conluio

Polícia Federal apura pacto de políticos com tráfico

Um relatório com dados levantados por policiais civis será entregue, entre hoje e amanhã, à Justiça Eleitoral, que vai definir a continuidade e rumo das averiguações

Daniel de Camargo
29/10/2020 às 07:58.
Atualizado em 27/03/2022 às 19:16
O delegado Nestor Sampaio Penteado Filho revelou que alguns candidatos informaram sobre problemas para realizar suas campanhas (Wagner Souza/AAN)

O delegado Nestor Sampaio Penteado Filho revelou que alguns candidatos informaram sobre problemas para realizar suas campanhas (Wagner Souza/AAN)

A Polícia Federal (PF) de Campinas deve assumir, nos próximos dias, a investigação sobre um conluio entre políticos e criminosos — entre eles, possivelmente membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) — para ameaçar cabos eleitorais, candidatos e eleitores em bairros periféricos da cidade. Segundo o diretor do Departamento de Polícia Judiciária Interior 2 (Deinter-2), José Henrique Ventura, um relatório com dados levantados recentemente por policiais civis da 1ª Delegacia Seccional será entregue, entre hoje e amanhã, à Justiça Eleitoral, que vai definir a continuidade e rumo das averiguações. Ventura explicou que, por resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), todo crime eleitoral deve ser investigado pela PF nas localidades em que ela estiver instalada, como é o caso de Campinas. "Nesse cenário, nós (Polícia Civil) fazemos uma atuação supletiva", contextualizou. Esclareceu ainda que, caso recebam novas informações, serão registradas em Boletim de Ocorrência (BO) a ser também remitido para a Justiça Eleitoral. "Essas infrações envolvem as pessoas que as cometem e também os candidatos beneficiados (se confirmada a relação entre eles). Caso o juiz entenda que devemos continuar com a apuração, o faremos", disse. Na última segunda-feira, em entrevista exclusiva ao Correio, o delegado da 1ª Delegacia Seccional, Nestor Sampaio Penteado Filho, revelou que, na semana passada, alguns candidatos procuraram as autoridades e informaram problemas para realizar suas campanhas nos distritos do Campo Grande e Ouro Verde, na região do Campo Belo, e nos bairros Jardim Itatinga e Jardim São Fernando. Aliado a denúncias feitas por moradores dessas áreas, foi constatado que pessoas ligadas ao tráfico de drogas proibiram as passeatas, aparições nas feiras livres, pequenos comícios e outras atividades. O aviso dos criminosos é de que, qualquer um que acompanhar ou propagar a campanha do candidato que não está alinhado com eles, será vítima de violência física ou morto. Com as informações recebidas, a Polícia Civil conseguiu identificar parcialmente alguns autores. Por isso, iniciou, anteontem, operações in loco para checar as informações recebidas, colher mais dados e rondas preventivas especiais com objetivo de coibir novos constrangimentos. Contudo, essas ações foram suspensas, na mesma data, até segunda ordem. Em uma das diligências no Jardim São Fernando, área do 10º DP, que fica no Jardim Proença, um bar foi lacrado e um homem detido depois que máquinas de vídeo bingo foram encontradas no local. A ocorrência, entretanto, nada tem a ver com o caso das eleições. O relatório a ser entregue à Justiça Eleitoral apresentará alguns dados a respeito dos indivíduos que teriam feito as ameaças e recebido dinheiro dos candidatos. Penteado Filho disse, na última segunda-feira, que, se confirmada a participação de políticos, se tratam de "péssimos políticos". "Vamos responsabilizar quem ameaçou, quem foi pago e quem pagou. Vamos botar esse povo na cadeia", acrescentou, na ocasião. Para não prejudicar o andamento das investigações - até então, em execução pela Polícia Civil — e garantir a integridade física das pessoas, o delegado não revelou, na oportunidade, maiores informações quanto à identidade dos autores ou vítimas. Contudo, citou que, no último final de semana, houve ameaças contra proprietários de um salão de beleza, açougue e padaria. "Felizmente, ainda não ocorreram agressões. Mas, nós sabemos que esse tipo de proceder tende a evoluir. Primeiro, é uma ameaça velada. Depois, concreta. Em seguida, um tapa, soco ou uma janela quebrada em um estabelecimento comercial. Por fim, pode acontecer uma consequência grave", esclareceu sobre a tradicional progressão da manobra de intimidação.

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