TORTURA

Perícia constata crueldade contra menino do tambor

Segundo o perito criminal, Eduardo Beaker, com essa observação técnica é possível materializar a conduta criminosa do pai, da madrasta e da irmã de criação

Da Redação
10/02/2021 às 12:13.
Atualizado em 22/03/2022 às 04:14
P?s inchados do menino de 11 anos que estava acorrentado e em p? no barril por, no m?nimo, dias (Importação)

P?s inchados do menino de 11 anos que estava acorrentado e em p? no barril por, no m?nimo, dias (Importação)

Nenhuma tragédia natural pode ser comparada com a crueldade humana, quando se observa os detalhes técnicos apontados pelo laudo pericial da superintendência da Polícia Técnico Científica do Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo, realizado na casa em que o menino de 11 anos foi encontrado pela Polícia Militar dentro de um tambor no último dia 30, em situações de maus tratos em Campinas.

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O caso que comoveu o País torna-se ainda mais chocante quando se observa os detalhes crueis constatado pelos peritos. Além de ficar preso por uma corrente e cadeado dentro de um tambor de cerca de 30 centímetros de diâmetro, era coberto por uma manta sob o sol escaldante e com limitação de ar. Ironicamente, há poucos metros de onde o menino padecia naquele tambor fétido, três casinhas de cachorro abrigavam vasilhas cheias de comida e água limpa, e até um ventilador virado para uma delas.

Em uma região de forte calor, no bairro Jardim Itatiaia, periferia de Campinas, onde ele foi encontrado, o trabalho da perícia detectou ainda ventiladores espalhados pelos cômodos da casa, formada por sala, cozinha, banheiro, dois quartos e garagem.

No interior do tambor, foi constatado a presença de cascas de banana enegressidas, uma colher e vestígios de fezes, o que aponta para o fato da criança ser alimentada dentro do barril.

Ainda segundo o laudo da perícia técnica, se não bastasse o cuidado com os animais, a geladeira da cozinha da casa estava abarrotada de comida, dificultando até a circulação de ar interna, na análise da perícia. Foram encontrados ainda cestas básicas estocadas na sala e em um dos quartos.

No local moravam pai, esposa e uma jovem de 22 anos, todos presos suspeitos do crime de maus tratos e tortura contra o menor. Em um dos quartos havia uma cama beliche e colchões. Na sala da casa, os peritos observaram ainda brinquedos e peças de roupas infantis espalhadas e de tamanho menor do que a do menino, encontrado nu.

Pacotes de fralda também foram encontrados, o que indicava que o local era frequentado por outras crianças, inclusive bebês. Outros colchões também foram encontrados empilhados na sala, que tinha, inclusive, uma TV de led fixada na parede e um video game do tipo Xbox.

Na cozinha da casa havia uma cafeteira de cápsulas e outros eletrodomésticos como, batedeiras, microondas, fogão e panelas.

Segundo o perito criminal e presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (Sinpcresp), Eduardo Becker, o trabalho técnico evidencia detalhes importantes para a apuração criminal. "Com essa observação técnica do local do fato é possível materializar a conduta criminosa do pai, da madrasta e da irmã de criação do menino. Com um scaner 3D, seria possível reconstituir exatamente as condições e o ambiente que o menino era sujeitado a ficar", disse.

Becker explica no entanto, que na ocasião da realização do laudo, um dia após o menino ser encontrado pela Polícia Militar, não havia como trazer o equipamento para Campinas.

Ainda conforme o laudo, no corredor lateral que levava ao fundo da casa, onde o tambor com o menino foi localizado, num espaço muito pequeno foi encontrado bitucas de cigarro, algumas com marca de baton, o que indica que o local era frequentado por outras pessoas.

Para ocultar a vista de vizinhos, uma manta era jogada entre a telha e o tambor numa nítida intenção de impedir que outras pessoas vissem o ocorrido.

A descoberta de um parafuso acoplado no fundo do tambor, para fixar a corrente presa à criança, evidencia que o local foi previamente preparado para servir de cativeiro. Segundo informações da perícia, a corrente servia para evitar uma possível fuga, limitando a livre locomoção. Ou seja, se a criança tentasse sair do tambor arrastaria o objeto junto.

Segundo o perito, os detalhes do local não justificam o fato dos pais deixarem a criança fora da casa, sem comida e naquelas condições. "Esperamos que esse trabalho de riqueza de detalhes auxilie no decorrer da investigação e que ampare a decisão da Justiça a formar a sua convicção nesse caso", completa Becker.

O inquérito segue com a Polícia Civil, e tão logo seja concluído será encaminhado para o Ministério Público que oferecerá ou não a denúncia contra os três suspeitos, que seguem todos presos.

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