Guida Calixto e Paolla Miguel receberam mensagens com conteúdo racista e registraram boletim de ocorrência; Legislativo repudiou os atos criminosos
Paolla e Guida foram vítimas de ameaças na madrugada do dia 18; em maio, as duas já haviam sido atacadas, assim como outros vereadores negros, e o autor da ameaça foi preso em novembro (Câmara dos Vereadores de Campinas)
A Polícia Civil investiga ameaças de morte feitas nesta semana contra as vereadoras de Campinas Paolla Miguel e Guida Calixto, ambas do PT, em mensagens com teor racista enviadas diretamente a elas. As duas abriram boletim de ocorrência. Ontem, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que as informações apuradas pela Polícia Civil até o momento indicam que o suspeito utilizou um e-mail pertencente a outro indivíduo para a prática das irregularidades.
Os comunicados foram enviados para o e-mail oficial das parlamentares e em um canal de comunicação pessoal de Paolla. Além dos ataques, o agressor exigiu que elas renunciassem aos seus mandatos. A dupla foi reeleita em outubro e foi diplomada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) em cerimônia realizada na Cidade Judiciária na tarde de anteontem, dia 19.
As vereadoras receberam as mensagens durante a madrugada da última quarta-feira, dia 18. O endereço eletrônico do remetente foi o mesmo nos dois casos. A vereadora Paolla Miguel registrou um boletim de ocorrência na 1ª Delegacia Seccional de Campinas, por volta das 10h. No mesmo dia, por volta das 15h, Guida Calixto registrou um BO na Delegacia de Investigações Gerais (DIG), por meio da Divisão de Investigações Criminais de Campinas (Deic). As parlamentares relataram que receberam ofensas de cunho racista do autor, inclusive chamando-as de “macacas” e afirmando que deveriam abandonar os mandatos na Câmara Municipal, entre outras ofensas. A agressividade da mensagem é evidenciada em diversos trechos, como no que ele cita que tem vontade de matar as duas mulheres “sangrando-as como se sangra um porco”.
Em entrevistas concedidas ao Correio Popular, Guida Calixto e Paolla Miguel reagiram às ameaças e negaram que vão renunciar aos cargos. Elas reforçaram que essa nova ameaça não é um caso isolado. “Eu não tenho a menor dúvida que essa escalada de violência, principalmente de crimes com esse modelo cibernético, segue uma conjuntura nacional do levante de pessoas de extrema direita no Brasil. São pessoas que não toleram uma mulher negra legitimamente eleita ocupar um cargo no parlamento do município de Campinas. Então a gente lamenta muito”, desabafou Guida.
Paolla Miguel complementou a fala da colega de bancada e afirmou que esses crimes não podem ficar impunes. “Adotamos os encaminhamentos necessários, fazendo boletim de ocorrência, conversando com a Presidência da Câmara e com os órgãos de segurança. Não podemos naturalizar o que aconteceu.”
HISTÓRICO
Os vereadores negros de Campinas já sofreram ao menos outras duas ameaças de morte por meio de mensagens racistas nos últimos dois anos. O último caso de ameaças contra parlamentares negros aconteceu neste ano. Em maio, Guida Calixto e Paolla Miguel já haviam recebido uma mensagem com conteúdo racista e homofóbico, exigindo a renúncia das duas aos mandatos, que também foi enviada aos vereadores Major Jaime (União), Permínio Monteiro (PSB), Higor Diego (União) e Cecílio Santos (PT), todos vereadores negros. Um boletim de ocorrência em conjunto foi registrado na época e medidas de segurança foram adotadas pela Câmara na ocasião, como o reforço na segurança do entorno. O autor da mensagem foi identificado e preso em novembro em Jundiaí pela Polícia Civil após enviar conteúdos similares para outros parlamentares negros.
Já em 2022, durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Antifascista na Câmara de Campinas, Guida Calixto recebeu ameaças de um homem apontado na ocasião como defensor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PP). Ela era relatora da comissão. Na época, Guida registrou um BO e pediu medida protetiva.
APOIO
Em comunicado divulgado ontem, a Câmara de Campinas afirmou que repudia com veemência os atos criminosos que incitam a violência e provocam o ódio com risco à integridade física e que solicitará à Guarda Municipal e à Polícia Militar uma resposta eficaz e célere caso haja a necessidade de garantir a integridade das vítimas e das pessoas que as cercam.
A Prefeitura de Campinas declarou que o pedido será avaliado quando for realizado e que a Secretaria de Segurança Pública da cidade vai verificar se será possível atender dentro das atribuições legais da Guarda Municipal. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) pontuou que os casos ocorridos em maio deste ano e em 2022 continuam sendo investigados pela Divisão de Investigações Criminais de Campinas (Deic).
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