/10/2022 às 10:08
Região Metropolitana de Campinas (RMC) concentra mais de 95% de sua população vivendo em áreas urbanas, característica que se repete em quase todo o território nacional (Kamá Ribeiro)

Região Metropolitana de Campinas (RMC) concentra mais de 95% de sua população vivendo em áreas urbanas, característica que se repete em quase todo o território nacional (Kamá Ribeiro)

A Organização das Nações Unidas (ONU) projeta que a população mundial vai atingir a marca histórica de 8 bilhões de pessoas no dia 15 de novembro de 2022. Mesmo em um ritmo menor do que o verificado em meados do século passado, o crescimento global ainda está mais acelerado que o do Brasil. De acordo com o relatório da ONU "World Population Prospects 2022", o Brasil passou de quinto país mais populoso do mundo em 1990 (com 149 milhões de pessoas) para o sétimo este ano, tendo sido ultrapassado por Paquistão (234 milhões) e Nigéria (216 milhões), antigos 8º e 10º lugares no ranking. A população dos dois países mais do que dobrou nesse período, diferente do Brasil, que passou a ter 215 milhões em pouco mais de três décadas.

Para 2050, a perspectiva é de estabilidade na posição que o país ocupa no ranking, com a população brasileira próxima dos 231 milhões, mas no início de uma queda. A partir do final da década de 2040, a população brasileira deverá atingir o volume máximo e, então, começar a diminuir, sendo que em 2060 a projeção é que haja 227,2 milhões de habitantes no Brasil.

Um dos motivos para isso, e que já acarreta atualmente em um ritmo mais lento de crescimento da população brasileira em relação à mundial, é o número menor de filhos que as mulheres brasileiras estão tendo, de acordo com o docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e pesquisador do Núcleo de Estudos de População (NEPO - Elza Berquó), ambos da Unicamp, Roberto Luiz do Carmo.

Ele relatou que no início da década de 1970, cada mulher brasileira em idade reprodutiva - entre 15 a 49 anos de idade - tinha cerca de seis filhos em média. Com o passar das décadas, a sociedade evoluiu e algumas mudanças aconteceram, principalmente em relação às mulheres, como o aumento da escolaridade, a inserção no mercado de trabalho, o uso de métodos contraceptivos e até o processo de urbanização. Com isso, a média de filhos por cada mulher, chamada de Taxa de Fecundidade Total, passou para 1,6. 

"Para que uma população se mantenha ao longo do tempo, a Taxa de Fecundidade Total deve ser igual ou superior a 2,1 filhos por mulher, que é a chamada 'taxa de reposição', ou seja, cada casal teria em média dois filhos, para que pudesse ser 'reposto' na geração seguinte. Como a Taxa de Fecundidade Total está em 1,6, bem abaixo de 2,1, isso significa que ao longo do tempo haverá uma diminuição da população brasileira", explicou Do Carmo.

Em se tratando do Estado de São Paulo e da Região Metropolitana de Campinas (RMC), o pesquisador do NEPO disse que os fatores condicionantes da queda da fecundidade - como urbanização e industrialização - incidiram há mais tempo do que em outras regiões do país. 

"Enquanto no ano de 2010 o Brasil tinha cerca de 85% da população residindo em áreas urbanas, no Estado de São Paulo a população urbana já era superior a 95%. Esse contexto de urbanização, industrialização e indicadores educacionais relativamente elevados é característico também da Região Metropolitana de Campinas. Em linhas gerais, pode-se dizer que essa tendência da diminuição da fecundidade ocorreu primeiro e com maior intensidade no Estado de São Paulo e também em Campinas."

Além dos fatores supracitados, a mortalidade também incide sobre o crescimento populacional. A redução da mortalidade infantil ao longo das últimas décadas fez com que a expectativa de vida aumentasse. 

"A diminuição das taxas de fecundidade e o aumento da expectativa de vida fazem com que, ao longo do tempo, a população passe por um processo de envelhecimento. Ou seja, haverá um aumento do peso relativo dos idosos (acima de 60 anos), que está em pleno andamento tanto no Estado de São Paulo, quanto em Campinas. Essa deve ser a principal mudança da população dessas regiões nas próximas décadas."

8 bilhões é muito?

A reflexão apresentada pelo professor e pesquisador é que a resposta para o questionamento depende do padrão de produção e de consumo de bens materiais. Nos países mais ricos, como os da Europa e os Estados Unidos da América, o limite de sustentabilidade já foi ultrapassado, porém, ao considerar o padrão de consumo das populações de países mais pobres, ainda haveria espaço para mais gente.

"Estamos presos no que eu chamo de "armadilha malthusiana" de compreensão das relações entre população e ambiente. Essa ideia que vem desde 1798, quando Thomas Malthus publicou um texto chamado "Primeiro Ensaio sobre População". É a ideia de que com o aumento do número de pessoas haverá uma sobre-exploração dos recursos, que vai inviabilizar a existência humana. E temos visto que não é bem assim."

Diante dos dilemas e desafios oriundos do crescimento populacional, o Correio Popular publicará uma série de matérias explorando o que temos no presente e o que está reservado para o futuro em diversos temas relativos ao crescimento populacional, como educação e saúde. As reportagens serão publicadas às terças-feiras até o dia 15 de novembro, data prevista para o Planeta Terra atingir a população de 8 bilhões.

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