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Plano para camelôs segue na gaveta em Campinas

Solução para comércio informal do Centro da cidade patina, com estudos parados na Prefeitura

Bruna Mozer
09/05/2013 às 07:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 17:02
Movimentação em espaço chamado de "camelódromo do fundo", afastado da área de maior movimento na região do Viaduto Cury (Rodrigo Zanotto/Especial para a AAN)

Movimentação em espaço chamado de "camelódromo do fundo", afastado da área de maior movimento na região do Viaduto Cury (Rodrigo Zanotto/Especial para a AAN)

O impasse do camelódromo de Campinas, que causou desgaste aos ex-prefeitos, segue sem avanços no governo de Jonas Donizette (PSB), que ainda não conseguiu traçar uma solução para o comércio ilegal no Centro.

O shopping popular, a única saída considerada viável até agora para retirar os cerca de 1,2 mil informais das imediações do Viaduto Cury, depende de interesse de empresários em investir no empreendimento, já que faltam verbas.

O estudo prometido por Jonas, no começo do ano, para cobrar dos vendedores a taxa de uso de solo público, também não foi finalizada e segue sem previsão. Apesar de cadastrados pela Serviços Técnicos Gerais (Setec), eles não pagam imposto pela ocupação da área.

Na mesma linha, o Ministério Público (MP) que trouxe à tona a omissão da Prefeitura em relação ao comércio irregular no Centro de Campinas em anos anteriores, também deixou o assunto de lado.

Até agora, os promotores não se reuniram com Jonas desde a sua posse. “Ainda não tivemos tempo de ver isso este ano, mas devemos conversar com o prefeito”, disse o promotor Ricardo Schade.

Durante a crise política de 2011, o MP pressionou os prefeitos, posteriormente cassados, Hélio de Oliveira Santos (PDT) e Demétrio Vilagra (PT), dando prazo para que retirassem os informais do Centro.

Uma operação especial chegou a ser feita na época para apreensão de produtos piratas e contrabandeados.

A situação de indefinição também desagrada os comerciantes que ganham a vida no camelódromo. Quase 200 deles possuem seus boxes aos fundos do complexo — entre as ruas Benedito Cavalcante e Jaime Pinheiro Ulhôa Cintra — e sofrem por estarem instalados em espaço mais afastados do movimento.

O local, conhecido como “camelódromo do fundo”, concentra uma série de problemas: fios soltos e improvisados causando riscos de incêndio, falta iluminação e perigo à noite.

As poucas lâmpadas instaladas são as que estão nas bancas. Quando fechadas, a escuridão propicia ocupação por os usuários de drogas e moradores de rua que vivem no entorno. O problema já foi mostrado pelo Correio no ano passado.

A presidente do Sindicato dos Camelôs de Campinas, Maria José Sales, afirma que a Prefeitura tem mantido contato com a categoria sobre a construção do centro comercial. “As reuniões têm sido esclarecedoras. Mas realmente falta infraestrutura e temos de esperar o shopping popular.”

Situação

Um grupo de camelôs chegou a pensar em um projeto de reforma para melhorar o visual.

Estavam dispostos a pagar pelo investimento, rateando o valor entre eles. Porém, diante da promessa de construção de um grande centro popular e de que seriam retirados dali, deixaram a ideia de lado.

A Rua Benedito Cavalcanti possui dezenas de boxes que funcionam, em sua grande maioria, como salões de beleza.

“Nós queremos que as coisas melhorem. A estrutura aqui é muito ruim, mas nada sai do papel, é só conversa”, disse a dona de um salão, Helena Silva Rosa, há 18 anos no camelódromo. Outro dono de box, Willian Cruz Rodrigues de Oliveira, lamenta a situação. “Aqui não tem espaço nem para circular uma ambulância se for preciso.”

Às moscas

Na Rua Jaime Pinheiro Ulhôa Cintra, os poucos boxes que restaram vivem às moscas e vários fecharam por causa da queda de movimento.

Quase não passam pessoas no corredor desde que um acesso direto ao Terminal Central pela Avenida Senador Saraiva foi aberto.

Por isso, a decisão do grupo é que, se o shopping popular for realmente construído, os primeiros transferidos serão os poucos camelôs que restaram na Jaime Cintra.

Esse é o caso da vendedora Conceição do Nascimento. Ela vende roupas e confecciona cachecóis e panos de prato em uma banca de pouco mais de 1 m².

Sem lucro, saiu para vender suas peças entre os ambulantes que invadem o calçadão da Rua Treze de Maio às 18h, após o fechamento das lojas. “Este ano, as vendas só estão melhores porque fui para a Treze”, disse.

Outro lado

O secretário de Relações Institucionais, Wanderley Almeida, diz que o governo tem buscado alternativas para resolver o impasse do camelódromo, mas a boa vontade esbarra na definição de projetos importantes como o BRT (Bus Rapid Transit, o ônibus rápido) e o Trem de Alta Velocidade (TAV).

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