Estudo revela taxa de 39% de crianças com sobrepeso ou obesidade
As informações coletadas até agora envolvem cerca de 600 estudantes, de seis escolas (Rodrigo Zanotto)
O resultado parcial de uma pesquisa que investiga a qualidade nutricional dos alunos do primeiro ao nono ano que frequentam as Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs) de Campinas, realizada por meio de uma parceria entre a Unicamp, as secretarias municipais de Educação e de Saúde e a Ceasa, revela uma taxa de aproximadamente 39% de crianças com sobrepeso e/ou obesidade.
Esses números superam a média nacional para essa faixa etária, que é de 31,2%, segundo dados do Ministério da Saúde. "É uma taxa muito preocupante, elevadíssima, comprovando a relevância do trabalho", afirmou a pesquisadora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp e responsável pelo estudo, Cinthia Cazarin.
As informações coletadas até agora envolvem cerca de 600 estudantes, de seis escolas, mas a intenção é alcançar cerca de 20 mil alunos acima de 6 anos nas 46 EMEFs da cidade. O objetivo do trabalho é averiguar como está a qualidade nutricional dos alunos, compreendendo a importância da merenda escolar e os hábitos alimentares das famílias.
Os alunos identificados com sobrepeso são encaminhados para o centro de saúde mais próximo à escola, onde são monitorados por nutricionistas. Dentro das ações estão previstas também oficinas de alimentação saudável, formação para os professores sobre educação nutricional e orientações para as famílias.
O projeto começou a ser aplicado em fevereiro de 2025 e tem previsão de três anos de duração, podendo ser prorrogado. A expectativa é de que, para este ano, as visitas escolares ocorram até o mês de agosto e os dados do fechados sejam divulgados em setembro. "Depois disso, vamos avaliar quais serão as estratégicas para 2026", ressaltou Cinthia.
O objetivo é retornar às mesmas escolas para aferir se houve melhora na qualidade alimentar dos alunos avaliados e conseguir mais autorizações de entrevistas, aumentando a gama de alunos considerados na pesquisa. A avaliação do estado nutricional dos alunos é realizada por meio da antropometria, que mede o peso, altura e circunferências abdominal e dos braços das crianças.
De acordo com a Coordenadoria de Nutrição de Campinas (Conutri), este é um importante método de investigação das medidas e índices corporais que podem identificar nos alunos o risco de magreza acentuada a obesidade, crescimento estimado na relação de estatura para a idade e ainda ser utilizado como prevenção a distúrbios nutricionais.
Os alunos das escolas avaliadas recebem um comunicado sobre a realização das avaliações nutricionais e levam o documento para que os pais ou responsáveis possam autorizar que a pesquisa seja realizada com a criança. Ao acessarem o formulário online, os pais respondem a um questionário sócio econômico. Na escola, é feita a avaliação com o aluno.
Neste momento, o próprio aluno tem o direito de se recusar a fazer o procedimento. "Essa é uma questão ética para a realização de uma pesquisa acadêmica", explicou Cinthia. Caso aceite, o aluno passa pela antropometria e, em seguida, responde a um questionário que contém perguntas sobre o consumo alimentar diário e o que as crianças consumiram especificamente no dia anterior. "Essa análise já nos mostra como é o consumo alimentar dessa criança". Além disso, também existem perguntas sobre os hábitos da família, se existem no núcleo familiar doenças associadas a algum tipo de alimento. "Pode ser que no ano que vem, adicionemos novas perguntas para qualificar o questionário".
Os resultados obtidos pela pesquisa são considerados como essenciais para promover a saúde, melhorar o desempenho acadêmico e garantir que todas as crianças tenham acesso a uma alimentação adequada. Como parte de uma política pública, "ela pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável e eqüitativa", afirmou Maria Helena Antonicelli, coordenadora do Conutri.
Com relação aos objetivos da pesquisa enquanto instrumento de promoção de políticas públicas, Maria Helena, explicou pontos importantes. Entre eles, estão a promoção da saúde,a integração com outras políticas públicas e o desempenho acadêmico.
Segundo Cinthia, os dados são diretamente cadastrados no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) ligado ao SUS, "com isso também teremos um panorama do município dentro do cenário nacional". As avaliações, na visão da pesquisadora, são importantes também para consolidar dados referentes ao território em torno da escola. "Porque a criança normalmente mora próxima à instituição de ensino", portanto, a partir das informações coletadas será possível aferir qual é o comportamento alimentar das crianças e de suas respectivas famílias naquele local específico.
A reportagem do Correio Popular visitou a EMEF Virgínia Mendes Antunes de Vasconcellos, no bairro Jardim Maria Rosa, local onde duas nutricionistas do CEASA estavam realizando as avaliações nutricionais. A diretora Lieko Sakamori, comentou que a escola faz parte importante da vivência das crianças, afetando seu entendimento sobre o mundo, por isso ela afirmou que os hábitos apreendidos na instituição podem influenciar nos hábitos das famílias, portanto Lieko compreende que o aprofundamento dos dados a partir das avaliações, é muito importante para todas as comunidades escolares envolvidas. "Assim vamos entender como de fato está a saúde alimentar de nossas crianças".
Lieko reforçou a importância da alimentação oferecida pela própria escola, composta por lanche e refeição balanceada, composta por salada, fruta, proteína e carboidratos, destacando que as crianças não podem levar alimentos de casa. "Sabemos que elas consomem muitos salgadinhos, bolachas e ultraprocessados que não permitimos na escola". Com esse tipo de regra, ela já constatou que muitos alunos que não tinham o hábito de comer ao menos uma fruta por dia, agora já se acostumaram. Portanto, Lieko entende que com o trabalho de pesquisa consolidado, "poderemos conscientizar outros pais e crianças a mudarem seus hábitos alimentares".
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