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Pirataria e vídeo on-line decretam o fim de locadora

100% Vídeo, que já foi uma das maiores do País, encerra atividades da loja mais tradicional de Campinas, localizada na Avenida Norte-Sul; será fechada no final do mês

Luciana Félix
21/03/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 03:18
Tibiriça, gerente da loja da Norte-Sul: unidade era referência na cidade ( Leandro Ferreira/ AAN)

Tibiriça, gerente da loja da Norte-Sul: unidade era referência na cidade ( Leandro Ferreira/ AAN)

Uma faixa amarela com os dizeres “Passo o Ponto” ao lado de outra rosa anunciando “Todos os filmes à venda a partir de R$ 1,90” chama a atenção de quem passa pela Avenida José de Souza Campos (Norte-Sul) na Nova Campinas. O imóvel que será desocupado até o final deste mês é da 100% Vídeo, uma das maiores redes de videolocadoras do Brasil, que chegou a ter 17 unidades apenas em Campinas. Delas, resta apenas uma, na Vila Marieta - cujo destino também é incerto.   O fechamento da loja da Note-Sul, que era maior da rede, indica o fim de uma era para os cinéfilos que viveram o auge das locadoras nos anos de 1990. Segundo levantamento da União Brasileira de Vídeo e Games (UBVG), entre 2003 e 2005 havia quase 14 mil locadoras no País. Em 2009, o número havia caído para 6 mil. E hoje, são menos de 2 mil. A previsão é que até 2017 todas estejam extintas.   Pirataria e filmes online   A falta de fiscalização contra a pirataria aliada ao desenvolvimento de novas tecnologias foram os principais motivos alegados para a decadência das locadoras. Ter acesso a filmes piratas - inclusive lançamentos que mal haviam estreado nos cinemas - sempre foi fácil, e ainda por cima, barato.   Quando a onda da pirataria começou, no final da década de 2000, os filmes eram de baixa qualidade, muitos gravados dentro dos próprios cinemas. “Era possível ver a cabeça das pessoas na imagem, ouvir tosses, conversas e até aplausos no final da sessão”, lembrou o cinéfilo Márcio Roberto Ignácio. Ele mesmo fã de locadoras, mesmo assim consumia também os piratas.   “Quando perdia a exibição do cinema, não aguentava esperar a chegada do filme nas locadoras e apelava para os piratas”.  Algum tempo depois, a tecnologia foi se aprimorando, com a internet mais rápida e a facilidade de “baixar” filmes em poucos minutos - também de forma pirata. De lá para cá, surgiram na internet dezenas de sites especializados nesse tipo de atividade. Muitos foram fechados pelas autoridades de diversos países - mas outros aparecem com a mesma rapidez.   Novos serviços   No ano passado o Brasil figurou em 4º lugar no ranking dos países que mais baixaram filmes ilegalmente: foram 8,7 milhões de downloads. Neste ano, deveremos passar para a vice-liderança. Pelo lado legal, a tecnologia também não ajudou as locadoras. Os serviços de streaming, que permitem alugar e assistir filmes em casa, no horário que o usuário quiser, como a Netflix, são cada vez mais comuns.   O usuário paga uma taxa mensal e tem acesso ilimitado a todo o acervo disponível da empresa, o que inclui filmes, séries, desenhos, shows e até novelas.Também aumentou muito o número de usuários de TV por assinatura - que para alguns tipos de plano também oferecem o aluguel de filmes e seriados.Nostalgia “Antigamente, alugar filmes na locadora era programa de final de semana. Recebíamos famílias, grupos de amigos e clientes que vinham sozinhos, levavam horas escolhendo um título, conversando com os atendentes para pedir dicas”, afirmou Cláudio Gomes Tibiriçá, gerente da 100% da Norte-Sul.   “Aos sábados, chegávamos a locar 2,4 mil filmes. Quando 'Titanic' foi lançado, no final dos anos 90, ainda em VHS, tínhamos 300 cópias somente nesta loja, e todas saíram. Tinha até lista de espera”, lembra. Bons tempos aqueles. Nos últimos anos, a locadora fez o que pôde para para continuar aberta. “Sempre fomos referência. Se conseguimos continuar até hoje, é porque amamos o que fazemos. Pelo lado puramente comercial, já deveríamos ter fechado há muito tempo”, afirmou.   Pouca procura   O aluguel de filmes caiu 65%, e os ganhos não sustentam mais os gastos. “Temos 160 mil clientes cadastrados, mas muito poucos ainda alugam um filme - a maioria são idosos que não sabem lidar com as novas tecnologias e continuam optando pelos DVDs”.   A locadora colocou tudo o que tem à venda - além de um acervo com cerca de 10 mil títulos, há livros, CDs, pôsteres, canecas e camisetas - tudo a preços muito baixos. “É estranho entrar aqui e ver quase tudo vazio. Dá uma certa tristeza. Vinha sempre aqui com a turma da escola pegar um filme”, diz Valéria Gomes, que estava comprava alguns filmes.  

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