EM BRASÍLIA

PL reconhece Campinas como ‘Capital da Ciência, Tecnologia e Inovação’

Aprovado na Câmara Federal, projeto do deputado federal e ex-prefeito Jonas Donizette vai agora para votação no Senado

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
28/06/2024 às 08:31.
Atualizado em 28/06/2024 às 12:05
Em 2023, a Unicamp foi a primeira universidade paulista, e a terceira entre as brasileiras, em número de depósitos de pedidos de patentes, segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI): Campinas reúne alguns dos institutos de pesquisa mais importantes do país (Rodrigo Zanotto)

Em 2023, a Unicamp foi a primeira universidade paulista, e a terceira entre as brasileiras, em número de depósitos de pedidos de patentes, segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI): Campinas reúne alguns dos institutos de pesquisa mais importantes do país (Rodrigo Zanotto)

Campinas, de onde saíram invenções e criações presentes desde a mesa dos brasileiros até nos mais avançados equipamentos, foi reconhecida como Capital Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação em projeto de lei aprovado na quarta-feira (26) pela Câmara Federal, em Brasília. A ideia de conceder esse título a Campinas aparece no PL nº 3.680/2023, de autoria do deputado federal Jonas Donizette (PSB), duas vezes prefeito do município, de 2012 a 2016 e de 2017 a 2020. A proposta segue agora para votação no Senado.

“Existe hoje em Campinas o maior ecossistema nacional de pesquisa, desenvolvimento e inovação do Brasil, formado por indústrias de base tecnológica, centros de pesquisa e universidades, além de quatro parques tecnológicos nos quais mais de 120 empresas estão instaladas”, justificou o parlamentar. Na cidade estão instalados alguns dos institutos de pesquisa mais importantes do país em diversas áreas, como alimentos, telecomunicações e inovações científicas, de onde saíram projetos com fortes impactos para a economia e modernização do país.

São atores como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reconhecida como a 2ª melhor do país e entre as 235 melhores do mundo, o Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), onde está instalado o Sirius, único laboratório de luz síncrotron do Hemisfério Sul, o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), onde são desenvolvidas pesquisas em microeletrônica e software; Instituto Agronômico de Campinas (IAC), responsável por aprimoramento e desenvolvimento de novas variedades de cultura, Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), líder na América Latina em ciência aplicada em alimentos, bebidas, ingredientes e embalagens, CPqD, que atua com telecomunicações, agronegócio, indústrias, serviços de defesa e segurança, além de outras áreas, e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Territorial, agente de inovação em inteligência, gestão e monitoramento territorial para a sustentabilidade e a competitividade da agricultura nacional.

RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

A existência dos citados complexos científicos ajuda a explicar a presença local de unidades de 50 das 500 maiores empresas mundiais, criando uma simbiose entre organismos públicos e a iniciativa privada. Esse cenário levou Campinas a ser classificada, no mês passado, como a cidade da América Latina, com exceção de capitais, mais favorável para investimentos, avaliação feita pela consultoria britânica Oxford Economics, especializada em dar suporte para empresas decidirem suas estratégicas de crescimento, definir novas oportunidades e otimizar as operações. Ela avaliou os mil maiores municípios do mundo para elaborar o Global Cities Index 2024. No ranking geral, a cidade aparece na 384ª posição, sendo a 4ª no Brasil, precedida por São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. No recorte da América Latina está em 15º lugar, mas todas as cidades a sua frente são capitais.

Para se ter uma projeção da representação desse estudo, “em 2023, as 1.000 maiores cidades do mundo representavam 60% do PIB (Produto Interno Bruto) global e mais de 30% da população mundial – e a importância das cidades só continuará a crescer no futuro”, ressaltou o relatório assinado pelo diretor de Serviços Municipais da Oxford, Mark Britton. O levantamento avaliou 27 indicadores em cinco categorias – economia, capital humano, qualidade de vida, meio ambiente e governança – com base em dados oficiais, definindo uma pontuação para fazer o ranqueamento.

“Poucas cidades no mundo têm o potencial de Campinas”, disse o deputado Jonas Donizette. O parlamentar tem a intenção de concretizar o título de Capital Nacional da Ciência como presente de aniversário dos 250 anos da cidade, a ser comemorado em 14 de julho. Ele disse ontem ter feito contato com a Mesa Diretora do Senado para garantir a votação da concessão no próximo mês. “Campinas tem que se consolidar como uma cidade da tecnologia, da inovação e da ciência”, comentou o prefeito Dário Saadi (Republicanos) ao defender a importância da cidade. Para Jonas, o título destacará ainda mais o município em um momento em que o país capta novos investimentos estrangeiros em diversas áreas.

NO DNA DA CIDADE

A vocação científica e a importância econômica de Campinas fazem parte de seu DNA, algo presente já no século 19. Em 1887, pelas mãos do imperador Dom Pedro II, um grande incentivador da ciência, nascia o IAC, em uma época que a cidade era capital agrícola da província e tinha uma população de aproximadamente 41 mil habitantes. Em 137 anos, o instituto mudou o hábito alimentar do brasileiro e foi protagonista na transformação da agricultura em um das principais atividades da economia do país.

Em 1970, saiu de seus laboratórios o feijão carioquinha, hoje presente diariamente no prato de milhares de pessoas, um dos mais consumidos. Até os dias atuais, 58 novas variedades de feijão foram desenvolvidas pelo IAC, incluindo de feijão-preto, rajado, vermelho e tantos outros que atendem aos mercados interno e externo.

Os pesquisadores do órgão estadual também transformaram o Brasil em produtor e exportador de algodão e no maior produtor mundial de cana-de-açúcar. A última safra de cana atingiu o recorde de 713 milhões de toneladas, gerou o faturamento de R$ 96,9 bilhões e cerca de 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos, sendo um dos setores que mais empregam no país, além de reunir 72 mil agricultores.

Esse protagonismo avança por outras áreas. Em 1977, uma parceria entre a Unicamp e a Telebras trouxe para o Brasil a fibra óptica, com a produção nacional começando no início dos anos 1980. Mais eficiente do que o fio de cobre, ela transmite dados na forma de partículas de luz e está presente na vida das pessoas mesmo sem elas saberem. A fibra óptica é usada na transmissão da internet, telefone, televisão, redes, rádio etc.

O avanço científico em Campinas segue acelerado. Em 2023, a Unicamp foi a primeira universidade paulista, e a terceira entre as brasileiras, em número de depósitos de pedidos de patentes, segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Por meio de sua Agência de Inovação (Inova), a instituição registrou 40 depósitos dos 1.368 pedidos de patentes no Top 50 do INPI, dobrando a participação na comparação com 2022. “O reconhecimento reflete nosso compromisso contínuo com a proteção e transferência dos conhecimentos e tecnologias desenvolvidas na Unicamp. Esse marco valida o talento e a dedicação de nossa comunidade acadêmica na pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a transformação de ideias em soluções tangíveis para a sociedade. Estamos orgulhosos e motivados a continuar impulsionando o ecossistema inovador da Unicamp”, disse o diretorexecutivo associado da Inova, professor Renato Lopes.

Em construção no CNPEM, o laboratório Orion será único no mundo de biossegurança máxima (NB4) associado a estações de luz síncrotron. Previsto para ser inaugurado no final de 2026, colocará o Brasil em um novo nível em pesquisas de patologias. “Isso vai dar uma resposta ao próprio complexo industrial de saúde e salvar vidas, uma vez que a gente vai ter capacidade de ter mais autonomia tecnológica e ajudar a prevenir os impactos que podem advir dessas mudanças que estão aí e que podem acontecer. É preciso garantir que a ciência responda”, afirmou a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, em visita às obras neste mês.

O governo federal está investindo R$ 1 bilhão no Orion por meio do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “É preciso fincar cada vez mais essa posição de Campinas, que já é um centro de importação de ciência, tecnologia e inovação”, disse a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação, Adriana Flosi. Para ela, esse perfil coloca a cidade no debate e implantação da indústria 4.0, inteligência artificial, transição energética, empreendedorismo e outros temas.

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