ISOLAMENTO

Pesquisadores estimam vidas salvas por medidas

De 8 a 21 de maio, calcula-se mais de 4 mil pessoas no País

Francisco Lima Neto
09/05/2020 às 09:17.
Atualizado em 29/03/2022 às 12:20

Apesar das orientações dos cientistas, médicos e da Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre a importância do isolamento social para achatar a curva da transmissão do coronavírus, ondas de fake news sobre o tema, e até mesmo o comportamento de algumas autoridades públicas têm atrapalhado a conscientização da população. Para ajudar com informações e colaborar para mudança desse cenário, dois pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lançaram uma página que estima o número de vidas salvas diariamente por conta do isolamento. Segundo levantamento organizado pelo professor Paulo J. S. da Silva e pela pesquisadora Sagastizábal, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp, publicado na plataforma “Vidas salvas pelo isolamento social”, do dia 8 ao dia 21 de maio, 4.342 vidas devem ser salvas graças ao isolamento social. Somente no Estado de São Paulo seriam 3.346. Em todo o País o número alcança 4.821. As informações podem ser consultadas no link http://www.ime.unicamp.br/~pjssilva/vidas_salvas.html. Os pesquisadores utilizaram modelos epidemiológicos que já existem para estudar o comportamento de doenças que se espalham pelo ar. Basicamente um sistema de computador. "Fazendo as análises, a gente teve a ideia de comparar o cenário atual com o que estava acontecendo um pouco antes do início do isolamento social, aí o sistema prevê os próximos dias", explica Silva. A ideia é buscar identificar tendências na evolução da taxa de propagação do vírus e consequente aceleração ou desaceleração da epidemia depois do início dos protocolos de distanciamento social que foram implementados a partir de 24 de março. A dupla faz a análise de todo o País e depois especializa os resultados para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão (estado de origem do primeiro autor) e para todas as grandes regiões do Brasil. Os resultados estão baseados nos dados baixados a partir do site Observatório Covid 19. "Esses dados sofrem de clara subnotificação e assim as nossas estimativas serão também sub-estimadas. Porém, acreditamos que mesmo assim é possível ter uma ideia da evolução da epidemia e assim ser útil", afirma a dupla. Por conta da dificuldade com os dados oficiais, os pesquisadores preferiram fazer uma estimativa para apenas alguns dias no futuro, partindo dos dados atuais, a tentar manter informação sobre o total de vidas salvas até hoje. Os pesquisadores quiseram mudar a narrativa para sensibilizar as pessoas. "A gente está acostumado a ver quantas pessoas vão morrer, mas a gente quis mudar a mensagem. Ver quantas serão salvas", detalha. Conforme a dupla explica na página do levantamento, distanciamento social parece ter sido efetivo quando se considera o Brasil inteiro, mas vem perdendo força. Essa é a tendência no Sudeste, que concentra a maior parte dos casos, e também no Centro-Oeste. No Norte e Nordeste, que já possuem regiões onde o sistema de UTIs está acima da capacidade, parecem ter entendido a dimensão do problema e passaram a adotar um distanciamento mais efetivo. "Vemos que as curvas de uma forma geral foram achatadas. Mas os números de doentes ainda crescem muito. Isso sugere que é imperativo que os governos busquem alternativas de controle da epidemia para não enfrentarmos colapsos”, apontam. De acordo com o professor, o estudo não tem a capacidade de sugerir ações, mas é uma fotografia dos próximos dias. "Serve para estimular pessoas e governos a tomarem decisões, seja isolamento ou outras formas que ainda não foram encontradas para o combate à pandemia, porque os custos em vida são muito grandes", conclui Silva.

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