Vereadores alegam insatisfação com diretório; partido fica sem representantes no Legislativo
O vereador Cid Ferreira: "A verdade é que o PMDB, enquanto o Orestes Quércia era vivo, era outro" ( Cedoc/RAC)
Um dos partidos com maior representatividade na Câmara de Campinas nos últimos anos sofreu um “apagão” após a saída dos dois únicos vereadores da legenda esta semana. O PMDB perdeu os parlamentares José Carlos Silva e Cid Ferreira para o Solidariedade, nova sigla encabeçada pelo deputado federal e líder sindical Paulinho da Força, e viu sua bancada ser extinta neste mandato. Pela primeira vez, o partido fica sem representantes no Legislativo campineiro. Os dois últimos peemedebistas se aliaram ao ex-presidente do diretório do PMDB Dário Saadi em busca do que chamaram de “independência” e crescimento político. Hoje Saadi é o presidente do Solidariedade. Foto: Cedoc/RAC O parlamentar José Carlos trabalha na articulação para conquistar novos filiados para o Solidariedade A demora na eleição do novo comandante da sigla, aliada a interesses eleitorais de seus filiados, motivaram a debandada. O Solidariedade nasce com três vereadores, já que Tico Costa (ex-PP) também optou pela nova legenda. O partido tem, inclusive, participação no governo do prefeito Jonas Donizette (PSB), com a presença do secretário de Trabalho e Renda, Jaírson Canário. Expulso do PT no primeiro semestre por infidelidade, Canário deve se filiar hoje ao Solidariedade.O presidente do PMDB, Fernando Garnero, não fala em esvaziamento do partido e, sim, em ganhos e fortalecimento da legenda. Apesar da desfiliação tardia, a crise dentro do PMDB não é nova e passou a ficar ainda mais evidente após a Executiva estadual optar por Garnero para comandar o partido na cidade. O empresário mantém relações próximas na esfera estadual e nacional do partido e chegou a ser cotado para se lançar candidato a prefeito em 2012 na eleição indireta feita por vereadores, após a cassação dos prefeitos Hélio de Oliveira Santos (PDT) e Demétrio Vilagra (PT). Mais tarde o partido desistiu da ideia e apoiou o então vereador Pedro Serafim (PDT), vitorioso no pleito.Nos bastidores, o que se comentou é que a bancada do PMDB na Câmara pleiteava o comando da legenda, de forma definitiva, para ter autonomia em relação à confecção das candidaturas para 2014 em busca de vagas na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. O próprio Zé Carlos chegou a declarar na época que tinha interesse na presidência. Com o partido nas mãos de Garnero, e de forma provisória, os ex-peemedebistas alegam que recebiam pouco apoio e não tinham autonomia para suas decisões, já que dependiam das orientações estaduais.Outro golpe para o PMDB foi a decisão equivocada na eleição municipal do ano passado. O partido se aliou novamente a Serafim na corrida eleitoral de outubro, mas ele não conseguiu chegar ao segundo turno. A legenda, inclusive, colocou Saadi na disputa como vice, mas por problemas com a Lei da Ficha Limpa, ele foi obrigado a retirar sua candidatura. Na segunda fase da disputa, a legenda decidiu apoiar Márcio Pochmann (PT), que também saiu derrotado. Aliados somente após a vitória de Jonas, os peemedebistas ficaram sem cargos no primeiro escalão e com um número reduzido de vagas no Executivo, o que limitou os trabalhos na criação de uma vitrine para 2014.Com pouco mais de dois anos de PMDB, Saadi deixa a legenda sob a justificativa de que o comando provisório do partido prejudicou a militância na cidade. Como novo chefe do Solidariedade, ele espera agora autonomia para as decisões sobre coligações e candidaturas. Saadi deixou o DEM em 2011 para integrar o PMDB. Antes disso, o ex-vereador vestia a camisa do PSDB.Para conseguir angariar os peemedebistas, Saadi contou com a ajuda de Zé Carlos, que trabalha na articulação para conquistar novos adeptos. O parlamentar deixou o PDT em 2011 para se filiar ao PMDB. Desde o início do mandato, o vereador se mostrava descontente com as decisões estaduais do partido. Na Câmara, Zé Carlos adotava uma postura independente em relação ao governo devido à ínfima participação do partido na gestão e chegou, inclusive, a cogitar a saída da base governista no fim do primeiro semestre. Ele conseguiu também fazer com que Cid Ferreira se desligasse da legenda. Em coletiva na terça-feira (23) para falar sobre a saída do partido, Cid afirmou que o compromisso do Solidariedade é ter um candidato próprio nas próximas eleições municipais. “No PMDB não era possível sequer decidir isso por aqui. A verdade é que o PMDB, enquanto o Orestes Quércia era vivo, era outro”, disse o vereador.