Usuários na pista interna da Lagoa que usa caibros: muitos aprovam a mudança em nome da preservação (Kamá Ribeiro)
A pista interna Lagoa do Taquaral será pavimentada com piso intertravado (junção de peças modulares de concreto que se encaixam e travam umas às outras). Embora ainda não haja um prazo para o início da obra, o projeto já está em andamento e a justificativa é a de que o atual cascalho provoca o assoreamento da área. A confirmação foi feita pela Secretaria de Serviços Públicos ao Correio Popular.
Com um tamanho aproximado de 2,8 quilômetros, a pista interna já teve cerca de 700 metros do piso de saibro trocado por intertravado. Ele vai desde a altura da Caravela até uma área pouco depois dos pedalinhos. A obra ocorreu em 2017, e chegou a causar polêmica entre usuários do local.
O secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, explicou que, se o piso novo não for feito, em até 15 anos a lagoa estará assoreada novamente e uma nova obra, como realizada em 2016, para tirar toda a terra do local, precisará ser feita. Naquela ocasião, foram gastos cerca de R$ 5 milhões. "Se não fizermos o calçamento da pista, daqui a dez ou 15 anos vai ocorrer um novo assoreamento, exigindo novas obras que acabarão impactando a fauna e flora da área de lazer. O Ministério Público determinou a despoluição da lagoa, o que foi feito. Agora, não podemos deixar que ela fique poluída novamente", justificou.
O processo de assoreamento da lagoa aconteceu em decorrência do crescimento urbano e impacta a qualidade da vida aquática, uma vez que o processo reduz o oxigênio para os peixes. Além disso, a lagoa funciona como um piscinão e contribui com a macrodrenagem.
"Hoje, usamos um material que se chama saibro. Ao longo do tempo, a chuva carrega todo esse material e cerca de 100 caminhões trazem mais caibro todo ano. Utilizando-se o piso intertravado, o qual não usa cimento, a água consegue penetrar a terra e não acumula na superfície", explicou Paulella.
O secretário municipal de Esportes, Fernando Vanin, contou que está conversando com esportistas, professores e frequentadores da área, a fim de explicar o projeto e até mesmo receber propostas de novas ideias a serem utilizadas na pista interna. "Chamei todos para uma reunião há cerca de um mês e recebemos uma proposta de fazer metade intertravado e outra de asfalto ecológico, mas essa alternativa não dará certo. Vou marcar uma nova reunião com os corredores. O importante é manter o diálogo e conscientizar todos sobre a necessidade da mudança", disse.
Em 2016
No final de 2016, a Prefeitura de Campinas entregou as obras de desassoreamento da Lagoa do Taquaral. A intervenção começou em março daquele ano e seguiu durante nove meses de forma contínua. O Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) ficou encarregado da dragagem na lagoa e o município se responsabilizou pela remoção do material dos tanques de bota-fora e do transporte.
Foram retirados 63 mil m³ de sedimentos, cujo transporte para o aterro Delta A demandou mais de seis mil viagens de caminhões. O trabalho custou cerca de R$ 5 milhões, sendo R$ 4 milhões de recursos da Prefeitura de Campinas e quase R$ 1 milhão do governo do Estado.
Ao longo dos anos, a erosão provocada pela ocupação urbana do entorno, o aumento da movimentação de solo e as chuvas levaram o material sólido para dentro da lagoa, diminuindo a profundidade. Há cerca de 30 anos, a profundidade era de 15 metros e, atualmente, o lago tem entre um e oito metros de profundidade. "O desassoreamento viabiliza a melhor utilização dos pedalinhos. A retirada dos sedimentos e das algas proporcionou maior oxigenação da água, aumentando a sobrevivência da fauna local, como os peixes", explicou Paulella.
População aprova
A população de Campinas que frequenta o local aprovou essa futura mudança. Para as primas Simone Andrade, de 29 anos, e Vilma Andrade, de 28, a pista vai ficar mais confortável para as caminhadas. "O piso ficará melhor e quando chover a água será absorvida", opina Simone. "Eu prefiro também. Não gosto de andar na areia que tem aqui, principalmente quando estou de chinelo", completou Vilma.
O casal Saulo Marques de Melo, de 28 anos, e Adriana Gonçalves Mendes, de 30 anos, pondera que prefere a opção de ao menos metade da pista com o saibro, mas entende que o resíduo vai se acumulando na lagoa. "Se pudesse ser meio a meio, seria melhor. Mas sabemos que a lagoa vai ficando suja", comentou o Melo. "Eu acho que vai ficar agradável, porque o piso de blocos não esquenta e a lagoa continua sendo um lugar bom para se estar", finalizou a Adriana.