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Pedágio da discórdia isola bairros de Paulínia e Cosmópolis

Cobrança da taxa para se deslocar nos limites dos municípios causa indignação em moradores

Luciana Félix
06/07/2013 às 14:45.
Atualizado em 25/04/2022 às 10:19

Os violentos protestos registrados na praça de pedágio entre Paulínia e Cosmópolis, no Km 135 da Rodovia Professor Zeferino Vaz, e que na última quarta-feira terminaram com a destruição do local, começaram com a indignação de moradores e trabalhadores do entorno com os valores cobrados. A tarifa é de R$ 6,20 (carro) e R$ 3,10 (motocicletas) em cada um dos sentidos. Porém, a fúria dos manifestantes também se estendeu à cobrança feita em uma outra praça localizada a cerca de três quilômetros dali, no Km 132,5 da mesma rodovia. Lá o valor cobrado é bem maior, R$ 8,60 (carro) e R$ 4,30 (motocicletas).

Os manifestantes querem a isenção do valor para placas desses municípios nesses pontos. Eles alegam que os pedágios deixaram bairros ilhados e obrigaram moradores de chácaras e áreas mais afastadas a pagarem tarifas até quando vão ao supermercado ou à farmácia, dentro da própria cidade.

Os moradores afirmam também que a tarifação aumentou o custo de vida de grande parte da população que mora em Cosmópolis e trabalha em Paulínia ou em Campinas, que gastam diariamente R$ 12,40. Trabalhadores da Refinaria da Petrobrás (Replan), por exemplo, que fica às margens da rodovia, em Paulínia, são obrigados a pagar o valor total para percorrer apenas 14 quilômetros.

A cobrança nos dois pedágios começou a ser feita em 2009. Além de ações na Justiça contra a cobrança em pontos próximos, muitos moradores, trabalhadores e comerciantes já fizeram protestos na rodovia. Porém, nada mudou. Há quatro anos a tarifa no pedágio do Km 135 custava R$ 2,50.

Bairros isolados

A implantação do pedágio no Km 132,5 (Paulínia) que fica no retorno à Campinas e dá acesso ao bairro Cascata é um dos principais problemas e um dos grandes abusos apontados pelos moradores de Paulínia. O bairro, que tem acesso único pela pista, fica isolado do próprio município e desde que foi instalado os comerciantes somaram prejuízos e até mesmo falência porque as pessoas evitam entrar no local, já que são obrigadas a pagar R$ 8,60.

No ano passado a Prefeitura, em acordo com a Concessionária Rota das Bandeiras, responsável pelo trecho, criou uma isenção parcial para os cerca de cem moradores do local. Passou a distribuir vale-pedágio para as famílias. Porém, os 30 tíquetes distribuídos, para a maioria das famílias, não dura 20 dias no mês. “A gente economiza na comida, nas saídas e em tudo. Aqui estamos ilhados e esquecidos. Quando vamos ao supermercado sempre fazemos as contas para sobrar dinheiro pro pedágio. É duro, mas é a pura realidade”, afirmou a aposentada Adinair Scardea, de 67 anos.

“Para quem precisa levar e buscar os filhos na escola fica bem mais difícil. Imagina. São quatro viagens. O jeito é ir de ônibus circular que também tem horário limitado e ficar o dia todo na cidade para voltar pra casa e economizar”, afirmou outra moradora do local, Aryadnes Pinheiro, de 21 anos. Ela afirmou que um vizinho desistiu de trabalhar em um bairro próximo por causa da cobrança. “Ele viu que pagaria para trabalhar. Pagamos impostos e somos esquecidos”, disse.

A auxiliar administrativa Eliane Moreno também recebe os vales da Prefeitura e afirmou que sempre tem que gastar no mínimo R$ 100,00 para completar a doação e voltar para casa. “Meu marido, que trabalha como pedreiro, sempre avalia se vale a pena pegar algum emprego na cidade. Às vezes não compensa porque vai gastar muito e os vales não dão conta de nós dois”, afirmou a mulher.

“É um abuso, é um absurdo. Eles simplesmente nos tiraram o direito de ir e vir em nossa própria cidade. Hoje é a quarta vez que passo pelo pedágio para vim ver minha mãe. É uma falta de respeito com todo mundo”, afirmou a também dona de casa Andréia Moreno. O aposentado José Luis Furlan possui uma chácara no local e sempre que resolve passar o final de semana no bairro leva tudo. “Se esquecer, deixa porque ninguém vai gastar com pedágio para ir buscar qualquer coisa. Acho isso um abuso contra as pessoas”, disse.

A dificuldade não é apenas dos moradores do bairro. Trabalhadores da Replan reclamam do custo de ter que irem trabalhar e pagar para passar. “Funcionários foram para o protesto. Sei que eles exageraram, mas estamos cansados com toda essa cobrança de anos. Ninguém aguenta mais só ser cobrado”, disse M.O.

Cosmópolis isolada

O município de Cosmópolis viveu na quarta-feira um dia de fúria de manifestantes que, após destruírem o pedágio da Rodovia Professor Zeferino Vaz, foram para a cidade e protagonizaram cenas de terror e corre-corre no pacato município. Os manifestantes, cerca de 300, entraram em confronto com a Tropa de Choque da Polícia Militar (PM) e atearam fogo em dois ônibus. Eles também depredaram a prefeitura da cidade. “Tem que manifestar, mas exageraram. Nossa cidade sofre com o pedágio porque é muito caro ir para Paulínia ou para Campinas, mas as pessoas exageraram nos atos”, afirmou Maria Alice Garneiro. Para o estudante Felipe Soares a explicação para a fúria das pessoas é explicada pela falta de alguém ouvir a população.

“Estamos cercados por dois pedágios e o desenvolvimento passando do outro lado”, afirmou o secretário de Gabinete de Cosmópolis, Luciano Ferreira Durães.

Por meio de assessoria de imprensa, a Rota das Bandeiras informou que todas as políticas para o setor são definidas pelo Governo do Estado, por meio da Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp). Ou seja, os locais onde serão implantados os pedágios e o valor da cobrança são definidos pelo Estado. A reportagem entrou em contato com a agência, porém, ninguém foi encontrado na noite de sexta (5).

A concessionária também informou que sua seguradora fará uma perícia no local para avaliar se houve danos estruturais na praça. Somente após a conclusão dessa perícia será possível definir uma data para a retomada das atividades. E que após a destruição do pedágio suspendeu o diálogo com os organizadores da manifestação.

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