Dados do Ministério da Saúde mostram cidade como a mais bem avaliada entre as 20 da RMC; Administração atribui sucesso ao “Programa Saúde da Família”
Previne Brasil avaliou a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários da rede municipal de saúde em áreas como atendimento a hipertensos e diabéticos, vacinação, saúde da mulher e cuidado pré-natal; a rede pública de Pedreira realiza, em média, 90 mil atendimentos por mês e todas as UBSs contam com atendimento odontológico (Rodrigo Zanotto)
Pedreira é primeira colocada na Região Metropolitana de Campinas (RMC) no ranking do Programa Previne Brasil, que avalia as ações desenvolvidas na atenção primária à saúde. Conhecido como “Capital da porcelana”, o município de 43.112 habitantes obteve a nota 9,44 e marcou 618,11 pontos, de acordo com o eSUS do Ministério da Saúde. O programa avaliou a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários pela rede pública municipal por meio de sete indicadores que fornecem uma visão geral do desempenho do sistema de saúde. São áreas como atendimento de hipertensos e de diabéticos, vacinação, saúde da mulher e cuidado pré-natal.
A nota é calculada a partir dos indicadores, que mensuram o desempenho do município com base nos dados registrados no Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (Sisab) a cada quadrimestre. Na RMC, as cinco primeiras colocações no ranking são completadas por Itatiba (nota 8,79), Holambra (8,75), Nova Odessa (8,58) e Jaguariúna (8,44). O cálculo feito pelo governo federal leva em consideração nove critérios: disponibilidade, simplicidade, granularidade (tratamento e gestão de dados), periodicidade, baixo custo de obtenção, adaptabilidade, estabilidade, rastreabilidade e representatividade dos dados utilizados no cálculo.
A secretária de Saúde de Pedreira, Ana Lúcia Nieri Goulart, atribuiu a colocação da cidade ao Programa Saúde da Família, com agentes comunitário da saúde indo até as casas das pessoas e fazendo um controle corpo-a-corpo no atendimento primário à saúde, incluindo comparecimento a consultas, vacinação, controle do tratamento e outras atividades, tendo autonomia para levar pedidos de exame, agendar atendimentos e até entregar medicamentos de alto custo.´“O Saúde da Família cobre 90% da população”, explicou a secretária que está há 20 anos no cargo.
COMO FUNCIONA
De acordo com Ana Lúcia, que também é administradora de empresa com pós-graduação em saúde pública e desde os 13 anos de idade trabalha nessa área, o programa está implantado em todas as 11 unidades básicas de saúde (UBSs) do município. O trabalho sendo realizado por 44 agentes de saúde, cada um responsável por atender de 750 a mil moradores na área de cobertura da UBS onde atua. Em Pedreira, a primeira equipe foi implantada há 29 anos, em 1995, e oferece um atendimento quase personalizado. Os agentes têm acesso às informações do prontuário eletrônico dos pacientes necessárias para desenvolver o trabalho. “Nós conhecemos cada pessoa, quando elas têm exames ou consultas agendadas. Quando se trata de um idoso, por exemplo, nós comunicamos também um filho ou parente próximo para ajudar nesse acompanhamento”, destacou Vagner Gustavo Marcondes, na função há 16 anos. Ele trabalha na UBS Edgardo Luís Steula, na Vila Canesso, e também utiliza telefonemas e recados via aplicativo de mensagens para avisar os pacientes quando eles não são encontrados.
A professora Roseli Viotto Conte opinou que o trabalho desenvolvido pelos agentes “é muito importante para nós que trabalhamos. Nos ajuda no cuidado com a saúde e no lembra da necessidade de fazer exames, como papanicolau e mamografia”. Moradora há 32 anos na Vila Canesso, ela é usuária da rede pública de saúde, assim como o sogro e a sogra de 93 e 92 anos, respectivamente. “Os agentes ajudam a cuidar da saúde deles. O meu sogro tem dificuldade de locomoção, usa andador. Quando ele tem de ir ao posto, a médica até o atende em outra sala próximo à entrada para facilitar.”
RESULTADOS
Todo esse trabalho tem resultado em um tratamento mais humanizado. Ontem, por volta das 11 horas, a UBS Edgardo Steula não tinha fila de espera. As últimas consultas estavam no fim. É um cenário bem diferente da rede municipal de outras cidades, onde os usuários aguardam horas seguidas por atendimento e lotam a sala de espera. “Falta algum remédio de vez em quando, mas normalmente é por atraso no envio pelo governo (estadual ou federal), não por culpa da Prefeitura”, justificou a professora.
“Esse trabalho acaba criando uma ligação entre o agente de saúde e o paciente, resultando em melhor qualidade de vida e no cuidado com a saúde”, ponderou a coordenadora da UBS da Vila Canesso, a enfermeira Angélica Bragiato Rodrigues. O acompanhamento no tratamento feito pelas equipes inclui até mesmo as ocasiões em que o paciente faz uso da rede particular, como os convênios de saúde. “A secretária de Saúde, a Ana Lúcia, mora na minha área de cobertura e já liguei para ela para saber ser tinham feito um exame periódico que estava na época de fazer”, explicou a agente de saúde Rosângela Fátima Lima.
A rede municipal de saúde de Pedreira realiza, em média, 90 mil atendimentos por mês e todas as UBSs contam com atendimento odontológico. O Programa Previne Brasil completou cinco anos ontem (12 de novembro) e foi criado com o objetivo de ser um novo modelo de financiamento dos serviços de saúde, alterando algumas formas de repasse do governo federal para os municípios, com a distribuição baseada em três critérios, a capitação ponderada, pagamento por desempenho e incentivo para ações estratégicas.
A proposta tem como princípio a estruturação de um modelo de financiamento focado em aumentar o acesso das pessoas aos serviços da atenção primária e o vínculo entre população e equipe, com base em mecanismos que induzem à responsabilização dos gestores e dos profissionais pelas pessoas que assistem, definiu o Ministério da Saúde. “O Previne Brasil equilibra valores financeiros per capita referentes à população efetivamente cadastrada nas equipes de Saúde da Família (eSF) e de Atenção Primária (eAP), com o grau de desempenho assistencial das equipes somado a incentivos específicos, como ampliação do horário de atendimento (Programa Saúde na Hora), equipes de saúde bucal, informatização (Informatiza APS), equipes de consultório na rua, equipes que estão como campo de prática para formação de residentes na APS, entre outros tantos programas”, informou a Pasta.
OUTRAS CIDADES
“Esses resultados são fruto do empenho e dedicação dos profissionais da saúde de nossa rede, além das políticas públicas eficazes adotadas nos últimos anos”, disse o diretor de Saúde de Holambra, Valmir Marcelo Iglecias. Na terceira colocação entre as cidades da RMC, o município marcou 492,71 pontos no ranking do e SUS. Jaguariúna, que ficou em 5º lugar, ampliou no final do mês passado as equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Desde o dia 29 de outubro, todas as 11 UBSs da cidade passaram a contar com esses grupos.
Ao todo, foram credenciados pelo Ministério da Saúde 17 grupos em substituição aos de Atenção Primária existentes anteriormente, com algumas unidades básicas contando com mais de um. A cidade também ampliou o número de UBSs, com unidades em fase final de construção nos bairros Bom Jardim, Nassif e Vargeão. Uma quarta nova será construída no Jardim Primavera, totalizando 15 unidades de atendimento.
“O aumento da rede municipal de saúde, com novas equipes e unidades, reflete o compromisso da Prefeitura de Jaguariúna em promover uma saúde pública de qualidade, acessível e integral, e mostra a dedicação em oferecer aos munícipes um sistema de saúde cada vez mais próximo, resolutivo e eficiente”, afirmou a Secretaria Municipal de Saúde. Na RMC, a última colocação no ranking ficou com Artur Nogueira, com nota 3,93.
Em nota, a Administração divulgou que “puxando direto no portal do SISAB, os indicadores estão diferentes”, mas não entrou em detalhes.
A consulta ao painel revelou que o melhor indicador da cidade foi a cobertura de vacinação contra poliomielite e pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae B), com 89%. A cidade registrou ainda 46% das mulheres com seis consultas de pré-natal e 30% das gestantes com atendimento de saúde bucal. Por outro lado, o controle da hipertensão por pressão aferida foi de 20%, a cobertura de rastreamento de câncer do colo de útero foi de 17% e a realização de exames de hemoglobina glicada para identificação de diabetes aconteceu em apenas 7% dos casos.