DEMANDA IGNORADA

PMs paulistas têm a pior assistência do Sul-Sudeste

Ao contrário de SP, outros estados da região têm planos, rede conveniada ou oferecem remoção

Luciana Félix
20/04/2013 às 07:30.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:28
Policial que foi baleado na cabeça e braço, não conseguiu leito no HC e foi transferido com ajuda da PM só após intervenção de entidade (Camila Moreira/AAN)

Policial que foi baleado na cabeça e braço, não conseguiu leito no HC e foi transferido com ajuda da PM só após intervenção de entidade (Camila Moreira/AAN)

Entre os sete estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil, São Paulo é o que oferece as piores condições de assistência médica para os policiais militares e seus familiares. A Segurança paulista não disponibiliza plano de saúde nem rede credenciada de clínicas e hospitais nos municípios para atender os 94 mil PMs e os cerca de 300 mil membros de suas famílias.

A única coisa que o Estado mais rico e desenvolvido da federação mantém é um hospital, na Capital, para casos mais graves e apenas para os policiais. Na contramão do descaso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais, por exemplo, oferecem planos de saúde para todo o efetivo policial, independentemente da cidade em que eles atuam, além de estender a assistência para seus familiares.

O Rio de Janeiro, assim como São Paulo, não possui o plano de saúde para os PMs. Porém, o Estado mantém uma ampla rede de atendimento médico, com policlínicas e hospitais credenciados em todos os municípios para atender os policiais e suas famílias, além de dois hospitais próprios da corporação. No Espírito Santo, os policiais e seus familiares que precisam de atendimento são removidos de helicóptero até um hospital militar que fica em Vitória, a capital.

A falta de uma assistência ampla e efetiva é alvo de críticas de policiais, especialistas da área e cientistas políticos consultados pelo Correio. Eles defendem uma mudança urgente dessa prática e dizem que a falta de benefícios básicos pode acarretar em queda de produtividade dos trabalhadores, que podem perder o foco por conta de problemas de saúde e até mesmo por receio. E, no caso de um PM, um desempenho ineficaz tem consequências graves: a perda do poder de enfrentamento do crime e até o risco maior de morte.

“É uma vergonha São Paulo não oferecer assistência médica decente para esses homens e mulheres que lidam com situações de extremo risco”, afirmou o cientista político e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Valeriano Costa.

Para ele a falta de uma assistência eficaz e ágil acaba sendo fator desmotivador para a atividade profissional. “O mais estranho é que o Estado é o mais rico do País. Essa deficiência causa enorme insegurança e está conectada à questão da violência. O policial precisa ser apoiado e ter confiança que vai arriscar sua vida, mas está seguro com uma assistência que funcione. E não é só questão de enfrentamento de bandido e tiro, ele tem alto risco de sofrer acidentes na sua atividade.”

O Estado tem se recusado, sistematicamente, a responder qualquer pergunta sobre o assunto. O primeiro questionamento foi feito no dia 4 de abril, junto à Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), que informou, por meio de e-mail, que não iria se pronunciar sobre o assunto, e que a assessoria da PM poderia responder. Desde então a reportagem tem procurado a assessoria de comunicação da PM, com pedido de entrevista ou declaração de alguma autoridade sobre o assunto, mas até o fechamento dessa edição nada foi respondido.

A advogada e professora de direito do trabalhador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-São Paulo) Carla Teresa Martins Romar também defende a revisão do atual cenário. “Os policiais vivem em constante risco, e sob estresse. É preciso que tenham atendimento em suas cidades, próximo de suas famílias. É comprovado que benefício é motivacional para os trabalhadores.”

Como funciona em SP

Os batalhões de polícia do Estado — em Campinas são três (8º, 35º e 47º) —possuem um oficial médico que atende todo o grupamento do setor de forma básica. Mas, quando ocorrem casos graves, o policial tem que ser atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e depois é transferido para o hospital da corporação, o Centro Médico da Polícia Militar, em São Paulo.

Porém, o hospital não atende os familiares. O único serviço disponibilizado para os familiares é chamado de Caixa Beneficente da Polícia Militar (CBPM), que é descontado da folha de pagamento (2%) do policial, e assim parentes podem utilizar o serviço do Hospital Cruz Azul.

Mas, assim como o hospital militar, fica em São Paulo. “E como faz com o policial que mora longe da capital? É um absurdo, ele tem que custear a ida até lá. E se tiver passando mal com o filho de madrugada? E os policiais que estão em tratamento que ficam longe das famílias. Nem leito para acompanhante tem. São muitos casos em que isso acontece e somos constantemente procurados por policiais que precisam de ajuda por causa dessa falha”, afirmou Adriana Borgo, presidente da Comissão dos Direitos Humanos dos Policiais de São Paulo (Afapesp).

Secretaria de Segurança silencia sobre o assunto

A reportagem tem aguardado a resposta das autoridades estaduais sobre a falta de assistência aos policiais desde 4 de abril, quando entrou em contanto pela primeira vez com a assessoria da PM, em São Paulo, e com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP).

No dia seguinte, após ser cobrada a SSP informou por e-mail enviado pela assessoria de imprensa que não iria comentar o tema e que a resposta deveria ser obtida pela assessoria da PM.

No mesmo dia, um representante do Comando de Policiamento do Interior 2 (CPI- 2), em Campinas, entrou em contato com o Correio e afirmou que a resposta aos questionamentos seria emitida por São Paulo.

A equipe tentou novamente obter uma resposta. Informaram, dessa vez, que a resposta estava em análise. Uma primeira reportagem sobre o tema foi publicada pelo Correio no domingo, dia 7 de abril. No dia seguinte, mais uma vez, a reportagem entrou em contato com a assessoria da corporação e um oficial que se identificou como capitão Nobre informou que a resposta seria emitida no dia seguinte.

Porém, mais uma vez não houve manifestação. No dia 11, a reportagem tentou contato telefônico com a assessoria, mas ninguém foi localizado e a resposta não foi dada. No dia 18, novamente a reportagem entrou em contato com a assessoria da PM e mais uma vez ouviu que a resposta estava em análise com o comando da PM. Nesta sexta-feira (19), procurada, a secretaria novamente silenciou.

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