Prefeitura estuda medida para evitar novas inundações na avenida, que causou morte no sábado
Uma das quatro pontes da Avenida Orosimbo Maia, sobre o Córrego do Serafim, que a Prefeitura estuda alargar para garantir uma maior vazãor (Dominique Torquato/AAN)
Sem ter R$ 300 milhões para obras de macrodrenagem necessárias para pôr fim às inundações na Avenida Orosimbo Maia, a Prefeitura de Campinas decidiu nesta terça-feira (21) implantar uma parte do projeto para aumentar a capacidade do Córrego do Serafim. Vai alargar quatro pontes da avenida que, estreitas, represam a água e provocam as enchentes que já causaram mortes, uma delas no último sábado. O secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, disse nesta terça que a Prefeitura vai tentar financiamento para obter os R$ 20 milhões necessários à obra. A solução virá, se o empréstimo for obtido, somente no próximo ano. Segundo o secretário, as pontes existentes nos cruzamentos das avenidas Francisco Glicério e Brasil e da Rua Carlos Guimarães estão subdimensionadas para dar vazão à grande quantidade de água que chega nos períodos de chuva. “Elas estrangulam a vazão, e acaba passando apenas 20% do volume. Ou seja, 80% da quantidade de água que desce para o córrego fica represada e aí vem a inundação da avenida”, afirmou. O redimensionamento das pontes é uma das três necessidades do projeto de macrodrenagem do córrego. As outras são a retificação do córrego e do “piscinão” que recebe a água do Serafim, antes dele formar, junto com o Córrego Proença que atravessa a Avenida Norte-Sul, o Ribeirão Anhumas. O Córrego do Serafim, disse Paulella, tem uma estrutura em forma de trapézio e é preciso realizar a obra para que ele tenha forma de retângulo, para que as paredes laterais fiquem em pé, o que possibilitará a passagem do dobro de água em relação ao que é possível hoje. Outra obra necessária é o redimensionamento do “piscinão” no final da Avenida Norte-Sul, para que possa ampliar sua capacidade de armazenamento de água. Mas essas duas obras ficarão para uma etapa posterior. Consenso Em reunião nesta terça pela manhã do prefeito em exercício Henrique Magalhães Teixeira (PSDB) e os secretários de Obras, Cultura, Serviços Públicos e Planejamento e Urbanismo, houve o consenso de que são necessárias intervenções rápidas e que não é mais possível esperar ter os recursos para a implantação total do projeto de macrodrenagem na Avenida Orosimbo Maia. Por isso, optou-se em centrar esforços nas pontes, construídas na primeira década do século passado, quando Campinas ainda não tinha o grau de impermeabilização do solo que possui hoje. A melhora da vazão do Córrego do Serafim vai refletir também na vazão do Córrego Tanquinho, que desce pela Rua Barão de Jaguara e segue pela Avenida Anchieta até desaguar na Orosimbo Maia. Nas tempestades, como a que ocorreu no sábado, essa água acaba ficando represada e inundando a Anchieta. Paulella informou que a Prefeitura começará a trabalhar no projeto executivo da remodelação das pontes e preparar a licitação da obra, enquanto busca linhas de financiamento. Desde 2010, ainda na gestão do prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos, a Administração tem recorrido aos órgãos federais para viabilizar o projeto de macrodrenagem, mas até o momento não obteve sucesso. O prefeito Jonas Donizette (PSB) estava em tratativas com o então ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), para conseguir a liberação dos recursos. Mas o ministro deixou o governo e as negociações pararam. O projeto existente para a avenida prevê o alargamento da calha do córrego, a substituição de pontes e a construção de mais três “piscinões” em áreas desocupadas ao longo do Ribeirão Anhumas, onde o Serafim desemboca. Enquanto isso, moradores e comerciantes enfrentam um caos quando as chuvas intensas inundam a Orosimbo Maia e ruas próximas. A intenção com a avenida é a mesma executada na Norte-Sul, ou seja, canalizar e fechar o córrego, com jardim no canteiro central e iluminação. Logo após a eleição em 2012, o prefeito chegou a anunciar proposta de uma operação urbana para que a avenida se tornasse polo de atração de investimentos imobiliários. A ideia era lançar mão da chamada outorga onerosa — autoriza construir acima de tetos de densidade fixados na lei de uso e ocupação do solo, mas cobra por essa valorização. Esse dinheiro, pago à Prefeitura, seria utilizado em melhorias urbanas na própria região. Mas a proposta nunca saiu do papel. O passeio das capivaras As capivaras são presença constante no Córrego do Serafim. Famílias desses animais costumam passear pelas águas, atraindo a atenção de quem passa. Com a chuva, elas estão chegando ao córrego em grande quantidade. Ontem, em apenas uma quadra da Avenida Orosimbo Maia, onze capivaras foram vistas. O diretor do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA), Paulo Anselmo Felippe, disse que esses animais caminham a noite e que tanto a Avenida Orosimbo Maia quando a Norte-Sul são áreas de trânsito das capivaras. “Isso é fruto do desequilíbrio ambiental. Sem os predadores naturais, como a onça e o jacaré, elas acabam se dispersando na área urbana, seguindo os córregos”, afirmou.