BARÃO GERALDO

Plano de Ocupação para o HIDS foi apresentado ontem à comunidade universitária

Projeto prevê que 75% da Fazenda Argentina, localizada ao lado da Unicamp, será preservada; HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável pretende mesclar empresas, residências e amplo espaço de áreas verdes

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
04/09/2024 às 11:12.
Atualizado em 04/09/2024 às 11:12
Território preservado da Fazenda Argentina será preenchido com áreas ecológicas, de uso social, agricultura experimental e usina solar (Alessandro Torres)

Território preservado da Fazenda Argentina será preenchido com áreas ecológicas, de uso social, agricultura experimental e usina solar (Alessandro Torres)

Coordenador do HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), Roberto Donato da Silva Junior apresentou ontem o Plano de Ocupação para o HIDS Unicamp para a comunidade universitária, com diretrizes até 2050. A proposta estipula uma implantação gradual, com a primeira fase de ocupação de edificações indo de 2025 a 2030. De acordo com o projeto, 1,05 milhão de metros quadrados (m²) da Fazenda Argentina, 75% do total, será preservado, um território maior do que o Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), principal ponto de lazer de Campinas.

O espaço preservado da fazenda será preenchido com áreas ecológicas, de uso social, agricultura experimental e usina solar. A área construída ocupará os outros 25% da fazenda, o equivalente a 350 mil m². “Muito mais do que uma ocupação de solo, o HIDS é fundamental para a Unicamp”, disse o coordenador do projeto, Roberto Donato da Silva Junior, acrescentando que o novo hub será voltado para a pesquisa e desenvolvimento científico (P&D).

O HIDS será um distrito inteligente, que pretende compatibilizar a convivência de empresas de tecnologia com áreas residenciais e áreas verdes, a partir de soluções ambientalmente adequadas.O projeto prevê a sinergia entre as empresas que se instalarem no hub, universidades e instituições de pesquisas já existentes, como o CPqD, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Instituto Eldorado e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O passo inicial para efetivação do HIDS é construção da Vila das Startups, um projeto de R$ 14,77 milhões em uma área de 3 mil m² para abrigar até 60 novos negócios de base tecnológica (EBTs). A previsão é de conclusão até julho de 2026. Outros 73 projetos da Unicamp estão inscritos para se instalar na nova área. O plano de ocupação já foi aprovado pela Comissão de Planejamento Estratégico Institucional (Copei) da instituição e será submetido à deliberação do Conselho Universitário no final deste mês.

NO CENTRO

A fazenda está situada no centro do HIDS, com a área total englobando ainda a região do Ciatec II, Unicamp e a PUCCampinas. De acordo com o Donato Jr, todo projeto será baseado na sustentabilidade, características biofísicas da fazenda, os remanescentes de vegetação nativa, matas tombadas e as Áreas de Preservação Permanente (APPS). “A ideia é criar um corredor ecológico ligado à APA (Área de Preservação Ambiental) de Sousas”, disse o coordenador do HIDS.

Um estudo feito pela Unicamp para a criação do hub apontou que a área é habitada por uma grande diversidade de aves e mamíferos, como cachorro-do-mato, lontra, sagui, tatus, capivaras e onças-pardas. Somente no campus da instituição há mais de 150 espécies de plantas nativas da Mata Atlântica, além de espécies exóticas. O território tem cinco nascentes, seus respectivos córregos, APPs e ainda corredores ecológicos que conectam remanescentes de vegetação da Região Metropolitana de Campinas.

O novo projeto urbano para essa área deverá promover a ocupação inteligente e sustentável para permitir a presença do homem de forma equilibrada com a fauna e a flora. De acordo com a proposta, haverá uma área de proteção de 50 metros de largura em cada margem dos córregos e 50 metros de raio nas nascentes. As APPs e as matas tombadas passam por um processo de restauração no âmbito do projeto de Corredores Ecológicos da Unicamp.

Segundo o coordenador do projeto, as empresas que se instalarem em todo o HIDS deverão seguir essa proposta, com a instalação devendo ser aprovada pela Fundação Fórum Campinas Inovadora, formada por 14 empresas e instituições, 12 delas instaladas dentro da área definida para o hub e mais a CPFL e a Sociedade de Abastecimento e Saneamento S.A. (Sanasa). A proposta é receber a instalação de laboratórios de pesquisa, empresas de tecnologia e organismos sociais, formando um distrito de quarta geração com a integração de cinco frentes, meio ambiente, governo, universidade, sociedade e indústria. “Esperamos que a forma de ocupação que estamos propondo alavanque o HIDS e induza a implementação dos conceitos que embasam a proposta no entorno da fazenda e na cidade como um todo”, afirmou Donato Jr.

EM ANDAMENTO

A instalação de empresas no hub depende da aprovação do Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (PIDS), projeto da Prefeitura para uma área de 17,8 milhões de m², englobando o HIDS. Ele dispõe sobre o parcelamento, uso e ocupação do solo, com as mudanças definidas pelo projeto de lei complementar (PLC) nº 03/2024 em tramitação na Câmara Municipal. A proposta será analisada pela Comissão de Constituição e Legalidade (Constileg) do Legislativo na reunião programada para o próximo dia 18, o que, caso o parecer seja aprovado, abre caminho para a proposta ir para votação em plenário. O encontro estava previsto para hoje, mas foi adiado.

A Prefeitura tem a expectativa que o PLC seja aprovado nos próximos 98 dias, até o início do recesso legislativo. A última sessão ordinária será em 11 de dezembro. “A expectativa é a aprovação desse projeto ainda neste ano”, afirmou o secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano”, Marcelo Coluccini. Porém, ele ressaltou que o prazo depende da tramitação na Câmara. A votação na Constileg será a primeira análise pelos vereadores desde o encaminhamento da matéria pela Prefeitura há nove meses. Em virtude do recesso parlamentar de final de ano, o projeto foi oficialmente protocolado em fevereiro passado, início do novo ano legislativo.

O PLC 3 já teve pareceres favoráveis da Coordenadoria de Apoio às Comissões da Câmara e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU). O presidente da Comissão de Legalidade, o vereador Jorge Schneider (PL), que não é candidato à reeleição, disse acreditar na aprovação do parecer pelo grupo. “Eu acredito que seja aprovado, ele é muito bom para Campinas. Existe um prejulgamento de alguns vereadores da esquerda de que seria uma agressão ao meio ambiente, mas nada disso. Será preservado porque há leis federais (de preservação ambiental) que serão respeitadas. Apenas vai ser uma adaptação à modernidade, daquilo que precisamos para aquela região”, afirmou o parlamentar.

Apenas o HIDS tem potencial para gerar cerca 20 mil empregos e ter uma população de 40 mil pessoas, segundo o masterplan do projeto, criando uma “nova cidade” na Região Norte de Campinas. Após passar pela Constileg, a proposta será encaminhada para a primeira votação (legalidade) no plenário da Câmara. Há duas possibilidades para a entrada na pauta para avaliação dos 33 vereadores: seguir o fluxo normal de demanda da Câmara ou pedido de urgência encaminhado pela Prefeitura.

Após ocorrer a votação, o projeto segue para outras comissões internas do Legislativo, como Meio Ambiente, Administração Pública e Finanças e Orçamento. A Câmara também terá de realizar uma audiência pública para discussão da proposta antes da segunda votação (mérito). “Eu acredito que não podemos travar o município, mas temos que respeitar as leis federais de meio ambiente. Aquilo que for possível nós temos de fazer para o desenvolvimento de Campinas”, disse Jorge Schneider.

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