Coletivo tinha o sistema de freios e suspensão em ordem e os pneus estavam em bom estado
Polícia Civil fez a perícia no ônibus que caiu do viaduto em Campinas (César Rodrigues/AAN)
A perícia complementar realizada nesta segunda-feira (29) pelo Instituto de Criminalística (IC) no ônibus articulado que despencou do Viaduto Miguel Vicente Cury no último dia 23, em Campinas, indica que o veículo não tinha problemas mecânicos. Na análise preliminar conduzida pela perita Ângela Sampaio de Mara, o ônibus tinha o sistema de freios e suspensão em ordem e os pneus estavam em bom estado. Ela disse ainda acreditar que o circular trafegava a uma velocidade inferior a 60 quilômetros por hora. O ônibus, que está dividido em duas partes em uma das garagens da VB Transportes Turismo, foi fotografado durante a tarde e ficará disponível e intacto para novas avaliações, caso necessário. Durante os trabalhos, o veículo danificado foi comparado a um ônibus articulado de mesmo modelo em perfeitas condições, estacionado na garagem. Ângela e o fotógrafo do IC foram acompanhados por um mecânico da empresa, que tirava dúvidas em relação à mecânica do carro. A análise durou aproximadamente duas horas. O tacógrafo do ônibus, aparelho que mede o tempo de uso, a distância percorrida e a velocidade que o veículo desenvolveu, será periciado separadamente ainda esta semana. Ela irá analisar também as imagens da Central Integrada de Monitoramento de Campinas (Cincamp) antes de fazer o laudo final, que deve sair até o final de agosto.'Vou juntar todo material que tenho e aplicar fórmulas físicas e matemáticas antes de fazer o laudo. Também não descarto nova perícia no local do acidente, com o veículo em movimento. Mas isso só será feito se não chegarmos a conclusões em 30 dias. A perícia de hoje foi satisfatória, consegui elementos importantes", explicou. Segundo Ângela, a chuva é um fator determinante no acidente, que não tem como ser simulada. A perita afirmou que é possível que o veículo tenha perdido contato com o solo por causa de um lâmina de água. "Estava chovendo muito. Eu, por exemplo, tive muita dificuldade em fazer a perícia e as fotos no dia, por causa do volume de água."Para fazer uma simulação com o ônibus em movimento, a perita disse que seria necessário colocar pessoas dentro do carro. "Vamos ter que montar uma estrutura grande para isso. Por esse motivo, a simulação será feita somente se não chegarmos a uma conclusão" . Essa foi a terceira perícia feita desde a tragédia. No domingo, Ângela afirmou que o ônibus caiu de uma altura de 3,98 metros. A assessoria de imprensa da VB Transporte informou que só irá comentar o assunto depois de o laudo ser apresentado oficialmente. As vítimas do acidente começaram a ser convocadas no dia 26 para prestar depoimentos, de acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). Parte das vítimas não teve o telefone registrado no boletim de ocorrência e, por isso, será necessário mais tempo para que sejam colhidos os relatos de todos os envolvidos, segundo a pasta. O motorista e a cobradora do coletivo, além de policiais militares que atenderam a ocorrência, já prestaram depoimentos. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial como homicídio culposo e lesão. FalhaO relatório elaborado pela Secretaria de Serviços Públicos de Campinas e entregue para a Secretaria de Infraestrutura em janeiro de 2013 apontava que o guard-rail do Viaduto Cury não estava em condições de segurança para suportar o tráfego de 60 mil veículos por dia que o lugar recebe. A obra, há 50 anos, foi projetada para receber 20 mil veículos/dia. "Na época da reforma do viaduto passamos para a Secretaria de Infraestrutura um relatório com os problemas estruturais no viaduto e pedimos reparos na estrutura da construção", afirmou o secretário de Serviços Públicos Ernesto Paulella. O documento indicava ainda a necessidade de reformas na estrutura da construção, como corrigir ferragens aparentes nas vigas que dão sustentação ao viaduto. O acidenteO acidente com o ônibus articulado matou o porteiro José Antônio da Silva, de 45 anos, e 19 pessoas ficaram feridas. A tragédia ocorreu às 5h31 de terça-feira (23) e causou muito pânico entre os 40 passageiros da linha 1.17 (DIC- Rótula), que fazia a primeira viagem do dia.O coletivo se partiu ao meio e caiu sobre um carro estacionado na rua Cônego Cipião, bem em frente à entrada do Terminal Central, um dos locais mais movimentados do Centro da cidade. O porteiro foi arremessado para fora do veículo durante a queda e teve morte instantânea.