Jovens e adultos com deficiência foram levados pelos jipeiros para um passeio por várias trilhas de uma área rural de Campinas, ultrapassando buracos e lugares com muito barro (Kama Ribeiro)
Uma parceria entre a ONG Pernas de Aluguel e o Clube Jeepeiros Tartaruga proporcionou um sábado diferente para 25 pessoas com deficiência (PCDs) e aos próprios donos de jipes. No sábado (30), mais de 30 carros foram colocados à disposição para que as PCDs pudessem vivenciar uma experiência off-road, com um passeio por trilhas em uma área de mata em Campinas que durou mais de três horas.
Além do passeio em si, com belas paisagens e adrenalina, a ação promoveu inclusão social em clima de companheirismo. O comboio promoveu a felicidade tanto das PCDs, que pela primeira vez estavam tendo aquela experiência, como dos jipeiros. Embora façam frequentemente ações sociais, poucas foram tão marcantes como essa.
A síntese dessa união é representada por Renato Amaral Martins Reimão, de 41 anos. Desde 2011, ele é apaixonado pela atividade e por jipe, mas em 2017 foi diagnosticado com a Doença de Huntington, conhecida como Coreia de Huntington, uma doença hereditária rara e degenerativa. Ele parou de dirigir, mas não parou de se divertir, como afirmou Paula Maria, irmã de Renato. No sábado (30), ele estava no banco do passageiro, mas sentindo a mesma adrenalina de sempre.
"Amizade é tudo. Foi muito bom. Parei de andar de jipe por causa da doença, mas hoje foi muito bom e agora quero continuar. O pessoal é bastante acolhedor", afirmou Renato. Paula explicou que, mesmo antes da doença, Renato já via o grupo de jipeiros como uma segunda família.
Anderson Maia Alves, 24 anos, estava exultante antes mesmo de terminar a primeira aventura na terra. Devido a uma complicação pós-parto, ele possui paralisia cerebral. Anderson participa do Pernas de Aluguel, mas a pista, para ele, geralmente é o asfalto. "A trilha, a vista... são emocionantes, fora as amizades que já fizemos aqui. Eu falei que quero vir mais vezes para conhecer outras trilhas, outros lugares. Não tenho palavras, apenas vivenciando mesmo para saber como é que é. E o mais importante são as pessoas. Na água, asfalto, terra, em todo lugar estamos juntos."
Pessoas de outras cidades também vieram participar do passeio. A jovem Isabelly, de 12 anos, tem uma doença que a incapacita de movimentar braços e pernas, a Tetraplegia Espástica. A menina estava acompanhada dos pais, Jedaias e Silvana, que falaram da grande ligação que ela tem com a natureza. "Isabelly veio para conhecer um pouquinho do mundo off-road e se empolgou bastante nos buracos (risos), está até suspirando de cansada. A Isabelly se integra muito com a natureza, fica mais calma, sem a agitação do dia a dia. Nós estamos gostando também, é bacana e uma experiência bem legal."
Membro do Jeepeiros Tartaruga e um dos organizadores da ação, o empresário Fernando Camargo estava bastante emocionado no retorno do passeio, antes do almoço coletivo na Lagoa do Taquaral.
"Cara... (segurando o choro)... ai, ai. É difícil. É uma gratidão imensa. É para darmos valor ao que temos. A nossa alegria, que é muita, acho que não se compara a deles. Um grupo grande participou da organização. É uma satisfação gigantesca ver todos juntos depois da pandemia, que nos afastou um pouco, e poder ajudar dessa maneira é fantástico."
Coordenador do Pernas de Aluguel em Campinas, João Eleotério explicou que a ação inclusiva desmistifica conceitos que as pessoas têm sobre limitações que não existem para as pessoas com deficiência. "Eles podem tudo, nós que ficamos receosos. A ideia é tirar a barreira. Estamos sempre tentando levá-los para algo que as pessoas não imaginam que não possam fazer. Já foi passeio de moto, agora de jipe."
Esta foi a 5ª edição do Jipe Eficiente, mas a primeira em Campinas. Se depender de todos que participaram sábado, seja do Pernas de Aluguel ou dos Jeepeiros Tartaruga, definitivamente não será a última.